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Haiti é o único país do hemisfério ocidental sem vacinas

O Haiti, o país mais pobre do hemisfério ocidental, ganhou outra distinção sombria: é o único que não vacinou um único habitante contra a covid-19.

12 de Junho de 2021 às 10:00
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Num grupo de nações ainda à espera de vacinas, o Haiti estava entre os 92 países pobres e de rendimento médio que receberam ofertas de doses através da iniciativa Covax. Mas o governo inicialmente recusou o fármaco da AstraZeneca, citando efeitos colaterais e temores generalizados da população.

"O Haiti não rejeitou a oferta de vacinas da Covax", disse o diretor-geral do Ministério da Saúde do Haiti, Laure Adrien, numa entrevista por telefone. "Tudo o que pedimos foi que mudassem a vacina que nos estavam a fornecer."

No mês passado, a equação tinha mudado. Os temores sobre a AstraZeneca diminuíam e o Haiti registava um aumento do número de casos. Quando o país finalmente concordou em receber as doses, já não havia disponibilidade devido a problemas de produção na Índia e a uma maior procura global.

O Painel de Mercado de Vacinas das Nações Unidas - que processa as informações fornecidas pela Covax - não tem entregas previstas para o Haiti. E Adrien disse que não sabe quando as vacinas chegarão.

Múltiplos problemas
A pandemia de covid-19 é apenas mais um problema que afeta o país de 11,3 milhões de habitantes. O Haiti enfrentou meses de protestos contra o presidente Jovenel Moïse e uma onda de violência de organizações criminosas e sequestros. No mês passado, um membro da equipa da ONG Médicos Sem Fronteiras, que administra várias clínicas e hospitais no Haiti, foi assassinado a caminho de casa.

A covid-19, juntamente com a violência, tornou-se mais um "grande obstáculo" para a prestação de cuidados básicos de saúde, disse a chefe da missão da ONG, Alessandra Giudiceandrea.

Embora o Haiti tenha registado 15.435 casos e 325 mortes por covid-19, a verdadeira extensão do problema é obscurecido pela falta de testes generalizados, disse.

"Vemos uma alta taxa de mortalidade e as instalações estão sobrecarregadas", afirmou.

A escassez de vacinas é ainda mais impressionante porque a vizinha República Dominicana, com a qual o Haiti divide a ilha de Hispaniola, vacinou quase 20% da população.

Estes fármacos estão disponíveis apenas para os cidadãos dominicanos e residentes documentados, deixando a maioria dos cerca de 750 mil haitianos que moram na ilha não elegíveis.

O padre Tomás Garcia, da Fundação La Merced, uma agência humanitária dominicana, disse que a vacinação de pessoas vulneráveis, independentemente da nacionalidade, deve ser uma prioridade.

"Não se trata de salvar a si mesmo, mas de salvar a todos", disse. "Estamos todos no mesmo barco."

Adrien, do Ministério da Saúde, disse que não está claro quais as vacinas que o Haiti pode receber primeiro, se as doses da Covax ou os fármacos oferecidos para a região na semana passada pelo Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

O mesmo responsável também argumentou que há um ponto positivo na chegada tardia das vacinas. Muitos haitianos teriam recusado vacinar-se antes devido à hesitação e o país está melhor preparado para as necessidades de armazenamento e distribuição a baixas temperaturas, afirmou.

"Não acho que o início tardio do programa de vacinação vá ter qualquer impacto na recuperação", disse Adrien. "Se começássemos mais cedo e fracassássemos no nosso programa de vacinas, seria o mesmo que se começássemos agora e tivéssemos sucesso no nosso programa."
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