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França corta 28 mil milhões de euros em dois anos para cumprir metas
O país deverá furar as metas do défice e de corte de dívida previstos nos tratados europeus nos próximos anos. As poupanças vão desde venda de imobiliário do Estado à revisão no subsídio de desemprego. Standard & Poor’s faz avaliação de rating no início de dezembro.
Com os valores de défice e dívida muito acima do que está previsto nos tratados europeus, o governo francês está a preparar cortes de cerca de 28 mil milhões de euros ao longo dos próximos dois anos para conseguir uma aproximação ao que são as metas definidas por Bruxelas.
Para o próximo ano, o executivo liderado por Élisabeth Borne prevê poupanças na ordem dos 16 mil milhões de euros e em 2025 somam-se mais 12 mil milhões de euros. Para este ano, Paris prevê um défice de 4,9% do PIB, no próximo será de 4,4%, em 2025 será de 3,7% do produto e apenas em 2027 é que deverá situar-se abaixo do limite de 3%.
"Confirmamos metas de corte de despesa de 16 mil milhões de euros para o orçamento de 2024, e já estamos a preparar 12 mil milhões de poupanças para o orçamento de 2025", afirmou o ministro responsável pelo Orçamento, Thomas Cazenave, acrescentando que o governo ainda pretende reduzir os seus défices para 4,4% do PIB em 2024 e 3,7% em 2025.
Quanto à dívida pública, as previsões do governo apontam para um rácio de 109,7% do PIB este ano e no próximo, situando-se acima de Portugal, por exemplo.
A entrevista dos dois responsáveis governamentais surge em vésperas de a agência de rating Standard & Poor’s publicar a avaliação da notação financeira da França, prevista para o dia 1 de dezembro. Na última avaliação, a S&P manteve a notação em AA, com perspetiva negativa. Este esforço de Paris será uma tentativa de convencer os mercados e a agência de rating a melhorar ou mesmo manter a nota.
Para chegar aos valores de poupança esperados, Thomas Cazenave indicou, em entrevista ao jornal francês La Tribune Dimanche, que prevê libertar espaços ocupados por serviços do Estado, podendo mesmo acabar por vender os imóveis. De acordo com Cazenave, o objetivo é reduzir em um quarto o número de escritórios ocupados pela administração pública.
"Existe um motor real para a poupança, em particular com as novas formas de trabalhar", disse o responsável, referindo-se ao aumento do teletrabalho após a pandemia da covid-19. De acordo com Cazenave, a proporção de área de escritórios por funcionário público é de 24 metros quadrados, muito acima dos padrões das empresas privadas, e o governo quer reduzir esse número para 16 metros quadrados. "Também podemos considerar vendas de imóveis", acrescentou na entrevista publicada este domingo.
Questionado sobre se o governo conseguiria atingir a sua meta de reduzir a taxa de desemprego de 7% para 5% até 2027, o ministro das Finanças, Bruno Le Maire, disse que isso exigiria a revisão das políticas sociais, nomeadamente os subsídios de desemprego.
"Trabalhámos arduamente para passar de 9% para 7%, mas para passar para 5%, é necessário fazer escolhas corajosas... Todas as políticas que alimentam o desemprego dos mais velhos devem ser revistas", disse Le Maire.
"Confirmamos metas de corte de gastos de 16 mil milhões de euros para o orçamento de 2024, e já estamos a preparar 12 mil milhões de poupanças para o orçamento de 2025", declarou, acrescentando que o governo ainda pretende reduzir os seus défices para 4,4% do PIB em 2024 e 3,7% em 2025.