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Moody's: Crise do petróleo e do vírus causam "choque severo" mas crescimento volta este ano
Face ao efeito "sem precedentes" que estes dois fatores têm no crédito, a Moody’s prevê que "a qualidade do crédito em todo o mundo vai continuar a deteriorar-se", mas não por muito tempo.
A agência de notação financeira Moody’s aponta um "choque severo e extensivo" no crédito soberano, decorrente da epidemia de coronavírus e da crise paralela que tem sido vivida no mercado de petróleo. Contudo, a mesma agência ressalva que na segunda metade do ano já espera ter de novo um cenário de crescimento.
A "rápida proliferação" do coronavírus e preços "acentuadamente mais baixos" do petróleo "enfraqueceram significativamente" as perspetivas para a economia mundial, criando desta forma "um choque no crédito severo e extensivo" e que atravessa muitos setores, regiões e mercados, escreve a Moody’s num relatório partilhado com as redações.
Para já, os efeitos do coronavírus e da quebra nos preços do petróleo "vão baixar o crescimento do PIB (produto interno bruto) e a força orçamental, aprofundar as vulnerabilidades dos soberanos à mudança no sentimento dos investidores e expor fraquezas nas instituições domésticas e internacionais". Os mais afetados serão os emitentes que se posicionam nos setores mais afetados pela redução de receitas, pelas cadeias de abastecimento interrompidas ou pela aversão ao risco demonstrada pelos investidores.
Face ao efeito "sem precedentes" que estes dois fatores têm no crédito, a Moody’s prevê que "a qualidade do crédito em todo o mundo vai continuar a deteriorar-se".
Ainda assim, a perspetiva negativa não deverá alongar-se. "Atualmente estamos a assumir que a crise, embora severa, se mantém relativamente curta e que o crescimento vai ser retomado na segunda metade do ano", escrevem os analistas, pelo que "as implicações para os soberanos em termos de crédito e rating deverão ser relativamente limitadas" desde que os governos atuem.
A agência avisa, contudo, que "se os danos ao crescimento forem mais severos e prolongados, com as dívidas a amontoarem-se e o financiamento acessível menos à mão do que o esperado, "as implicações em termos de crédito para os soberanos podem ser mais profundas".
O novo coronavírus já causou pelo menos 14.396 mortes em todo o mundo, depois de ter sido identificado pela primeira vez em dezembro, de acordo com um balanço feito no domingo pela agência noticiosa France-Presse. A rápida proliferação do vírus dita que a Europa seja agora o epicentro do furacão, com Itália a ultrapassar o número de casos que foram registados na China, onde o vírus teve origem. Os bancos centrais por todo o mundo têm tentado segurar as economias com pacotes de estímulo e cortes nos juros. Paralelamente, os governos têm avançado não só com medidas de contenção mas também de ajuda financeira. Ainda assim, a perspetiva é a de que a economia global entre em recessão este ano.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) avisa que o impacto da pandemia da covid-19 no mundo está a superar as suas piores previsões económicas. No início de março, a OCDE admitiu, equacionando o pior cenário, que a covid-19 poderia reduzir em metade o crescimento da economia mundial em 2020, situando-o em 1,5%, o que poderia levar à recessão de economias como a europeia e a japonesa. "Agora parece que já avançámos muito mais do que o cenário mais severo que foi previsto então", assumiu o secretário-geral da OCDE, Ángel Gurría.
Simultaneamente, o braço-de-ferro entre a Arábia Saudita e a Rússia arrebatou os preços do petróleo, uma derrocada que tem sido agravada pela diminuição da procura que decorre das medidas de contenção do vírus, as quais ditaram o isolamento dos cidadãos e a paragem forçada de muitas atividades não essenciais. A Arábia Saudita anunciou que ia libertar maiores quantidades de petróleo no mercado, inundando-o e provocando uma queda a pique dos preços, que desceram mais de 30% num só dia, o do anúncio. O objetivo é pressionar a Rússia, até então aliada, pois este país não quis aderir à proposta do cartel dos maiores exportadores, que queriam cortar a produção para controlar os preços. Entretanto, nenhuma das duas potências petrolíferas cederam, pelo que o conflito - e a quebra dos preços - continua.