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FMI: Cortar despesa e subir impostos pode apoiar combate à inflação. Mas não é para todos

O Fundo defende que, nalguns casos, estas medidas poderão apoiar a política de estabilização de preços pelos bancos centrais. Mas “não é uma chamada à austeridade generalizada”.

Miguel Baltazar
25 de Julho de 2023 às 14:51
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Até haver sinais claros de que as pressões inflacionistas estão a recuar, a nível global, os bancos centrais devem persistir na manutenção dos juros em território restritivo, mas a luta pela estabilização de preços pode envolver também mais os governos, defende nesta terça-feira o Fundo Monetário Internacional (FMI), com recomendações para cortes na despesa e subidas de impostos que atuem na contenção da procura.

 

"Apesar de a principal responsabilidade por restaurar a estabilidade de preços caber aos bancos centrais, cortes de despesa pública e subidas de impostos legisladas para assegurar a sustentabilidade da dívida pública podem, ao reduzir a procura agregada e reforçar a credibilidade geral das estratégias de desinflação, aliviar mais a inflação", recomenda a instituição em nova atualização de perspetivas económicas mundiais que reveem em ligeira alta o crescimento das economias avançadas, incluindo na Zona Euro.

 

No cenário para este ano, a inflação irá teimar de uma forma generalizada em manter-se enraizada em níveis elevados, adverte o FMI, antecipando que, em termos médios anuais, metade dos países do mundo não assistam a qualquer recuo no indicador da chamada inflação subjacente (que exclui energia, cujo preços caem, assim como bens alimentares). O abrandamento do consumo chinês permite, para já, apenas uma ligeira revisão em baixa na previsão de inflação geral a nível mundial, que deverá passar aos 6,8%.

 

"Claramente, a batalha contra a inflação ainda não foi ganha", defende na apresentação das perspetivas Pierre-Olivier Gourinchas, diretor de estudos e conselheiro económico da instituição.

 

Nesse sentido, a principal recomendação de política do FMI é ainda a de que os bancos centrais persistam em manter juros elevados (o Fundo assume uma nova subida pelo Banco Central Europeu, e um pico de 5,6% nos custos dos fundos da Reserva Federal). Mas, defende, os governos poderão também ajudar, sendo também mais restritivos na política orçamental.

 

Contudo, a receita não será universal. "Este é especialmente o caso de países com economias sobreaquecidas e com relações inversas pronunciadas entre inflação e desemprego", indica a recomendação.

 

Com novos apelos também para maior consolidação orçamental  e construção de novo espaço orçamental – o Fundo espera ajustamentos da ordem dos 0,5% do PIB, em média, tanto nas economias avançadas como nas emergentes –, o FMI defende contudo que "esta não é uma chamada à austeridade generalizada". Pierre-Olivier Gourinchas dá uma versão com gradações da receita que, apesar de tudo, o FMI prescreve para alguns países: "O ritmo e composição desta consolidação orçamental deve ter em conta a força do consumo privado, ao mesmo tempo que protege os mais vulneráveis".

 

Para o esforço de consolidação preconizado pela instituição sediado em Washington, entra novamente a recomendação de retirada de subsídios ao consumo de energia num período de quebra de preços. Após uma descida de 39% no preço do petróleo em 2022, é esperado um recuo da ordem dos 21% no conjunto de 2023.

 

Nas prioridades políticas do FMI está também a manutenção da estabilidade financeira após a turbulência de março último na banca norte-americana e na da Suíça. Os riscos, neste campo, surgem agora mais moderados, mas persistem. Em caso de novo stress financeiro, será necessário garantir liquidez rapidamente em força, mitigando porém o risco moral de desresponsabilização das instituições financeiras, defende o Fundo.

 

Nas recomendações do FMI, estão ainda a facilitação de financiamento às economias em desenvolvimento, com a instituição a defender maior coordenação internacional para a resolução das dívidas dos países mais pobres, e também a resolução de dificuldades de mercado do lado da oferta. Seja pelo investimento em formação de mão de obra para sectores em necessidade, maior recurso a teletrabalho e outras formas de flexibilidade laboral ou facilitação da imigração, no que toca ao mercado de trabalho, seja por maiores investimentos em energias limpas ou ainda políticas industriais cuidadosas destinadas a suprir falhas de mercado nos casos em que haja margem orçamental para tal.

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