Notícia
Centenas de pessoas enchem Intendente em arraial contra o racismo e xenofobia
O largo do Intendente, em Lisboa, encheu-se de pessoas que protestaram contra o racismo e a xenofobia. Foi uma resposta à manifestação da extrema-direira contra a "islamização da Europa", inicialmente convocada para o Martim Moniz e depois deslocada para o largo Camões, onde se juntou cerca de uma centena de pessoas.
03 de Fevereiro de 2024 às 18:28
Centenas de pessoas encheram este sábado o largo do Intendente, em Lisboa, num arraial multicultural contra o racismo e a xenofobia, num dia em que está agendado um protesto de extrema-direita "contra a islamização".
O encontro foi uma resposta à manigestação contra a imigração, convocada pela extrema-direita inicialmente para a zona do Martim Moniz e que, depois de proibida pela Câmara de Lisboa, acabou por se realizar no largo Camões.
No arraial, onde participam mais de meio milhar de pessoas e que está a ser acompanhado por um forte dispositivo de segurança, ouvem-se palavras de ordem como "racistas, fascistas não passarão" e "abaixo Mário Machado" e veem-se cartazes com mensagens como "facho, és o único estrangeiro do bairro" ou "todos os imigrantes são bem vindos".
Em declarações à agência Lusa, António Tonga, membro do coletivo Consciência Negra, explicou que este encontro serve para "festejar a diversidade e a multiculturalidade" e "alertar para os discursos de ódio e divisórios".
"Cinquenta anos depois do 25 de Abril é preciso lutar para afirmar esse 25 de Abril e quais são os valores para a sociedade que nós queremos", afirmou o ativista.
António Tonga sublinhou que este arraial é também uma resposta aos grupos "fascistas" que pretendem realizar esta tarde uma manifestação "contra a islamização", inicialmente prevista para a zona do Martim Moniz, mas que acabou por ser marcada para o Largo Camões.
"Quando existe uma ameaça, como existe para esta comunidade do Benformoso (artéria do bairro da Mouraria), nós agimos em conformidade. Ou nós permitimos que estas ideologias de ódio, divisoras, continuem a marcar a política ou nós avançamos e fazemos questionamentos", disse.
Também presente no arraial, a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, disse ter decidido participar neste protesto "para lembrar que, cada vez que há uma pequena minoria que quer afirmar o ódio e a violência em Portugal, há uma grande maioria que se levanta pela decência, pelos direitos humanos e que diz que Portugal tem o dever de integrar toda a gente".
A líder bloquista referiu que Portugal tem o dever de acolher os imigrantes não só "por respeito pelos direitos humanos", mas também porque lhes "deve muito", uma vez que "estão a pagar as reformas da Segurança Social" e garantem setores essenciais como a agricultura, as pescas ou o turismo.
"O que devemos fazer é integrar estes imigrantes, quem nos procura para trabalhar, ao invés de procurar alimentar divergências, ódio e violência. Nenhuma sociedade alguma vez melhorou com este discurso do ódio. Estamos aqui para afirmar o sensato, que é a decência", afirmou.
Neste arraial, marcaram também presença vários imigrantes, entre os quais Sanhá Fodé, estudante da Guiné-Bissau que está em Portugal há quatro anos e admitiu, em declarações à Lusa, que foi vítima de racismo na faculdade.
Sanhá disse estar preocupado com o crescimento de partidos de extrema-direita, que considerou não estarem "vinculados a valores humanistas" e terem "um discurso de divisão" que "não faz sentido num mundo global".
"É lamentável e preocupante se estas pessoas conseguem ter mais poder. Como é que a gente vai ficar? É por isso que nós, imigrantes, estamos preocupados com esse crescimento", afirmou.
Outro cidadão do Bangladesh, que não quis revelar o seu nome, também admitiu à Lusa que se sente "mais ou menos" em Portugal, salientando que, a maior parte das vezes em que se desloca a serviços públicos, "sente que não é bem-vindo".
O imigrante indicou que vive na rua de Benformoso, perto do Martim Moniz, zona prevista inicialmente para o protesto de extrema-direita, salientando que se sentiu "visado" por essa manifestação, que mostra que o racismo é uma realidade em Portugal.
