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Jogos Olímpicos de Tóquio prometem ser os mais estranhos para os atletas isolados

Sem família, festas, refeições em grupo e com saída do Japão assim que terminarem as respetivas provas: assim será a experiência olímpica dos atletas durante uns Jogos em tempos de pandemia.

19 de Junho de 2021 às 18:00
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A mergulhadora veterana da Malásia Pandelela Rinong já competiu em três Jogos Olímpicos e não é uma estranha para os rigores dos desportos de competição. Mas nunca antes teve de viver algo como as preparações para os Jogos de Tóquio, no próximo mês.

A viver numa bolha de treino para manter a covid-19 afastada, a atleta de 28 anos não vê a família há um ano. A vida em Kuala Lumpur está presa num ciclo sem fim entre as instalações de treino e a sua residência, uma caminhada de três minutos - embora tenha de usar uma carrinha para minimizar a interação com potenciais membros do público que estejam infetados. A única companhia que tem a dos companheiros atletas.

"Realmente não é muito saudável estar a treinar desta forma numa lógica de quarentena", diz a campeã olímpica de saltos de plataforma de 10 metros, que já ganhou duas medalhas olímpicas. "Treinamos maioritariamente em espaço fechado e não é possível sair do complexo."

Pandelela vai estar entre os 11 mil atletas que vão chegar em breve a Tóquio, numa altura em que o Japão pressiona para conseguir realizar o maior evento desportivo mundial a 23 de julho, naquela que é a pior das crises de saúde pública vividas numa geração. Existem atualmente pedidos no Japão para cancelar ou adiar o evento, com receio daquilo que poderá ser um evento de megacontágio de covid. Os especialistas de saúde pública já descreveram a vontade de realizar o evento como irresponsável num momento em que o vírus e as suas variantes mais perigosas continuam a ceifar vidas em muitas partes do mundo.

Para os atletas, a viagem até aos Jogos e aos Paralímpicos tem sido longa, incerta e árdua. E o próprio evento poderá ser estranhamente sem vida - sem pompa e circunstância, sem folia após as vitórias e sem famílias para prestar apoio. Em vez disso, apenas uma pequena porção de espectadores domésticos estará nas bancadas, a assistir de forma silenciosa.

Kit de boas-vindas
Em vez de um kit de boas-vindas, os atletas vão ser recebidos por um documento de 70 páginas onde são descritas as regras às movimentações e ao comportamento durante os jogos, além de potenciais coimas caso o protocolo seja quebrado. Os atletas vão ser submetidos a uma quarentena de três dias à chegada e serão testados diariamente. Devem ainda ficar na bolha criada na aldeia olímpica, onde os atletas ficam alojados. A socialização e refeições em grupo estão proibidas. Os atletas devem sair do Japão 48 horas após o seu último evento.

Ainda assim, a única coisa pior do que os Jogos Olímpicos em tempos de covid era não poder competir de forma alguma, dizem os atletas. "Se se tira as Olimpíadas, uma boa fatia do meu ‘porquê’ desaparece", diz Kate Nye, levantadora de peso dos EUA, que é a atual campeã mundial na divisão feminina de 71 quilos e compete pela primeira vez nos Jogos.

Ganhar uma medalha num palco mundial é algo óbvio para os atletas, mas o sucesso nos Jogos também pode trazer mais dinheiro e reconhecimento através de acordo de patrocínio ou apoio governamental. Para alguns, esta poderá ser a única oportunidade para ganhar uma medalha. Ainda que um ano extra de treino possa ter ajudado, os atletas dizem que a ansiedade trazida pela incerteza tem sido enervante.

Treinos interrompidos
"A vida é planeada à volta deste único evento", diz Nye, que vai voar sozinha até Tóquio quatro dias antes de competir, fazer a quarentena, competir e sair no dia seguinte - uma viagem de seis dias. "Quando não é concreto, parece um pouco que o mundo está a fugir de debaixo dos pés".

A equipa de levantamento de pesos dos EUA, que tinha planos para treinar no bairro de Aoyama, em Tóquio, preferiu mudar o quartel-general pré-Jogos para Honolulu, no Havai. Aí a equipa vai treinar durante duas semanas no horário de Tóquio para evitar o jet lag quando chegarem ao Japão.

Sem festas
As diretrizes ligadas ao vírus significam que muitos dos horários olímpicos ainda não estão definidos. A atleta holandesa de voleibol de praia Madelein Meppelink, de 31 anos, diz que espera chegar ao Japão uma semana antes dos jogos começarem, mas que não marcou ainda a viagem de regresso porque o último dia de competição dependerá da forma como joga.

Em Jogos passados, "se ficas de fora, podes apoiar os teus colegas atletas e experienciar todo um ambiente", diz. "E isso é algo que definitivamente não se pode fazer agora."

A falta de apoio social tem sido uma das questões mais difíceis de ajustar no último ano, dizem os atletas, já que muitos deles estão longe de familiares para treinar ou fazer quarentena por longos períodos.
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