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Como o “júnior” Alan Greenspan enfrentou a crise

Alan Greenspan estava deveras nervoso quando fez a viagem de avião para Dallas a meio do dia 19 de Outubro de 1987. Não era para menos. Wall Street estava em pânico desde o início desse mês, com o Dow Jones a descer 6% na primeira semana, mais 12% na segu

19 de Outubro de 2007 às 00:10
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Alan Greenspan estava deveras nervoso quando fez a viagem de avião para Dallas a meio do dia 19 de Outubro de 1987. Não era para menos. Wall Street estava em pânico desde o início desse mês, com o Dow Jones a descer 6% na primeira semana, mais 12% na segunda e sofrendo uma queda abrupta de 108 pontos na sexta-feira de 16 de Outubro.

Apenas há cinco semanas à frente da Fed, Greenspan e os seus colegas decidiram que a viagem a Dallas – onde estava previsto que o "maestro" fizesse o discurso mais importante até à data – teria de ser efectuada para não parecer que a Fed estava em pânico. A "segunda-feira negra" começou com o Dow Jones a perder mais de 200 pontos e quando Greenspan terminou a viagem de avião – sem telefone – tratou logo de perguntar às pessoas do Banco da Reserva Federal como tinha fechado Wall Street. Por segundos ficou satisfeito, pois recebeu como resposta: "em baixa, cinco zero oito".

Pensou que o índice tinha efectuado uma "tremenda recuperação", fechando "apenas" a perder 5,08%. Mas a verdade é que tinha descido 508 pontos, uma queda de 22,5%, que foi a maior de sempre verificada num só dia, pelo mais conhecido índice de acções do mundo. "Ainda maior que a do dia que antecedeu a Grande Depressão, a ‘sexta-feira’ negra de 1929", conta Alan Greenspan, no livro recentemente editado "A Era da Turbulência", onde o antigo presidente da Fed relata na primeira pessoa como conduziu o banco central mais poderoso do mundo, durante estes tempos de crise.

Primeira "bomba" com subida de juros para 6%

Alan Greenpan não se "sentia qualificado para aquele lugar", ficou supreso quando o seu nome surgiu no topo da lista das preferências de Wall Street para assumir a presidência da Fed, mas quando, num dia de final de Maio de 1987 recebeu um telefonema da Casa Branca, enquanto estava no gabinete do seu ortopodedista, aceitou o convite do então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan. Iria ser o presidente do que, até então, considerava uma "caixa negra".

E apesar de ter sido director do JP Morgan, reconhece que o banco central dos Estados Unidos "era de uma ordem de grandeza muito superior a tudo o que eu controlara". E Greenspan não teve muito tempo para se habituar ao lugar, pois, como recorda no seu livro de memórias, já "se notavam sinais de instabilidade". No início de 1987, o Dow Jones atingia um máximo histórico acima dos 2000 pontos (hoje negoceia perto dos 14 mil), registou uma valorização posterior de 40% e Wall Street cavalgava então uma "onda especulativa", numa altura em a economia dava sinais pouco encorajadores e a inflação estava em alta.

Apesar de reconhecer que "o risco de pôr travões durante uma fase de euforia no mercado bolsista é especialmente grave", não demorou a tomar medidas para arrefecer a economia e amortecer as pressões inflacionistas. Na primeira reunião, enquanto presidente do Comité da Fed que define os juros, "não lhe passou pela cabeça" descer os juros apenas – tinha sido empossado apenas há uma semana. Mas na seguinte, a 4 de Setembro, conseguiu convencer os seus colegas a colocar o preço do dinheiro nos 6%, meio ponto percentual acima do nível anterior. "Iria a bomba provocar apenas um sopro de ar? Iria funcionar como se esperava? Ou, sem se saber como, iria a reacção em cadeia descontrolar-se e incendiar a atmosfera da terra?" questionou Greenspan. A primeira reacção foi negativa, mas o "céu não se incendiou nesse dia". O pior veio no mês seguinte...

"Meia dúzia de situações graves, quase desastres"

Logo depois de aterrar em Dallas, na tarde de 19 de Outubro de 1987, Greenspan percebeu que a "urgência e a gravidade da situação eram evidentes, mesmo que as cotações não descessem mais". A primeira reacção foi tomar "grandes decisões" e na manhã seguinte, quando a bolsa esteve prestes a fechar (durante uma hora) pois não havia compradores, foi emitido um breve mas conciso comunicado. "A Reserva Federal, consciente das suas responsabilidades como banco central do país, afirmou hoje a sua disposição de servir como fonte de liquidez para apoiar o sistema económico e financeiro". Se, através desta declaração, a Fed tentou que as corretoras não saíssem do mercado, a outra decisão visou fornecer liquidez ao mercado monetário, com a Fed a comprar "milhares de milhões de dólares de obrigações do tesouro".

Apesar destas medidas, surgiram "meia dúzia de situações graves, quase desastres", relacionados com o sistema de pagamentos, como o quase desmoronamento do mercado de futuros de Chicago e outros acontecimentos que nunca foram públicos. Só ao final de uma semana estas crises desapareceram, mas Greenspan teve também que se preocupar com a frente política, tendo convencido Reagan da necessidade de baixar o défice americano, o que ajudou a tranquilizar os mercados.

No início de Novembro foi desfeito o gabinete de crise, após os preços estabilizarem nos diversos mercados. E ao contrário das expectativas, a economia norte-americana "aguentou-se firme", crescendo a uma taxa anual de 2% no primeiro trimestre de 1988 e 5% no segundo. "Em retrospectiva, acho que foi uma primeira manifestação da elasticidade da economia que iria ter um papel tão proeminente nos anos seguintes", recorda Greenspan, cujo desempenho nesta crise foi para muitos determinante no sucesso da liderança de 18 anos à frente da Fed.

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