"Quando ouvimos que ia haver um arraial contra o racismo, pensámos que os portugueses deveriam ouvir a nossa voz", disse.
Uma centena na manifestação da extrema-direita
Ao mesmo tempo, no largo Camões, cerca de uma centena de manifestantes de extrema-direita juntou-se num protesto contra aquilo que diz ser a islamização da Europa e com criticas ao governo português.
Empunhando faixas com mensagens como "Stop Islão" ou "Portugal aos portugueses", o grupo partiu às 18:25 horas do Largo Camões, em direção à Praça do Município, cantando o hino e aos gritos de "Portugal, Portugal".
Rodeados de um forte dispositivo policial, à passagem pelo largo do Chiado, acenderam tochas e ouviram, à sua passagem, vários transeuntes gritar "Fascismo nunca mais" e "Não passarão".
Mário Machado, dirigente do grupo 1143, que organizou a manifestação, também de megafone, apelava aos manifestantes para não responderem : "São provocações, vamos mostrar que cumprimos a lei"
Antes da partida da marcha Rui Roque, outro dirigente do grupo 1143, contestou aquilo que classificou como uma politica de abertura aos imigrantes: "Querem transformar, a nós portugueses, numa minoria no nosso território. Não vai acontecer".
O dirigente algarvio do movimento de extrema-direita criticou também o governo português.
"Quero agradecer ao governo da republica a corrupção. Não têm vergonha", afirmou, de megafone em punho, perante uma audiência de archotes acesos e bandeiras.
Durante parte da marcha, uma militante feminista empunhou dois cartazes, um a referir o direito das mulheres e outro onde se lia "Circo" com uma seta para o grupo, enquanto era insultada pelos manifestantes.
O movimento de extrema-direita "grupo 1.143" tinha pedido para fazer uma manifestação na zona da Mouraria que iria partir do largo do Intendente, um pedido que foi recusado pela Câmara de Lisboa, após um parecer da PSP que alertava para o risco de segurança.
O grupo 1.143 interpôs uma ação na justiça para "proteção de direitos, liberdades e garantias", por considerar que a proibição da manifestação pela Câmara de Lisboa (CML) -- que anunciou em 26 de janeiro que não iria autorizar a sua realização -- seria uma violação do direito de liberdade de expressão.
Na sexta-feira, o tribunal administrativo do círculo de Lisboa indeferiu o pedido e o grupo anunciou a concentração para o Largo Camões.
(notícia atualizada com informação sobre manifestação da extrema-direita)
O encontro foi uma resposta à manigestação contra a imigração, convocada pela extrema-direita inicialmente para a zona do Martim Moniz e que, depois de proibida pela Câmara de Lisboa, acabou por se realizar no largo Camões.
Em declarações à agência Lusa, António Tonga, membro do coletivo Consciência Negra, explicou que este encontro serve para "festejar a diversidade e a multiculturalidade" e "alertar para os discursos de ódio e divisórios".
"Cinquenta anos depois do 25 de Abril é preciso lutar para afirmar esse 25 de Abril e quais são os valores para a sociedade que nós queremos", afirmou o ativista.
António Tonga sublinhou que este arraial é também uma resposta aos grupos "fascistas" que pretendem realizar esta tarde uma manifestação "contra a islamização", inicialmente prevista para a zona do Martim Moniz, mas que acabou por ser marcada para o Largo Camões.
"Quando existe uma ameaça, como existe para esta comunidade do Benformoso (artéria do bairro da Mouraria), nós agimos em conformidade. Ou nós permitimos que estas ideologias de ódio, divisoras, continuem a marcar a política ou nós avançamos e fazemos questionamentos", disse.
Também presente no arraial, a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, disse ter decidido participar neste protesto "para lembrar que, cada vez que há uma pequena minoria que quer afirmar o ódio e a violência em Portugal, há uma grande maioria que se levanta pela decência, pelos direitos humanos e que diz que Portugal tem o dever de integrar toda a gente".
