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"Empresas podiam ser um ator ativo da imigração"
Para Gonçalo Moura Martins, o Estado devia dar muito mais ferramentas às grandes empresas para que elas pudessem trazer para o país os trabalhadores de que necessitam e se responsabilizassem pela sua integração. Novo episódio do podcast Partida de Xadrez vai para o ar esta segunda-feira.
"O envolvimento das empresas seria um modo muito interessante de captar imigração já para onde ela é necessária na economia". Gonçalo Moura Martins defende, no 16.º episódio do podcast Partida de Xadrez, que vai para o ar esta segunda-feira no site do Negócios e nas principais plataformas, que "se devia dar muito mais ferramentas às empresas" nesta matéria.
"As grandes empresas teriam uma capacidade muito maior de trazer as pessoas de que precisam, e as suas famílias, investir na formação e fixá-las", defende, lembrando que os entraves à atração da mão de obra de que o país necessita estão hoje nos vistos de trabalho e de residência, "processos que as empresas não têm legitimidade para tratar".
O gestor considera, por isso, que devia ser dado "um poder muito maior às empresas, no sentido de elas próprias serem um ator ativo da imigração". "Bastaria fazer um acordo tripartido em que o Estado não abdicava da sua soberania, mas aceitava que houvesse um ator interventivo que fosse diligente e se responsabilizasse", diz, acrescentando que dessa forma "essa imigração viria já com condições de integração e legalização total".
António Ramalho concorda que as grandes empresas ou associações empresariais têm capacidade de liderar este processo, porque já estão habituadas a conviver com esta realidade e têm meios suficientes para se responsabilizarem por encontrar soluções para a sua integração e retenção.
Sobre a integração dos imigrantes, afirma que as medidas de caráter local são as mais bem-sucedidas, razão pela qual é preciso "trazer os municípios a jogo". Mas também as instituições de solidariedade, nomeadamente a Igreja, "devem ser envolvidas na sua integração".
António Ramalho avisa ainda que "temos um inverno demográfico em Portugal e, por muitas medidas que possam vir a ser introduzidas, isso demora 20 ou 30 anos a ser resolvido".
Os estrangeiros que vivem legalmente em Portugal são hoje mais de um milhão, representam 13% da população ativa e 28% da taxa de natalidade, contribuindo positivamente para o saldo da Segurança Social.
"É uma realidade estrutural e crescente, incontornável e necessária, que urge cuidar e integrar, com políticas que sirvam de forma igualmente benéfica e digna, por um lado quem nos escolhe e, por outro, a sociedade portuguesa que os acolhe", defende Moura Martins.
António Ramalho recorda que foi o aumento da imigração nos últimos anos que inverteu o declínio demográfico e alterou o saldo de caixa assistencial. A questão, frisa, "deixou de ser emigração e imigração e passou a ser integração e retenção dos imigrantes", o que "implica maior investimento na cultura como forma de identidade cultural, uma integração na língua, uma integração na história e uma integração nos nossos hábitos, para preservar este ativo que Portugal tem, que é bem receber".