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Exportações puxam mais pelo PIB que procura interna
A economia vai abrandar face a 2015 penalizada tanto na frente interna, como externa. A surpresa positiva são exportações de bens não energéticos, que ganham quota de mercado, e a negativa está na queda de 1,8% do investimento.
O Banco de Portugal reviu a previsão de crescimento para a economia portuguesa de 1,3% para 1,1% este ano, alinhando-a com a maioria das estimavas revistas recentemente. A confirmar-se tratar-se-á de uma desaceleração da economia face aos 1,6% de crescimento registados em 2015, que traduz um pior desempenho interno e externo, e que tem no dinamismo das exportações de bens não energéticos a boa surpresa do ano, e na queda do investimento o desenvolvimento a mais preocupante.
De acordo com as previsões publicadas sexta-feira, dia 7 de Outubro, o crescimento de 1,1% será atingido com um contributo das exportações (líquido das importações) de 0,6 pontos. Esta é uma surpresa positiva: o contributo das exportações apanhou o banco central de surpresa – foi revisto em alta de 0,3 pontos em Junho para os actuais 0,6 pontos – e ultrapassa mesmo o contributo registado em 2015. Parcialmente a justificar o desempenho das exportações líquidas está um bom momento das vendas aos exterior de bens não energéticos que deverão ganhar quota de mercado, crescendo mais que em 2015, estima o banco central.
Pela negativa destaca-se o contributo para o crescimento da procura interna (também já líquida das importações), que contribuirá para o aumento real do PIB com apenas 0,5 pontos – o que também apanhou o banco central de surpresa (previa o dobro em Junho), e reflecte uma desaceleração significativa face ao contributo de 1,1 pontos registado em 2015.
A justificar o pior desempenho da procura interna está um abrandamento do consumo – que poderá estar a estabilizar depois do crescimento registado após a fase mais agitada da crise, admite o banco central – e, mais preocupante, uma queda de 1,8% no investimento, em contraste com o crescimento verificado nos dois últimos anos.
A queda é o desenvolvimento mais alarmante dos números avançados pelo Banco de Portugal, que identifica alguns dos factores de pressão este ano: piores condições climatéricas no início do ano prejudicaram o investimento residencial, a consolidação orçamental travou o investimento público, e o investimento empresarial poderá ter sido penalizado por maior níveis de incerteza política – isto para além de sofrer com os elevados níveis de endividamento empresarial que continuam a pesar nas opções das empresas e na sua capacidade de financiamento.
Desemprego surpreende pela positiva
O menor dinamismo da actividade económica contrasta, no entanto, com a evolução no mercado de trabalho. O Banco de Portugal está impressionado e antecipa que a taxa de desemprego fique nos 11,2%, abaixo até da previsão do Governo. Os bons resultados do mercado de trabalho impressionam mais tendo em conta a queda nas contracções do número de estágios financiados pelo IEFP.
O emprego está a crescer entre aqueles que têm qualificações superiores ao ensino secundário, destacam os economistas do banco central, que sublinham ainda que o desemprego caiu bastante entre os desempregados de curta e média duração, mantendo-se elevado para os de longa duração.
Na frente externa, as previsões apontam ainda para que o país continue a apresentar um excedente na balança corrente e de capital, equivalente a 1,3% do PIB e abaixo dos 1,7% de 2015, penalizada principalmente por mais rendimentos pagos ao exterior.
A execução orçamental tem dado bons sinais e outras instituições, como o Conselho das Finanças Públicas, também consideram que esse objectivo é possível. Por outro lado, o Fundo Monetário Internacional espera um défice de 3%. A ideia de que os 2,5% estão ao alcance do Governo é sublinhada logo no arranque do boletim, dizendo que o objectivo para o défice "pode ser atingido", embora aí sublinhe a existência de "factores de risco não negligenciáveis". De referir que esta estimativa não inclui ainda o perdão fiscal anunciado ontem pelo Governo que, nesta lógica de consolidação orçamental, representa um risco positivo.