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Chico Buarque diz-se duplamente premiado se Bolsonaro não assinar o Prémio Camões
O compositor e escritor Chico Buarque afirmou esta quarta-feira que uma eventual não assinatura do seu diploma do Prémio Camões, por parte do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, equivalerá a uma dupla distinção.
"A não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo Prémio Camões", escreveu o artista brasileiro na sua conta oficial da rede social Instagram.
O chefe de Estado do país sul-americano deu hoje a entender que não assinará o diploma do Prémio Camões concedido ao compositor e escritor Chico Buarque, cuja entrega formal está a ser marcada para o próximo ano em Portugal.
As declarações de Bolsonaro foram avançadas pelo jornal Folha de São Paulo, que conta que, ao ser questionado sobre a assinatura do documento, respondeu que a decisão era "segredo", para em seguida acrescentar: "Até 31 de dezembro de 2026, eu assino".
A data referida por Jair Bolsonaro coincide com o final do um segundo mandato presidencial, caso fosse reeleito em 2022.
Chico Buarque é um apoiante do Partido dos Trabalhadores (PT), defensor do ex-Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e crítico do governo de Jair Bolsonaro.
O valor total do prémio é de 100 mil euros, divididos entre Brasil e Portugal. A parte que cabia ao governo foi paga em junho, e a assinatura do diploma é apenas uma formalidade, mas o documento poderá chegar às mãos do músico sem a assinatura do presidente do Brasil.
Por outro lado, o Ministério da Cultura de Portugal garantiu hoje que o Prémio Camões será entregue a Chico Buarque na altura que melhor convier "a quem entrega e a quem recebe o Prémio", estando já em curso o processo de marcação de data.
"A cerimónia de entrega do Prémio Camões a Chico Buarque realizar-se-á em Portugal, conforme ditam as regras, na data que for conveniente a quem entrega e a quem recebe o Prémio. Está em curso o processo para marcação da data", disse fonte do Ministério da Cultura à agência Lusa.
A posição do Ministério da Cultura foi assumida na sequência da notícia relativa ás declarações de Bolsonaro, sobre a possibilidade de não assinar o diploma de atribuição do Prémio Camões a Chico Buarque.
O assunto dividiu o governo de Bolsonaro, com alguns mais moderados a defender que este deveria cumprir a tradição de assinar o documento e evitar um constrangimento com Portugal, e outros, mais próximos do presidente brasileiro, a considerar importante o "gesto político", posicionando-se contra o uso de recursos públicos em ações que consideram não prioritárias, de acordo com a imprensa brasileira.
No passado dia 20 de setembro, a revista Veja, com sede em São Paulo, noticiou que o diploma assinado pelo Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, já se encontrava em Brasília, no gabinete do ministro da Cidadania, Osmar Terra, que tutela a Cultura, à espera da assinatura de Bolsonaro.
Chico Buarque foi anunciado vencedor do Prémio Camões 2019, no dia 21 de maio, após reunião do júri, na Biblioteca Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro.