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Banco de Portugal admite "sobrestimação" da inflação na Zona Euro, mas tenta explicar porquê

O banco central admite que, tal como o BCE, tem sobrestimado a evolução da inflação. Porquê? Há algumas razões que poderão explicar o período de baixa inflação que não foi antecipado.

Pedro Elias
17 de Dezembro de 2019 às 13:00
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É uma espécie de mistério que se instalou na Zona Euro: mesmo com os juros em níveis historicamente baixos, as compras massivas do BCE e a economia a crescer (e a taxa de desemprego a descer), este tem sido um período de baixa inflação. E que "não foi antecipado", assume o Banco de Portugal (BdP) no boletim económico de dezembro divulgado esta terça-feira, 17 de dezembro, admitindo que sobrestimou a inflação.

"Este período de baixa inflação não foi antecipado, o que resultou numa sobrestimação sucessiva da inflação subjacente nos exercícios de projeção realizados pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Eurosistema", incluindo o Banco de Portugal, assume o banco central, referindo que os níveis de inflação têm sido "particularmente contidos" em Portugal, o que está "diretamente" relacionado com o "baixo nível de inflação observado na área do euro".

Para o futuro, com base nas suas projeções, o BdP prevê que "esta tendência se mantenha ao longo do horizonte de projeção, não obstante alguma recuperação". Tal como o Negócios escreveu na semana passada, as previsões do BCE sugerem que a nova presidente, Christine Lagarde, não atingirá a meta de inflação durante primeira metade do seu mandato.

Assumida a sobrestimação e projetada uma continuação da inflação baixa, os economistas do banco central foram à procura de respostas: o que explica este fenómeno? Há algumas razões que poderão explicar. 

O principal (e mais forte) argumento dado para que a inflação continue baixa, em termos históricos, é o enfraquecimento do canal de transmissão entre os salários e os preços. Os dados sugerem que o período prolongado de baixa inflação possa estar a limitar as expectativas sobre a evolução dos salários através das exigências dos sindicatos e trabalhadores e a condicionar os aumentos dos preços - com as empresas a acomodar a subida dos custos do trabalho, reduzindo as margens de lucro.

Em linha com esta explicação está a globalização e a integração em cadeias de valor globais, o que pressiona as empresas através da maior concorrência internacional ao nível do preço. Além disso, as empresas podem importar bens e serviços a preços mais baixos ou até deslocalizar parte da produção para países com salários mais baixos, o que contribuiu para reduzir (ou não aumentar) o preço final no consumidor.

Da mesma forma, a inovação tecnológica também contribui para o aumento da concorrência e para a redução dos custos, em particular com o advento do comércio online (e-commerce) que permite a comparação de preços para o mesmo bem e serviços de forma simples. 

Há ainda uma justificação mais técnica que pode estar a levar a este desencontro entre as previsões de inflação e o valor apurado posteriormente pelos gabinetes de estatísticas. Em causa está a medição da posição cíclica da economia, em específico o quão perto está do pleno emprego e da total utilização dos recursos disponíveis. Quando a economia está nesse nível, as pressões inflacionistas tendem a ser maiores, mas neste caso a medição tem sido incorreta.

Por último, é tudo uma questão de expectativas: o BdP admite que se possa estar a verificar um ciclo vicioso em que a expectativa de baixa inflação alimente a fraca evolução dos preços, sendo ao mesmo tempo causa e consequência. Tal é particularmente visível nos últimos meses na recolha que o BCE faz das previsões dos profissionais para a inflação, cujo valor de longo-prazo está em mínimos historicamente baixos.

"O conjunto de argumentos apresentados sugere que a inflação na área do euro tenderá a permanecer abaixo do objetivo do BCE, o que coloca desafios importantes à condução da política monetária no futuro próximo", conclui o banco central.
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