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Estado queria mas não conseguiu: pintura de 1667 vendida na Alemanha por 220 mil euros
Uma pintura inédita de Josefa de Óbidos datada de 1667, que o Estado português tentou comprar, foi vendida por 220 mil euros num leilão em Bona, na Alemanha.
Tinha uma base de licitação de 25 mil euros, acabou por ser arrematada por 220 mil euros. Uma pintura inédita de Josefa de Óbidos datada de 1667 foi hoje vendida num leilão em Bona, na Alemanha, revelou à Agência Lusa fonte oficial.
De acordo com a mesma fonte, que foi mandatada pela Direção-Geral do Património Cultural para tentar comprar o quadro em nome do Estado português, "não foi possível adquirir a obra".
O quadro, vendido através da leiloeira Plückbaum, era até agora desconhecido.
De acordo com o sítio 'online' da leiloeira, a pintura tem uma dimensão de 23 por 29 centímetros, e foi feita sobre placa de cobre, mostrando a Virgem Maria com o Menino Jesus ao colo a ser saudado por outras mulheres com crianças.
A obra está assinada pela artista, nascida em Sevilha, em 1630, e que veio viver em Portugal, onde viria a falecer, em 1684, em Óbidos, onde residia, tendo-se destacado pelo seu talento como pintora.
Na informação da leiloeira era referido o historiador de arte Joaquim Oliveira Caetano, curador de Pintura do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), que passará a dirigir, a partir deste mês de junho, e onde foi um dos comissários da exposição dedicada à artista, em 2015, intitulada "Josefa de Óbidos e a Invenção do Barroco Português".
O especialista disse ao jornal Público esta semana que existem peças de Josefa de Óbidos desaparecidas, das quais existem imagens, mas desta, em particular, não havia qualquer referência.
O catálogo alemão indicava apenas que a peça foi propriedade de uma coleção privada alemã, que terá sido adquirida "provavelmente" na década de 1980, mas o seu percurso em pormenor é desconhecido.
Josefa de Óbidos aprendeu o ofício com o pai, Baltazar Gomes Figueira, com quem trabalhou na sua oficina, e recebeu educação religiosa no Convento de Santa Ana, em Coimbra, entre 1644 e 1646, passando a residir em Óbidos a partir desse ano.
O quadro surge no 'site' da leiloeira alemã sob o título "Anbetung des Kindes" ("Adoração do Menino", em tradução livre), e indica ainda que não está dada como roubada ou desaparecida na plataforma internacional Art Loss Register.
A obra da pintora está representada no Museu do Louvre, em Paris, com o quadro "Maria Madalena", também conhecido por "A Penitente Madalena Consolada Por Anjos", comprada num leilão em Nova Iorque pelo galerista de arte lusodescendente Philippe Mendes, por 236 mil euros, e doada ao museu, onde fora curador.
Também o Museu da Misericórdia do Porto tem um quadro de Josefa d'Óbidos, "A Sagrada Família com São João Batista, Santa Isabel e Anjos", igualmente adquirido num leilão em Nova Iorque, por 228 mil euros.
Dos quadros-chave na obra da pintora, destacam-se ainda "Maria Madalena" e "Lactação de S. Bernardo", na coleção do Museu Nacional Machado de Castro, "Cordeiro Místico", no Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães, e "Cordeiro Pascal", no Museu Nacional Frei Bartolomeu do Cenáculo, em Évora, que também detém algumas naturezas mortas, assim como peças como "Transverberação de Santa Teresa" e "Sagrada Família" e "Calvário", na posse da Igreja ou da Misericórdia.
O Museu de Arte Walters, de Baltimore, nos Estados Unidos, tem no seu acervo e em exposição permanente o "Cordeiro Sacrificial", pintura adquirida em Roma, no início do século XX, pelo fundador da instituição, Henry Walters.
No Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, encontra-se o maior acervo de obras de Josefa de Óbidos, 15 no total, que foram integradas na exposição dedicada à pintora, há quatro anos, "Josefa de Óbidos e a Invenção do Barroco Português".
Em 1991, a Galeria D. Luís, no Palácio Nacional da Ajuda, acolhera a mostra "Josefa de Óbidos e o Tempo Barroco" e, em 1997, o National Museum of Women in the Arts, em Washington DC, nos Estados Unidos, dedicara à artista a exposição "Sagrado e Profano: Josefa de Óbidos de Portugal".
A primeira exposição conhecida com obras da artista remonta ao final da década de 1940, no MNAA, com a reunião de pinturas do seu acervo.