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Unicredit prevê que Portugal entre na maior recessão de sempre este ano
As previsões do Unicredit apontam para que as economias dos países do sul - Portugal, Espanha e Itália - recuem cerca de 15% este ano, comparando mal com os pares europeus e com os gigantes que dominam a economia mundial.
O Unicredit lançou as previsões de crescimento para os membros da Zona Euro e o cenário para 2020 é de pesadas contrações. No caso de Portugal, a economia deverá regredir 15% no conjunto deste ano, um recorde absoluto. No ano seguinte há lugar para a recuperação, mas sem apagar totalmente as perdas.
Os cálculos do Unicredit apontam para que se verifique, em 2020, "a pior recessão que o país alguma vez experienciou, pior do que a registada durante a grande recessão (quando o PIB contraiu 3,2% em 2009) ou na crise do petróleo de 1975 (o crescimento do PIB minguou 5,1% nessa altura)".
O calendário do crescimento é o seguinte: no primeiro trimestre, uma quebra de 5% comparativamente aos três meses anteriores, à qual sucederá uma queda de 20% a 25% no segundo trimestre, também em cadeia.
Nos últimos dois trimestres a tendência deverá inverter, antevendo-se um crescimento de 10% em cadeia em cada um, "à medida que as restrições são aliviadas progressivamente", acrescenta o banco, numa nota mais positiva. O ano seguinte, 2021, deverá ver um salto anual no PIB de 9,6%.
"O panorama das economia portuguesa foi sujeito a uma repentina e demarcada deterioração como resultado do impacto da pandemia de covid-19", explica o banco de investimento. Portugal deverá ver em 2020 uma contração que é superior à calculada para o conjunto da Zona Euro (-13%). Em 2021, os países que utilizam o euro deverão fazer uma recuperação quase total, de 10%.
A explicar a reação mais negativa de Portugal à pandemia, estão alguns "fatores característicos" da economia nacional, os quais "tornam o país particularmente vulnerável a um choque deste género". Um deles é a importância dos setores relacionados com o turismo, que têm um peso de 27% na economia nacional. Neste campo, os hotéis já sentem uma queda a pique nas reservas e a companhia aérea nacional, a TAP, reduziu as operações a apenas dois voos semanais para Açores e Madeira.
Por outro lado, o tecido empresarial português é constituído quase inteiramente (97%) por pequenas e microempresas, cuja "situação financeira frágil será testada" por uma disrupção da liquidez. Por fim, o facto de uma "percentagem alta" das famílias viveram abaixo da linha de pobreza – 18% - mostra que há apenas uma pequena margem para absorver o choque através dos rendimentos.
Noutras frentes, a economia portuguesa também fica consideravelmente pior. O primeiro excedente orçamental desde que o país vive em democracia, conquistado em 2019 na percentagem de 0,2% do PIB, vai dar lugar a um défice de mais de 10,9% do PIB em 2020 e que deverá encurtar apenas para os 4,1% em 2021. No que toca à dívida pública, que em 2019 ficou nos 117% do PIB, este ano deve disparar para os 145,7% e no ano seguinte manter-se acima da capacidade de reembolso do país, nos 135,9%.
Estados Unidos reerguem-se num ano e Europa quase empata, mas sul sucumbe
Os Estados Unidos deverão cair acentuadamente em 2020, na ordem dos 10%. Mas 2021 já é ano de uma forte recuperação, de 11,8%, eliminando as perdas da crise. A economia mundial também passa, nas previsões do Unicredit, de um recuo de 6% em 2020 para um largo passo à frente, de 8,6%, no ano seguinte. A segunda maior economia do mundo, a Chinesa, não chega a contrair: o crescimento desce dos 6,2% de 2019 para uns ligeiros 0,6% mas em 2021 o arranque é a fundo: de 10%.
Já a Zona Euro não tem uma retoma tão espetacular – passa de uma contração de 13% para um salto de 10% entre 2020 e 2021. A Alemanha, a maior potência europeia, deverá manter-se na linha de água – desce 10% este ano para os recuperar no ano seguinte. França também quase volta à base, descendo 13% para depois subir 10%.
Mas nos vizinhos do sul, não é assim: Itália e Espanha veem danos em todo semelhantes aos enfrentados por Portugal: o PIB do país transalpino cai 15% para avançar 9% no ano posterior e "nuestros hermanos" derrapam 15,5% para escalar apenas outros 9,5%. Na Grécia, a perda é bastante mais acentuada, de 18,6%, mas a subida subsequente é de 15,5%.