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Espanha, França e Reino Unido abrandam. Ciclo económico já vai virar?

O ritmo de crescimento de três das maiores economias europeias abrandou no primeiro trimestre deste ano e o indicador de clima económico da Zona Euro caiu. Os avisos de Mário Draghi já chegaram ao terreno?

Reuters
Espanha, França e Reino Unido publicaram esta sexta-feira, 27 de Abril, as primeiras estimativas para o andamento da actividade económica no primeiro trimestre. As três economias deram sinais de abrandamento, indo ao encontro dos avisos que o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, deixara na véspera. Também hoje, a direcção-geral da Economia e Finanças da Comissão Europeia (DGEcfin) deu nota de uma quebra no indicador de clima económico da Zona Euro. Estará a Europa à beira da viragem do ciclo?

Depois de a Zona Euro ter registado em 2017 o maior ritmo de crescimento da década (2,3%), os indicadores no início de 2018 têm sido pouco animadores. O indicador de clima económico da Zona Euro caiu 0,09 pontos, para 1,35, com a DGEcfin a sinalizar que a avaliação dos empresários sobre a sua produção passada e as encomendas totais "piorou marcadamente". Também as expectativas sobre as encomendas de exportação se degradaram.

França, uma das maiores economias da Zona Euro, publicou esta sexta-feira a primeira estimativa para o PIB do primeiro trimestre. Os dados, corrigidos de sazonalidade, mostram um abrandamento: depois de ter crescido 0,7% no final de 2017, o PIB francês avançou apenas 0,3% entre Janeiro e Março.

Em Espanha os sinais são menos preocupantes, mas ainda assim mostram uma travagem no ritmo de crescimento. Pela primeira vez em 12 trimestres, o crescimento homólogo ficou abaixo dos 3%. Já os dados trimestrais, corrigidos dos efeitos da sazonalidade, mantiveram o mesmo ritmo da segunda metade do ano passado: 0,7%.

Fora da Zona Euro, no Reino Unido, os sinais são semelhantes: a economia abrandou para um crescimento trimestral de apenas 0,1%, o pior desde o final de 2012 e abaixo das expectativas dos analistas consultados pela Bloomberg, que apontavam para 0,3%.

Economistas já tinham sinalizado abrandamento

Estes resultados confirmam os primeiros indicadores que já vinham sendo notados pelos economistas. Em Março, o PMI, um indicador-chave para avaliar a confiança dos empresários na zona euro, ficou abaixo dos 57 pontos. Ao longo de todo o ano passado este indicador registou ganhos, mas desde o início deste ano que perdeu gás. Se cair para menos dos 50 pontos, passa a sinalizar uma contracção económica, em vez de crescimentos.

No seu relatório sobre perspectivas para a União Europeia, a Capital Economics – uma empresa de consultoria e investigação macroeconómica com base em Londres – reconhece que os resultados de actividade em Janeiro e Fevereiro "foram desapontantes". O índice construído por estes analistas, que se baseia na produção industrial e de construção, somada às vendas de retalho e automóveis, sugere que o crescimento do PIB da zona euro no primeiro trimestre deste ano foi bem mais fraco do que o registado nos últimos três meses de 2017.

Ou seja, que o abrandamento económico está a acontecer já parece inegável. O ritmo de crescimento de 2018 deverá mesmo ser mais fraco do que o verificado no ano passado, tal como projectado pelos principais institutos internacionais. Mas a grande questão é a de saber se apesar deste abrandamento a economia continuará a viver um bom momento de crescimento, ou se o ciclo vai mesmo virar, dando lugar a um abrandamento mais estrutural da região.

O que é que este abrandamento quer dizer?

Esta quinta-feira, 26 de Abril, Mario Draghi deixou avisos, mas manteve-se ainda confiante. O presidente do BCE notou que "é preciso ter em conta que os actuais indicadores, que estabilizaram, permanecem acima dos níveis históricos. E surgem depois de um período de forte crescimento". Ainda assim, deu nota de algumas quedas "acentuadas" e de alguma forma inesperadas, embora também existam factores temporários (como greves e a meteorologia) para explicar o abrandamento da economia.

Na semana passada, o Financial Times contava  como alguns economistas acreditam que o abrandamento verificado na região se deve a questões de curto prazo, como greves dos trabalhadores alemães ou um surto severo de gripe, que afecto centenas de milhares de pessoas na maior economia do euro.

Por enquanto, os economistas corroboram a ideia de que o abrandamento será sobretudo conjuntural, mas que a actividade continuará a bom ritmo. Conforme explicou esta quinta-feira a Bloomberg, a Zona Euro deverá continuar a crescer acima do seu potencial: excluindo o efeito de carry-over provocado pelo crescimento elevado de 2017, a actividade deverá expandir-se 1,4%, quando o PIB potencial da região se estima ser de 1,2%.

Também a Capital Economics se mostra tranquila. "Não vemos [este abrandamento] como o início de uma travagem séria", lê-se no relatório para a União Europeia. "A Zona Euro em particular tem mais capacidade instalada disponível do que as estimativas oficiais sugerem e pensamos que um investimento mais forte vai suportar a continuação do investimento saudável", somam ainda os investigadores.

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