A líder bloquista referiu que Portugal tem o dever de acolher os imigrantes não só "por respeito pelos direitos humanos", mas também porque lhes "deve muito", uma vez que "estão a pagar as reformas da Segurança Social" e garantem setores essenciais como a agricultura, as pescas ou o turismo.
"O que devemos fazer é integrar estes imigrantes, quem nos procura para trabalhar, ao invés de procurar alimentar divergências, ódio e violência. Nenhuma sociedade alguma vez melhorou com este discurso do ódio. Estamos aqui para afirmar o sensato, que é a decência", afirmou.
Neste arraial, marcaram também presença vários imigrantes, entre os quais Sanhá Fodé, estudante da Guiné-Bissau que está em Portugal há quatro anos e admitiu, em declarações à Lusa, que foi vítima de racismo na faculdade.
Sanhá disse estar preocupado com o crescimento de partidos de extrema-direita, que considerou não estarem "vinculados a valores humanistas" e terem "um discurso de divisão" que "não faz sentido num mundo global".
"É lamentável e preocupante se estas pessoas conseguem ter mais poder. Como é que a gente vai ficar? É por isso que nós, imigrantes, estamos preocupados com esse crescimento", afirmou.
Outro cidadão do Bangladesh, que não quis revelar o seu nome, também admitiu à Lusa que se sente "mais ou menos" em Portugal, salientando que, a maior parte das vezes em que se desloca a serviços públicos, "sente que não é bem-vindo".
O imigrante indicou que vive na rua de Benformoso, perto do Martim Moniz, zona prevista inicialmente para o protesto de extrema-direita, salientando que se sentiu "visado" por essa manifestação, que mostra que o racismo é uma realidade em Portugal.
"Quando ouvimos que ia haver um arraial contra o racismo, pensámos que os portugueses deveriam ouvir a nossa voz", disse.
Uma centena na manifestação da extrema-direita
Ao mesmo tempo, no largo Camões, cerca de uma centena de manifestantes de extrema-direita juntou-se num protesto contra aquilo que diz ser a islamização da Europa e com criticas ao governo português.
Empunhando faixas com mensagens como "Stop Islão" ou "Portugal aos portugueses", o grupo partiu às 18:25 horas do Largo Camões, em direção à Praça do Município, cantando o hino e aos gritos de "Portugal, Portugal".
Rodeados de um forte dispositivo policial, à passagem pelo largo do Chiado, acenderam tochas e ouviram, à sua passagem, vários transeuntes gritar "Fascismo nunca mais" e "Não passarão".
Mário Machado, dirigente do grupo 1143, que organizou a manifestação, também de megafone, apelava aos manifestantes para não responderem : "São provocações, vamos mostrar que cumprimos a lei"
Antes da partida da marcha Rui Roque, outro dirigente do grupo 1143, contestou aquilo que classificou como uma politica de abertura aos imigrantes: "Querem transformar, a nós portugueses, numa minoria no nosso território. Não vai acontecer".
O dirigente algarvio do movimento de extrema-direita criticou também o governo português.
"Quero agradecer ao governo da republica a corrupção. Não têm vergonha", afirmou, de megafone em punho, perante uma audiência de archotes acesos e bandeiras.
Durante parte da marcha, uma militante feminista empunhou dois cartazes, um a referir o direito das mulheres e outro onde se lia "Circo" com uma seta para o grupo, enquanto era insultada pelos manifestantes.
O movimento de extrema-direita "grupo 1.143" tinha pedido para fazer uma manifestação na zona da Mouraria que iria partir do largo do Intendente, um pedido que foi recusado pela Câmara de Lisboa, após um parecer da PSP que alertava para o risco de segurança.
O grupo 1.143 interpôs uma ação na justiça para "proteção de direitos, liberdades e garantias", por considerar que a proibição da manifestação pela Câmara de Lisboa (CML) -- que anunciou em 26 de janeiro que não iria autorizar a sua realização -- seria uma violação do direito de liberdade de expressão.
Na sexta-feira, o tribunal administrativo do círculo de Lisboa indeferiu o pedido e o grupo anunciou a concentração para o Largo Camões.
(notícia atualizada com informação sobre manifestação da extrema-direita)