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José Adelino Maltez: "A revolução [de Abril] foi um desrespeito total ao programa do MFA"
O politólogo frisa que foi sendo criada uma "narrativa" sobre a evolução da história política em Portugal e que "a esquerda tem aproveitado muito da deseducação da direita".
"Um país que não tinha quase opções políticas de repente passou a ser furioso militante de Mário Soares, Sá Carneiro e Freitas do Amaral", recorda o também professor universitário jubilado, frisando que "os partidos que vão triunfar [no pós-revolução], por acaso, ou estavam no governo provisório ou estavam no conselho de Estado".
Os partidos políticos "eram todos postos de cima para baixo e a partir do governo foram consquistando a sociedade civil", descreve.
Para o polítólogo, "a revolução é uma fraude e um desrespeito total ao programa do Movimento das Forças Armadas (MFA)". "Valeram-nos as eleições para a Constituinte que equilibraram as coisas", diz, "mas teve de haver um 25 de Novembro para cumprir o programa do MFA e das respetivas eleições e isso foi doloroso na fase mais dolorosa do PREC".
José Adelino Maltez vai mais longe na forma como os portugueses, em particular a esquerda, foram criando "uma narrativa" sobre a revolução.
"Se eu disser às criancinhas que o Estado Social foi um liberal que o propôs - , o senhor Bereridge -, fica tudo a olhar para mim, porque nós estabelecemos uma narrativa a dizer que o Estado Social foi estabelecido por Estaline, Trotsky e Lenine. Nada. O Estado Social é uma criação dos modelos de uma sociedade de democracia pluralista até com uma síntese feita por um liberal. Dizer isto em Portugal é uma heresia porque há uma deseducação total da sociedade", sublinha.
No entender do docente universitário, "a esquerda tem aproveitado muito da deseducação da direita" nesta matéria e "tem de se rever este rumo e chamar os bois pelos nomes".
O que são as Conversas Visíveis?
As Conversas Visíveis são um novo projeto que é complementar da Mão Visível, o espaço de opinião que junta Álvaro Nascimento, António Nogueira Leite, Joaquim Aguiar, Jorge Marrão e Paulo Carmona. A cada quinze dias, dois destes colunistas vão conduzir um entrevistado pelos "mistérios da estrada da democracia em Portugal".
As Conversas Visíveis procuram identificar o que está na sombra da política, o que se esconde nos discursos e nas decisões, mas que acabará sempre por se revelar na realidade efetiva das coisas. O compromisso assumido pela equipa da Mão Visível é o de que irá falar sobre as sombras e os mistérios da democracia portuguesa, onde se escondem os fatores que geram endividamento sem estimularem crescimento, onde se agravam as desigualdades sociais e onde persiste o crescimento da despesa pública e da expansão de funções do Estado.