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Até a Suécia enfrenta aumento da desigualdade
Um princípio fundamental do modelo escandinavo — a igualdade — é desafiado por anos de uma política monetária extrema que inflacionou os preços dos ativos.
Mesmo a região mais igualitária do mundo está a enfrentar um aumento desigualdade entre ricos e pobres.
Na Suécia, a ministra das Finanças, Magdalena Andersson, diz que vê o "risco óbvio" de uma recuperação económica em forma de K, na qual uma elite privilegiada fica ainda mais rica enquanto os mais vulneráveis perdem rendimento.
Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia e Islândia têm estado em destaque como modelos de resiliência económica devido aos sistemas de proteção social desde o nascimento até à morte, à condição robusta das contas públicas e ao sucesso em inovação. No entanto, um princípio fundamental do modelo escandinavo — a igualdade — é desafiado por anos de uma política monetária extrema que inflacionou os preços dos ativos e, mais recentemente, pelo salto no desemprego devido à covid-19.
O alerta da ministra das Finanças acresce às preocupações em todo o mundo, à medida que a valorização dos ativos — sustentada por ondas infinitas de apoio de emergência dos bancos centrais — favorece os mais abastados. Enquanto isso, o setor de serviços eliminou sobretudo empregos com baixos salários e que são ocupados por trabalhadores mais jovens que raramente possuem ações ou imóveis.
"Especialmente se tivermos um longo período de juros baixos pela frente, provavelmente vai aumentar a desigualdade", afirmou Andersson em entrevista. "Os jovens desempregados também me preocupam. Aprendemos com a crise da década de 1990 que períodos longos de desemprego no início da vida adulta podem ter efeitos de mais longo prazo. Para mim isso é muito preocupante."
Impostos sobre as fortunas
Andersson faz parte de uma coligação liderada por social-democratas que sinalizou a possibilidade de recorrer a impostos para melhorar a equidade. De fato, "a crescente diferença na riqueza já estimulou alguns pedidos de medidas tributárias", afirmou Johanna Jeansson, da Bloomberg Economics.
Mas as opções podem ser limitadas. O aumento do imposto sobre o imobiliário é uma ideia "apreciada por economistas, mas que seria bastante impopular entre a população sueca em geral", acrescentou Jeansson.
A Suécia eliminou o imposto sobre a riqueza em 2007, devido às evidências de que não funcionava como pretendido. Jeansson ressalta que a taxa de imposto média sobre os rendimentos de capital na Suécia "já é maior" do que noutros países da Europa. No ano passado, sob pressão do seus parceiros de coligação, o governo abandonou um imposto que incidia sobre pessoas com rendimentos mais elevados. A taxação extra não gerou muita receita adicional.
O principal desafio, segundo Jeansson, é garantir que "muitos empregos sejam criados".