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11 Setembro: Da solidariedade à divisão, nos EUA e no mundo

A onda de solidariedade que se seguiu aos ataques de 11 de Setembro, fenómeno inédito no panorama político mundial, congregou em redor de um mesmo objectivo - a guerra ao terrorismo - países normalmente colocados em extremos opostos do areópago ideológico

10 de Setembro de 2006 às 22:28
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A onda de solidariedade que se seguiu aos ataques de 11 de Setembro, fenómeno inédito no panorama político mundial, congregou em redor de um mesmo objectivo - a guerra ao terrorismo - países normalmente colocados em extremos opostos do areópago ideológico.

Contudo, embora todos continuem, hoje, a jurar o seu empenhamento nesta guerra sem fronteiras, cedo começaram a vir ao de cima as divergências - políticas ou económicas, tácticas ou estratégicas -, deixando para trás as primeiras imagens de "unidade do Mundo face ao terror".

Poucos minutos depois de as Torres Gémeas do World Trade Center de Nova Iorque terem soçobrado ao impacto dos dois aviões desviados por terroristas islâmicos e de o Pentágono, em Washington, ter sofrido danos de monta no embate de um terceiro aparelho, choviam na Casa Branca telegramas de todo o mundo de solidariedade com os Estados Unidos e de denúncia do terrorismo internacional.

As autoridades norte-americanas, claramente apanhadas de surpresa por este ataque sem precedentes, conseguiram mobilizar, não só o povo norte-americano em choque, mas toda uma comunidade internacional abismada com a impunidade com que um punhado de terroristas islâmicos conseguia actuar em pleno coração da maior potência mundial.

A declaração de "guerra ao terror" do Presidente George W. Bush foi aplaudida com quase unanimidade e poucas foram as vozes que se manifestaram, em Novembro de 2001, dois meses após os atentados, contra a invasão do Afeganistão, na primeira "caça" aos responsáveis dos atentados - a Al-Qaida de Usama bin Laden - e aos seus padrinhos, os talibãs, no poder em Cabul.

Uma invasão que, afinal, acabou por não cumprir muitos dos seus objectivos, com o país a viver ainda hoje uma situação de violência extrema e Usama bin Laden a continuar a monte, aparentemente nas montanhas da fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão.

Com um poder conservador na Casa Branca, onde os "falcões" do vice-presidente Dick Cheney e de Karl Rove, assessor "preferido" de Bush, dominavam os poucos moderados do executivo, com o secretário de Estado Colin Powell à cabeça, Bush e os seus conselheiros mais directos viram na tragédia do 11 de Setembro a oportunidade de levar uma "democracia à americana" às terras islâmicas do Médio Oriente.

Em nome do combate ao terrorismo e da promoção da democracia, mas sem esquecer que "regimes hostis" que controlam jazidas petrolíferas de importância estratégica não são saudáveis para a economia norte-americana.

Daí a envolver o Iraque de Saddam Hussein, um regime assassino e despótico, nos atentados do 11 de Setembro foi um pequeno passo, que Washington não hesitou em dar, apesar de nunca ter conseguido apresentar provas convincentes de que Bagdad alguma vez tivesse tido algo a ver com a Al-Qaida, ou que estivesse a construir armas de destruição maciça.

Ainda na passada semana, o próprio Presidente George W. Bush admitiu que nunca houve qualquer prova de envolvimento de Bagdad no 11 de Setembro, e o próprio Senado norte-americano, num relatório divulgado hoje, garante que não havia quais relações entre a Al-Qaida e Saddam Husein.

Os Estados Unidos garantiram, contudo, inclusivamente na ONU, que possuíam provas de que o Iraque dispunha de armas de destruição maciça, e utilizaram para isso uma das vozes da administração Bush mais respeitadas internacionalmente pela sua moderação e credibilidade, o secretário de Estado Colin Powell.

Estava apresentada a justificação para a invasão do Iraque.

E na cimeira dos Açores, a 16 de Março de 2003, Bush, que já tinha decidido a invasão para daí a três dias, fez-se acompanhar pelos chefes de governo do Reino Unido, Tony Blair, da Espanha, José Maria Aznar, e de Portugal, José Manuel Durão Barroso, para "internacionalizar" o apoio à sua acção.

Numa invasão que motivou sempre fortes reticências da França, da Alemanha e da Rússia, as tropas norte- americanas entraram no Iraque a 19 de Março de 2003, derrubando o regime de Saddam Hussein poucos dias depois, a 01 de Maio. E abrindo caminho a uma era de violência, que, apesar do contínuo reforço das tropas internacionais, ainda hoje subsiste.

Afinal, as armas de destruição maciça nunca foram encontradas, criando alguns engulhos à administração Bush, que as tinha utilizado como um dos principais argumentos para a invasão.

A Casa Branca, no entanto, manteve-se firme na sua política, com o próprio círculo interno do Presidente "limpo" de alguns nomes mais moderados, como Colin Powell, que se viu substituído na Secretaria de Estado por Condoleezza Rice, até aí Conselheira de Segurança Nacional e uma figura muito mais chegada às teses mais belicistas do vice-presidente Cheney.

O cortejo de caixões a aterrar nos Estados Unidos com os corpos de soldados norte-americanos mortos no Iraque - eram já mais de 2.650 os soldados norte-americanos mortos até Julho último, desde o início da invasão -, acompanhado por acções internas que muitos cidadãos consideram atentatórias das liberdades individuais, como a campanha de escutas telefónicas, têm contribuído para uma erosão do apoio a Bush e para um reforço da posição contra a guerra no seio da opinião pública dos Estados Unidos.

Além disso, e de acordo com as sondagens, em grande número de norte-americanos persistem os medos de um possível novo ataque terrorista de envergadura no seu próprio país e cresce a desconfiança na eficácia das medidas que a administração Bush tem vindo a tomar para o contrariar.

Se se juntar a isto os escândalos relacionados com a forma como os prisioneiros do Iraque, do Afeganistão e da "guerra ao terror" em geral são interrogados nas prisões geridas pelos Estados Unidos, como Abu Ghraib no Iraque ou Guantanamo em Cuba, envolvendo denúncias de métodos violadores das Convenções de Genebra sobre o tratamento de prisioneiros de guerra e, mesmo, de actos de tortura, podem encontrar-se as razões para a diminuição da popularidade da administração Bush, quer a nível interno, quer internacional.

Hoje, face aos desafios internacionais que se vão colocando, Washington, mantendo embora o mesmo discurso, mostra o cuidado de estar mais acompanhado nas suas acções, como se pode constatar na presente crise nuclear com o Irão, ou na invasão israelita do Líbano. Até porque, já em Novembro, há eleições para o Congresso norte-americano e os republicanos de Bush precisam urgentemente de recuperar o terreno perdido.

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