Notícia
Líder da "task force" defende adiamento da segunda dose para vacinar mais 200 mil até março
Gouveia e Melo diz que já mandou a DGS e o Infarmed avaliarem o aumento do intervalo entre as tomas da vacina por causa dos atrasos das farmacêuticas nas entregas e dos estudos que mostram uma proteção elevada após a primeira dose.
"Está a ser estudado, a meu pedido, pela Direção-Geral da Saúde e pelo Infarmed, se podemos alargar este período por duas semanas, de forma a conseguirmos antecipar a vacinação a cerca de 200 mil pessoas. É muito importante pelos 70% da proteção que pode dar. Reforçar a vacinação uma ou duas semanas mais tarde praticamente não vai fazer grande variação no processo de defesa da pessoa que já foi vacinada com a primeira dose", admitiu.
"E porque é um princípio bom: 70% de proteção é melhor do que 0% de proteção para 200 mil pessoas durante um período alargado", acrescentou, assumindo a incerteza atual na concretização deste objetivo. "É uma preocupação, não tenho a certeza de que vamos conseguir atingir o objetivo face ao número de vacinas que temos".
Lançado há algumas semanas, após o Reino Unido adiar a segunda toma de três para até 12 semanas para chegar a mais pessoas e reduzir as infeções e hospitalizações, o debate ressurge em vários países com a publicação de novos dados sobre a eficácia na primeira toma. Holanda e Dinamarca já passaram o prazo para seis semanas e em Portugal aumenta a pressão sobre as autoridades de saúde para ser seguido o mesmo caminho.
Em declarações ao Negócios, o imunologista Luís Graça, que integra a comissão técnica de vacinação contra a covid-19 da DGS, diz que "em países onde as vacinas não estão a chegar tão depressa e ainda existe uma transmissão importante na comunidade, como Portugal, esta é uma discussão que faz muito sentido". E que "seria uma grande ajuda" para o desconfinamento "em maior segurança".
E havendo agora provas de que "a generalidade das pessoas, de todas as idades, têm uma proteção muito significativa no período em que só estão abrangidas pela primeira dose", o investigador do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Universidade de Lisboa aponta que "de facto é claro o benefício de adiar a segunda dose para conseguir proteger a população mais suscetível".
"Constrangimento" nos idosos e imunidade no verão
Paralelamente, Henrique Gouveia e Melo enfatizou o "constrangimento difícil" da limitação na administração da vacina da Astrazeneca a pessoas com mais de 65 anos, salientando ter concentrado "todo o esforço e mais de 90% de todas as vacinas" disponíveis nas faixas etárias mais idosas em nome do objetivo de salvar vidas.
De acordo com o coordenador do plano de vacinação, que substituiu Francisco Ramos no início de fevereiro, a última previsão da chegada de vacinas a Portugal, fornecida pelo Infarmed em 19 de fevereiro, apontava para 2,5 milhões no primeiro trimestre, nove milhões no segundo trimestre, 14,8 milhões no terceiro e, finalmente, 9,5 milhões no quarto trimestre.
"Se esta previsão se concretizar - e é um 'se' muito grande -, a imunidade de grupo (os 70% de vacinação com doses iniciadas, não o processo completo) é atingida, em princípio, no início de agosto, de acordo com os nossos cálculos, não havendo limitações na administração das vacinas", ressalvou.
O coordenador da 'taskforce' revelou também já ter solicitado às Administrações Regionais de Saúde "metodologias para levar as vacinas às pessoas" idosas que se encontram isoladas ou acamadas, alertando que a vacinação contra a covid-19 "não é só um processo de quantidade, também tem de ser um processo de qualidade".
Em Portugal já morreram 16.086 pessoas entre os 799.106 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.