Notícia
Banco de Portugal espera recessão de 9,5%, a pior desde 1928
O cenário central da instituição liderada por Carlos Costa passou a ser pior do que as projeções mais pessimistas que o banco central tinha imaginado em março. Agora o cenário severo já admite recessão de 13,1%.
A carregar o vídeo ...
O Banco de Portugal antecipa uma recessão cada vez mais profunda da economia portuguesa. Nas últimas projeções apresentadas sob a liderança do governador Carlos Costa, a instituição antecipa uma queda da economia portuguesa de, pelo menos, 9,5% este ano. Este é um cenário mais negro do que as projeções mais adversas que estavam a ser consideradas pelo banco há apenas três meses. Os números constam do Boletim Económico de junho, publicado esta terça-feira.
O aviso é deixado à cabeça: o nível de incerteza é radicalmente elevado e por isso os intervalos de projeção para o que vai acontecer ao PIB são, neste momento, muito alargados. As premissas utilizadas pelo Banco de Portugal para tentar antecipar a dimensão da contração económica têm por base um cenário muito negro também em termos internacionais e resultam, em parte, de um trabalho conjunto de todos os bancos centrais do euro.
Mas, feitas as ressalvas, os números são devastadores. O que o Banco de Portugal diz que vai acontecer à economia portuguesa é bastante pior do que o admitido em março, quando a pandemia mal estava a começar e as medidas de contenção ainda não tinham sido implementadas em pleno. Agora, com meio ano já volvido, a instituição apresenta uma recessão de 9,5% no seu cenário central, e de 13,1% num exercício que considera hipóteses mais severas para a evolução da covid-19.
As projeções do BdP contrastam com as que serviram de base ao Governo para desenhar o Orçamento do Estado Suplementar, a alteração à lei que pretende dotar as administrações públicas dos meios de financiamento necessários para responder à crise. No documento do Governo, defendido esta manhã pelo recém empossado ministro das Finanças João Leão, admite-se uma recessão de 6,9% da economia portuguesa, um cenário pouco provável nas contas do Banco de Portugal.
O cenário do banco central ainda não inclui todas as medidas previstas no Programa de Estabilização Económica e Social e no Orçamento do Estado, uma vez que a data de fecho da informação é anterior à apresentação dos documentos. Estas medidas terão um impacto positivo no crescimento - mas, mesmo assim, o que o relatório do BdP diz é que os riscos são no sentido negativo.
No cenário central do BdP, depois da quebra profunda em 2020, a recuperação será relativamente vigorosa (a projeção aponta para um crescimento de 5,2% em 2021 e de 3,8% em 2022) mas será apenas o suficiente para repor o PIB num nível próximo do de 2019. Face ao ponto que, em dezembro do ano passado, se esperava que Portugal chegasse, o PIB estará 6% aquém.
Serviços desta vez não são amortecedor da crise
Um dos motivos que justificam uma quebra tão profunda da economia portuguesa é o facto de ser fortemente sustentada nos serviços. Este setor, que habitualmente é o amortecedor das crises, desta vez propaga os efeitos da pandemia, porque é mais afetado do que os demais e também demorará mais tempo a recuperar, antevê o Banco de Portugal.
O turismo é o setor onde esta persistência dos efeitos nos serviços é mais evidente: enquanto as exportações de bens deverão evoluir em linha com o indicador de procura externa dirigida à economia portuguesa, as de serviços vão sofrer uma queda mais acentuada e terão uma "recuperação mais lenta", diz o BdP, devido à componente de turismo e outros serviços que lhe estão associados.
Do lado do consumo privado, a contração será maior do que a redução previsível do rendimento disponível, porque as famílias sofreram, por um lado, restrições no acesso aos bens, por causa das medidas de confinamento, e por outro aumentarão a taxa de poupança como reação à degradação das expectativas.
No investimento, os impactos mais negativos serão sentidos na componente empresarial, já que será a mais afetada pelos níveis historicamente elevados de incerteza. O investimento residencial vai beneficiar das condições de financiamento muito favoráveis, e de alguma procura de não residentes.
As consequências da recessão serão bastante evidentes no mercado de trabalho. O emprego deverá recuar 4,5% e a taxa de desemprego subirá até aos 10%. E chegados a 2022, mesmo assumindo os crescimentos expressivos previstos para o PIB, a recuperação será incompleta no mercado de trabalho, com os indicadores a ficarem piores do que os níveis de 2019.
O aviso é deixado à cabeça: o nível de incerteza é radicalmente elevado e por isso os intervalos de projeção para o que vai acontecer ao PIB são, neste momento, muito alargados. As premissas utilizadas pelo Banco de Portugal para tentar antecipar a dimensão da contração económica têm por base um cenário muito negro também em termos internacionais e resultam, em parte, de um trabalho conjunto de todos os bancos centrais do euro.
As projeções do BdP contrastam com as que serviram de base ao Governo para desenhar o Orçamento do Estado Suplementar, a alteração à lei que pretende dotar as administrações públicas dos meios de financiamento necessários para responder à crise. No documento do Governo, defendido esta manhã pelo recém empossado ministro das Finanças João Leão, admite-se uma recessão de 6,9% da economia portuguesa, um cenário pouco provável nas contas do Banco de Portugal.
O cenário do banco central ainda não inclui todas as medidas previstas no Programa de Estabilização Económica e Social e no Orçamento do Estado, uma vez que a data de fecho da informação é anterior à apresentação dos documentos. Estas medidas terão um impacto positivo no crescimento - mas, mesmo assim, o que o relatório do BdP diz é que os riscos são no sentido negativo.
No cenário central do BdP, depois da quebra profunda em 2020, a recuperação será relativamente vigorosa (a projeção aponta para um crescimento de 5,2% em 2021 e de 3,8% em 2022) mas será apenas o suficiente para repor o PIB num nível próximo do de 2019. Face ao ponto que, em dezembro do ano passado, se esperava que Portugal chegasse, o PIB estará 6% aquém.
Serviços desta vez não são amortecedor da crise
Um dos motivos que justificam uma quebra tão profunda da economia portuguesa é o facto de ser fortemente sustentada nos serviços. Este setor, que habitualmente é o amortecedor das crises, desta vez propaga os efeitos da pandemia, porque é mais afetado do que os demais e também demorará mais tempo a recuperar, antevê o Banco de Portugal.
O turismo é o setor onde esta persistência dos efeitos nos serviços é mais evidente: enquanto as exportações de bens deverão evoluir em linha com o indicador de procura externa dirigida à economia portuguesa, as de serviços vão sofrer uma queda mais acentuada e terão uma "recuperação mais lenta", diz o BdP, devido à componente de turismo e outros serviços que lhe estão associados.
Do lado do consumo privado, a contração será maior do que a redução previsível do rendimento disponível, porque as famílias sofreram, por um lado, restrições no acesso aos bens, por causa das medidas de confinamento, e por outro aumentarão a taxa de poupança como reação à degradação das expectativas.
No investimento, os impactos mais negativos serão sentidos na componente empresarial, já que será a mais afetada pelos níveis historicamente elevados de incerteza. O investimento residencial vai beneficiar das condições de financiamento muito favoráveis, e de alguma procura de não residentes.
As consequências da recessão serão bastante evidentes no mercado de trabalho. O emprego deverá recuar 4,5% e a taxa de desemprego subirá até aos 10%. E chegados a 2022, mesmo assumindo os crescimentos expressivos previstos para o PIB, a recuperação será incompleta no mercado de trabalho, com os indicadores a ficarem piores do que os níveis de 2019.