Notícia
Futuro de Joe Biden na Presidência dos EUA 'nublado' por economia e aborto
A taxa de inflação acima dos 8%, a ameaça de uma recessão, a resposta tépida dos Democratas à revogação do direito ao aborto pelo Supremo Tribunal e a baixa popularidade são alguns dos argumentos de quem defende que Biden não se deve recandidatar.
10 de Julho de 2022 às 09:43
Altos responsáveis do Partido Democrata estão a apelar a que Joe Biden não se recandidate à presidência norte-americana em 2024, numa altura em que a sua taxa de aprovação é a pior desde que foi eleito, apenas 38,6%.
A taxa de inflação acima dos 8%, a ameaça de uma recessão, a resposta tépida dos Democratas à revogação do direito ao aborto pelo Supremo Tribunal e a baixa popularidade de Biden fazem antever resultados negativos nas eleições intercalares de novembro, que tradicionalmente já são más para os presidentes incumbentes.
"A base democrata está a ficar nervosa", disse à Lusa Jeffrey Cummins, reitor interino da Faculdade de Ciências Sociais na Universidade Estadual da Califórnia em Fresno. "Há a expectativa de que seja uma avalanche favorável aos republicanos e isso vai sinalizar probabilidades mais baixas de que Biden seja reeleito em 2024".
O analista frisou que o ciclo normal das intercalares é que a taxa de aprovação do presidente decline e o seu partido perca assentos. No entanto, a isto adiciona-se "a enorme preocupação com a inflação, embora a economia no geral esteja boa" referiu. "Sabemos que a economia é o fator mais importante nas eleições, em termos de apoio ao partido incumbente".
O resultado que sair das intercalares modificará o equilíbrio de poder no Congresso, e, segundo Cummins, marcará o ponto em que começarão a desenhar-se as estratégias para 2024.
Algumas vozes democratas têm pedido que Joe Biden não se recandidate, caso do membro do Comité Nacional Democrata, Steve Simeonidis, e outros altos responsáveis entrevistados pelo New York Times.
"Por causa da baixa popularidade e da idade de Biden, o sistema [do Partido] Democrático não quer que ele se recandidate", explicou à Lusa o cientista político Brian Adams, docente na Universidade Estadual da Califórnia em San Diego.
"A candidatura à presidência é uma atividade muito vigorosa, requer muita energia. Ele conseguiu fazê-lo da última vez porque estávamos na pandemia e não havia nada que se pudesse fazer", salientou.
Adams considera que se Biden se recandidatar perante uma forte oposição do sistema [do Partido] Democrático, haverá primárias com múltiplos candidatos a tentarem tirar-lhe a nomeação.
Mas o académico não acredita que o presidente o faça. "Suspeito que se o sistema [do Partido] Democráticos alinhar contra Joe Biden e lhe disser que não quer que ele se recandidate, ele não o fará", sublinhou. "Ao contrário de Trump e de alguém como Bernie Sanders, ele sabe que não consegue ser eficaz sem o apoio do sistema [do Partido] Democrático".
Já Jeffrey Cummins expressou certeza de que Biden vai mesmo recandidatar-se e avisou que se o partido tentar nomear outro candidato, isso poderá não correr bem. Pelo menos tem sido assim no passado, embora nunca tenha havido um incumbente tão velho -- terá 81 anos durante a campanha.
"A idade é definitivamente uma preocupação e coloca as gafes na ribalta", disse o reitor, referindo-se à atenção dada a alguns dos mais recentes enganos públicos do presidente, como o momento em que confundiu a Suécia e a Suíça na cimeira da NATO em Madrid.
No entanto, Cummins considera que este é um não-fator. "É irónico", caracterizou, "porque quando Trump era presidente cometeu muitas gafes que foram ignoradas e não se atribuíram à sua idade ou algo do género".
O professor Brian Adams também desvalorizou, referindo que "falar das gafes é muito para alimentar os média e fazer queixas", considerando que isto não está relacionado com uma futura recandidatura.
"Nestas reuniões sobre a eleição de 2024 onde estão os grandes doadores das campanhas, os senadores, governadores, o comité democrata, não é das gafes que falam", disse Adams. "Estão a falar da idade de Biden, da sua popularidade, da falta de atividade, falta de conquistas".
A pouca visibilidade de Joe Biden na presidência é um dos motivos pelos quais a ala progressista se sente desanimada. Em especial após as recentes decisões do Supremo que retiraram o direito ao aborto, enfraqueceram a luta contra a crise climática e tornaram mais difícil regular armas de fogo, numa altura em que há tiroteios fatais quase todas as semanas.
"Os presidentes mais recentes não tiveram grandes feitos legislativos", lembrou Adams. "Mas Biden não tem sido tão visível como os últimos presidentes. Não tem sido visto a liderar, na linha da frente das tragédias".
A resposta da administração Biden à revogação do direito ao aborto tem sido vista como parca. O presidente convocou vários governadores democratas para uma reunião na última semana de junho e pediu que se abra uma exceção nas regras do Senado para que o direito ao aborto seja codificado em legislação.
No entanto, dois senadores democratas estão contra, o que inviabiliza a solução, e Biden rejeitou a possibilidade de alargar o número de juizes no Supremo e usar territórios federais para fornecer serviços abortivos.
"A ala progressista gostaria de ver alguém que faça mais em relação à crise climática", referiu também Cummins. "Gostariam que Biden fizesse mais, mas ele não tem como fazê-lo de forma legislativa e mesmo de forma administrativa as suas opções estão a ser reduzidas, por causa do Supremo".
