O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean Claude Trichet, permanece empenhando em lutar contra a subida da inflação, mesmo depois das bolsas a nível mundial terem afundado perante sinais de que os EUA iriam entrar em recessão.

"Especialmente em tempos de turbulência e de correcção dos mercados, a responsabilidade do banco central é controlar a inflação para evitar mais volatilidade", afirmou hoje Trichet no Parlamento Europeu em Bruxelas.

"O BCE vai assegurar um funcionamento ordenado dos mercados financeiros com as taxas de juro em níveis necessários para controlar a inflação", sublinhou o responsável.

Estas declarações afastam assim a especulação dos investidores num corte de juros por parte do BCE, o primeiro desde 2003.

Ontem a Reserva Federal (Fed) dos EUA efectuou um corte surpresa em 75 pontos base, de 4,25% para 3,5%, de modo a contrariar os efeitos da crise. Foi a primeira vez desde 2001 que o banco central americano adoptou uma medida de emergência, que foi muito mais grave do que se esperava. .

Desde Setembro de 2001, na altura dos atentados terroristas, que a Fed não cortava os juros de surpresa. Na altura também o Banco Central Europeu reduziu os juros em meio ponto percentual. Aliás, o mercado aumentou, depois desta medida, as apostas de que o BCE iria reduzir para 3,5% a sua taxa de juro de referência.

Os responsáveis políticos poderão agora considerar uma redução de 50 pontos base para aumentar a confiança, disse Jacques Cauilloux, membro do Royal Bank of Scotland, citado pela Bloomberg. Barclays e Credit Suisse têm a mesma expectativa.

Segundo o mesmo responsável, "a questão que se coloca agora no mercado é o tempo e a dimensão de corte que o BCE vai decidir efectuar".

No entanto, esta expectativa era antes de Trichet responder hoje à medida da Fed e ao afirmar que a preocupação permanece em controlar a inflação, deixando implícito uma não redução de juros. Os preços no consumidor estão no nível mais elevado dos últimos seis anos, nos 3,1%, acima do limite imposto do BCE (2%).

Para além disso, os responsáveis políticos têm expressado a sua confiança nas estimativas económicas e dito que o BCE continua concentrado nos riscos à estabilidade dos preços.

Neste contexto, parece que o dilema do BCE permanece. No entanto, não deixa de ser verdade que se a medida da Fed alimenta a especulação de redução de juros por parte do BCE, os níveis da inflação, os bons dados económicos e a resposta de Trichet à actuação da Fed fazem pender muito mais para o lado dos que acreditam que o BCE não vai reduzir o valor do dinheiro.