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Estados Unidos: Os números de uma desgraça anunciada

Os Estados Unidos tornaram-se hoje o país com mais mortes relacionadas com a covid-19. Colocando os números em perspectiva face à população residente no país conclui-se que estão, para já, menos mal que Espanha e Itália, mas as perspectivas parecem mais negras no outro lado do Atlântico.

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11 de Abril de 2020 às 21:03
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Os Estados Unidos da América tornaram-se hoje no país com mais mortos por covid-19. Se há um mês Donald Trump desvalorizava a epidemia equiparando-a a uma gripe comum, apavorando os especialistas perante o desastre que se anunciava, agora, tanto os dados reunidos pela Universidade John Hopkins como os recolhidos pela Worldometer (que têm diferenças entre si) mostram que o país ultrapassou o anterior detentor do indesejado título de país com mais mortes: Itália. Em terceiro lugar surge Espanha, depois França e em quinto o Reino Unido. 

Segundo a universidade norte-americana, houve até agora 18.860 mortes, acima dos 18.849 óbitos registados em Itália. A Worldometer conta 20,1 mil mortos nos Estados Unidos, contra 19,5 mil em Itália. 

A taxa de letalidade ainda está longe da verificada nos dois países mais fustigados pela epidemia, mas é natural que venha a aumentar rapidamente. Nos EUA, a taxa ronda os 3,8%, abaixo de taxas de dois dígitos em Espanha e Itália. 

Se olharmos para o número de pessoas infetadas, a liderança dos EUA é incontestada já há algum tempo, com mais de meio milhão de infetados. Segundo a Worldometer, são 521 mil pessoas nos EUA contra 162 mil e 152 mil em Espanha e Itália, respetivamente. Na China, o número oficial é cerca de metade, em torno dos 80 mil.

Um país gigante com uma desgraça gigante

Os números absolutos impressionam, mas é preciso ter em conta que vivem nos Estados Unidos 331 milhões de pessoas, cinco vezes mais do que em Itália e sete vezes mais do que em Espanha. Vale a pena, por isso, colocar os números em perspetiva para perceber se a dimensão da epidemia é maior nos EUA dos que nos dois países europeus mais afetados pela doença. 

O terceiro país mais populoso do planeta tem, neste momento, cerca de 16 casos de infeção por cada 10 mil pessoas. O rácio em Itália é, ainda assim, superior, com 25 pessoas infetadas por cada 10 mil. Neste prisma, Espanha está ainda pior, com um rácio de 35 pessoas doentes por cada 10 mil pessoas. Curiosamente, o rácio norte-americano coincide com o português: 16 pessoas infetadas por cada 10 mil.

O ritmo de crescimento da doença, que também impressiona em termos absolutos, perde dimensão quando colocado em perspetiva. Neste momento, os Estados Unidos estabilizaram num crescimento diário em torno dos 18 mil novos casos, quatro a cinco vezes mais do que Espanha e Itália. Mas isto corresponde a um rácio de 56 novos casos por cada milhão de norte-americanos, contra 76 e 78 em Espanha e em Itália (usando os dados mais recentes do Worldometers). O rácio nos EUA supera apenas ligeiramente o que se verifica em Portugal, de 50 novos casos por cada milhão de portugueses.

Duas diferenças face a Portugal

Mas há duas grandes diferenças entre Portugal e os Estados Unidos, as duas em desfavor do gigante do lado de lá do Atlântico. A primeira é que, ao contrário de Portugal, os Estados Unidos têm feitos poucos testes ao vírus. Segundo o Worldometer, são 7,8 mil por cada milhão de norte-americanos, quase metade do valor registado em Portugal, que está ao nível de países como a Alemanha. Ou seja, isto significa que o desfasamento entre o número real de infetados e o número de casos identificados, que existe em todos os países, será ainda maior nos EUA. 

A outra grande diferença é que o ritmo de crescimento da epidemia está numa aparente tendência decrescente (com exceção do pico de sexta-feira que o Governo atribui a razões administrativas) enquanto nos Estados Unidos parece ainda estar a estabilizar. Na Europa, os números apontam para reduções sustentadas do ritmo de crescimento do contágio enquanto os Estados Unidos ainda parece estar a caminhar no topo de um planalto longo. 

Por outro lado, a inexistência de um serviço público de saúde forte nos EUA e as grandes desigualdades sociais também suscitam muita apreensão sobre a capacidade do país em responder às necessidades das camadas mais vulneráveis do país, em particular a população negra, que parece estar a ser duramente atingida. 

E finalmente, se ponderar o número de infetados e de mortos em função do número de habitantes é relevante para termos uma noção da dimensão da epidemia nos países, nunca se podemos esquecer que uma vida é sempre uma vida independentemente dos rácios que se possam fazer. E é por isso que o que se passa nos Estados Unidos é uma enorme tragédia humana seja qual for o prisma que se escolher. 

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