O professor Adams considera que as decisões do Supremo vão dar energia à base democrática e isso poderá evitar que as intercalares sejam um desastre. Mas a recandidatura de Biden é outra coisa.
"Se ele não tiver qualquer intenção de se recandidatar, não vai dizer neste momento. Vai esperar provavelmente um ano após as intercalares, portanto novembro de 2023", sugeriu. "Para mim, não é claro que ele pretenda recandidatar-se".
A taxa de inflação acima dos 8%, a ameaça de uma recessão, a resposta tépida dos Democratas à revogação do direito ao aborto pelo Supremo Tribunal e a baixa popularidade de Biden fazem antever resultados negativos nas eleições intercalares de novembro, que tradicionalmente já são más para os presidentes incumbentes.
O analista frisou que o ciclo normal das intercalares é que a taxa de aprovação do presidente decline e o seu partido perca assentos. No entanto, a isto adiciona-se "a enorme preocupação com a inflação, embora a economia no geral esteja boa" referiu. "Sabemos que a economia é o fator mais importante nas eleições, em termos de apoio ao partido incumbente".
O resultado que sair das intercalares modificará o equilíbrio de poder no Congresso, e, segundo Cummins, marcará o ponto em que começarão a desenhar-se as estratégias para 2024.
Algumas vozes democratas têm pedido que Joe Biden não se recandidate, caso do membro do Comité Nacional Democrata, Steve Simeonidis, e outros altos responsáveis entrevistados pelo New York Times.
"Por causa da baixa popularidade e da idade de Biden, o sistema [do Partido] Democrático não quer que ele se recandidate", explicou à Lusa o cientista político Brian Adams, docente na Universidade Estadual da Califórnia em San Diego.
"A candidatura à presidência é uma atividade muito vigorosa, requer muita energia. Ele conseguiu fazê-lo da última vez porque estávamos na pandemia e não havia nada que se pudesse fazer", salientou.
Adams considera que se Biden se recandidatar perante uma forte oposição do sistema [do Partido] Democrático, haverá primárias com múltiplos candidatos a tentarem tirar-lhe a nomeação.
Mas o académico não acredita que o presidente o faça. "Suspeito que se o sistema [do Partido] Democráticos alinhar contra Joe Biden e lhe disser que não quer que ele se recandidate, ele não o fará", sublinhou. "Ao contrário de Trump e de alguém como Bernie Sanders, ele sabe que não consegue ser eficaz sem o apoio do sistema [do Partido] Democrático".
Já Jeffrey Cummins expressou certeza de que Biden vai mesmo recandidatar-se e avisou que se o partido tentar nomear outro candidato, isso poderá não correr bem. Pelo menos tem sido assim no passado, embora nunca tenha havido um incumbente tão velho -- terá 81 anos durante a campanha.
"A idade é definitivamente uma preocupação e coloca as gafes na ribalta", disse o reitor, referindo-se à atenção dada a alguns dos mais recentes enganos públicos do presidente, como o momento em que confundiu a Suécia e a Suíça na cimeira da NATO em Madrid.
No entanto, Cummins considera que este é um não-fator. "É irónico", caracterizou, "porque quando Trump era presidente cometeu muitas gafes que foram ignoradas e não se atribuíram à sua idade ou algo do género".
O professor Brian Adams também desvalorizou, referindo que "falar das gafes é muito para alimentar os média e fazer queixas", considerando que isto não está relacionado com uma futura recandidatura.
"Nestas reuniões sobre a eleição de 2024 onde estão os grandes doadores das campanhas, os senadores, governadores, o comité democrata, não é das gafes que falam", disse Adams. "Estão a falar da idade de Biden, da sua popularidade, da falta de atividade, falta de conquistas".
A pouca visibilidade de Joe Biden na presidência é um dos motivos pelos quais a ala progressista se sente desanimada. Em especial após as recentes decisões do Supremo que retiraram o direito ao aborto, enfraqueceram a luta contra a crise climática e tornaram mais difícil regular armas de fogo, numa altura em que há tiroteios fatais quase todas as semanas.
"Os presidentes mais recentes não tiveram grandes feitos legislativos", lembrou Adams. "Mas Biden não tem sido tão visível como os últimos presidentes. Não tem sido visto a liderar, na linha da frente das tragédias".
A resposta da administração Biden à revogação do direito ao aborto tem sido vista como parca. O presidente convocou vários governadores democratas para uma reunião na última semana de junho e pediu que se abra uma exceção nas regras do Senado para que o direito ao aborto seja codificado em legislação.
No entanto, dois senadores democratas estão contra, o que inviabiliza a solução, e Biden rejeitou a possibilidade de alargar o número de juizes no Supremo e usar territórios federais para fornecer serviços abortivos.
"A ala progressista gostaria de ver alguém que faça mais em relação à crise climática", referiu também Cummins. "Gostariam que Biden fizesse mais, mas ele não tem como fazê-lo de forma legislativa e mesmo de forma administrativa as suas opções estão a ser reduzidas, por causa do Supremo".
O professor Adams considera que as decisões do Supremo vão dar energia à base democrática e isso poderá evitar que as intercalares sejam um desastre. Mas a recandidatura de Biden é outra coisa.
"Se ele não tiver qualquer intenção de se recandidatar, não vai dizer neste momento. Vai esperar provavelmente um ano após as intercalares, portanto novembro de 2023", sugeriu. "Para mim, não é claro que ele pretenda recandidatar-se".