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"A independência europeia precisa da indústria da defesa"

Com as atuais tensões geopolíticas, e perante a tendência de isolamento norte-americano, António Ramalho avisa que o tempo urge no sentido de refundar uma indústria de defesa europeia com inovação, dimensão e escala. Novo episódio do podcast Partida de Xadrez vai para o ar esta segunda-feira.

03 de Novembro de 2024 às 12:00
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"A defesa é uma área onde a Europa tem perdido autonomia. É uma indústria que ainda mantém alguma capacidade do ponto de vista da oferta, ainda que em degradação progressiva, mas que é completamente dependente do ponto de vista dos consumos", afirma António Ramalho no 19.º episódio do podcast Partida de Xadrez, que vai para o ar esta segunda-feira no site do Negócios e nas principais plataformas.

Para o gestor, "o tempo urge no sentido de refundar uma indústria de defesa com dimensão, com inovação e com escala europeia".

Já Gonçalo Moura Martins avisa que "o realinhamento da aliança com os EUA e o protecionismo no comércio mundial" obrigam a Europa a "um conjunto de novas soluções que necessitam de ser consensualizadas e, mais importante, implementadas".

Recordando o relatório de Mario Draghi sobre a competitividade europeia, António Ramalho defende que "a independência europeia precisa da indústria da defesa", mas aponta um conjunto de deficiências, como a falta de standardização, a fragmentação do mercado e o investimento insuficiente em investigação e desenvolvimento.

Sublinha ainda que a contratação pública é "incompatível com o modelo de comprador único", que caracteriza esta indústria, e lembra que "há vários princípios ESG contrários ao financiamento deste setor".

A isso Gonçalo Moura Martins junta o facto de os grandes instrumentos financeiros da União Europeia não estarem disponíveis, lembrando que "o BEI, estatutariamente, não pode emprestar à indústria da defesa".

O gestor não tem, contudo, dúvidas, de que "estamos a entrar numa realidade geoestratégica completamente diferente, em que começa a haver necessidade de associar ao ‘soft power’ - o poder económico - o ‘hard power’ - a capacidade militar". Por isso, defende que "a Europa tem que repensar as suas prioridades relativamente à defesa", já que "vamos viver as próximas décadas com a necessidade da afirmação dos Estados no palco mundial, não só através da sua capacidade financeira, mas também da sua capacidade estratégica e dissuasora do ponto de vista militar".

António Ramalho reforça que "é preciso ganhar escala, investir em investigação e desenvolvimento e olhar para este mercado como um mercado de futuro", acrescentando que nesta matéria "a Europa não pode ser uma Europa dos países". "A defesa é um problema da procura, mas da procura europeia, homogénea e com capacidade de resposta única enquanto bloco económico e político", frisa.

Moura Martins recorda ainda que o que todos os países da União Europeia gastam em defesa por ano é metade do que custa a Política Agrícola Comum, e não tem dúvidas que vai ser necessário "fazer opções", por exemplo, não aumentando tanto na despesa de alguns segmentos sociais para reforçar na defesa. Mas, frisa, "não antecipo grande resistência da opinião pública europeia a um aumento dos gastos com defesa".

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