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Dívida grega é insustentável sem mais ajuda
Os números continuam a não bater certo em Bruxelas. Ajuda precisará de ser reforçada, com perdão mais amplo e juros mais baixos, para tornar verossímil a redução da dívida grega dos mais de 160% em que estará actualmente para 120% do PIB em 2020.

Garantir alguma sustentabilidade à dívida grega e tornar menos provável um terceiro resgate vai muito possivelmente exigir um perdão mais amplo de dívida por parte das instituições financeiras privadas; juros mais baixos cobrados pela UE; e o envolvimento do BCE, que já mostrou alguma (ainda que fraca) abertura para prescindir de lucros (potenciais) sobre os títulos gregos que tem em carteira.
Banca perde 75%?
Recorde-se que já em Outubro o FMI defendera a necessidade de as instituições financeiras privadas suportarem um “hair-cut” mais profundo, de 75%, para tornar mais realista o pressuposto de que a dívida pública grega conseguirá ser reduzida para 120% do PIB em 2020 – valor que tem sido considerado como o limiar de sustentabilidade, ainda que extremamente elevado. Segundo o FT, em cima da mesa está a possibilidade de os credores privados aceitarem trocar os seus títulos por novos com valor facial 55% inferior; ao que acresce juros mais baixos, inferiores a 4%; e prazos de vencimento mais longos, até 30 anos.

"Os resultados apontam uma necessidade de alívio adicional da dívida do sector privado ou do estatal para modificar a trajectória da dívida", refere o relatório, datado de 15 de Fevereiro, que está a ser citado pela Reuters.
E como? A troika aponta quatro possibilidades: uma reestruturação mais agressiva da dívida, o que cortaria 1,5 ponto percentual ao resultado final; uma redução das taxas de juros sobre os empréstimos bilaterais já concedidos e a conceder a Atenas (cortaria a dívida também em 1,5 pontos adicionais); a inclusão na reestruturação dos títulos gregos detidos pelos bancos centrais da Zona do Euro (alívio equivalente 3,5 pontos percentuais); e, por fim, o maior contributo (5,5 pontos percentuais) poderia vir do Banco Central Europeu, caso este prescinda dos lucros potenciais sobre os títulos gregos comprados no mercado secundário, algo que poderia fazer abater quase 15 mil milhões de euros aos 360 mil milhões a que se elevará actualmente a dívida pública grega.
Velho dilema agravado
O relatório identifica ainda um velho dilema, que agora surge com contornos agravados. "Há uma tensão fundamental entre os objectivos do programa de reduzir a dívida e melhorar a competitividade, na medida em que a desvalorização interna necessária para restaurar a competitividade da Grécia inevitavelmente levará a uma dívida maior em relação ao PIB no curto prazo".
No pior cenário, de “uma recessão mais profunda (devido aos constantes atrasos nas reformas estruturais e na implementação das medidas orçamentais e das privatizações)", a trajectória de dívida poderia mesmo chegar até 160% do PIB em 2020, refere a troika, no mesmo documento que está a ser citado pela Reuters. Assumindo este cenário como o mais provável, o novo empréstimo à Grécia teria de ser da ordem de 245 mil milhões de euros.
Troika com morada permanente em Atenas?
É neste contexto que surge um outro problema, mais político e menos aritmético: como garantir que Atenas – com eleições marcadas para Abril e frágeis credenciais em matéria de cumprir o prometido – seguirá desta feita o acordado, a troco de um segundo empréstimo, que a UE e o FMI não querem que ultrapasse os 130 mil milhões de euros?

Mas há quem queira ir mais longe. O ministro holandês Jan Kees de Jager (na foto, ao lado de Jean-Claude Trichet, antigo presidente do BCE), disse esta tarde ser favorável a uma "presença permanente da troika" em Atenas. Questionado sobre se os representantes dos credores internacionais teriam direito de veto sobre matérias com impacto orçamental, o responsável holandês deu uma resposta dúbia, que admite a possibilidade de veto, ainda que limitada: "Em certas matérias, um país permanence, até certo ponto, sempre soberano".