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Recuperação ambiente nas minas de S. Domingos vai avançar
As obras de recuperação ambiental do antigo complexo da mina de S. Domingos, no concelho de Mértola, no Alentejo, deverão arrancar este ano, num investimento de 20 milhões de euros para resolver problemas ambientais com 50 anos.
O objectivo principal do projecto é "recuperar impactos ambientais negativos", principalmente contaminação de águas e solos, decorrentes da exploração da mina, desactivada em 1966, disse à agência Lusa Rui Rodrigues, presidente da EDM - Empresa de Desenvolvimento Mineiro, a responsável pelas obras.
Devido à "complexidade" das situações de contaminação e à "vasta extensão da área degradada", que se estende por 600 hectares, as intervenções do projecto, que este domingo será apresentado na aldeia de Mina de S. Domingos, no concelho de Mértola, no distrito de Beja, vão ser desenvolvidas em seis fases, explicou.
Segundo Rui Rodrigues, a EDM lançará o concurso público para realização das obras da primeira fase do projecto, que vão implicar um investimento de 3,8 milhões de euros, para "arrancar no final deste ano ou no princípio de 2017", e que durarão entre 14 e 18 meses, terminando em 2018.
As obras da primeira fase, que incluem a recuperação do sistema de canais de recolha de águas de escorrência superficial na margem direita do vale da ribeira de S. Domingos, vão ser financiadas em 85% por fundos do actual quadro de apoios comunitários, o Portugal 2020, através do Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso dos Recursos (POSEUR), e em 15% por verbas do Orçamento do Estado.
A EDM vai, entretanto, "preparar as condições" para concretizar as restantes cinco fases e "fazer todos os esforços" para as financiar através do mesmo modelo da primeira, "aproveitando" os fundos comunitários do Portugal 2020, disse.
Segundo a EDM, a segunda fase do projecto inclui obras de recuperação do sistema de canais de recolha de águas de escorrência superficial na margem esquerda do vale da ribeira de S. Domingos e a terceira a concentração e o confinamento dos resíduos mineiros da antiga área mineira.
A quarta fase prevê a recuperação do sistema de drenagem e tratamento das águas ácidas, a quinta a descontaminação do vale da ribeira do Mosteirão e a sexta a recuperação e valorização patrimonial e turística da antiga área mineira de S. Domingos.
A EDM também assina hoje com a Câmara de Mértola um acordo de parceria para a valorização do potencial cultural, turístico, geológico e mineiro de zonas e edifícios da antiga área mineira abandonada e recuperada de S. Domingos.
O acordo prevê intervenções que vão ser desenvolvidas em paralelo com as obras das seis fases do projeto de recuperação ambiental do antigo complexo da mina de S. Domingos e irão "permitir valorizar e integrar os espaços recuperados na envolvente", explicou Rui Rodrigues.
Em declarações à Lusa, o presidente da Câmara de Mértola, Jorge Rosa, mostrou-se "extremamente satisfeito" por as obras, que "o município reclama há tanto tempo", "finalmente" irem avançar para "resolver problemas ambientais que surgiram e já se arrastam há 50 anos", desde que a mina foi desativada devido ao esgotamento das reservas.
Trata-se de um projecto "bastante importante do ponto de vista ambiental", porque vai permitir descontaminar águas e solos de zonas do antigo complexo mineiro, situado junto à aldeia de Mina de S. Domingos, que foi construída para ser o polo habitacional dos trabalhadores da mina, indicou.
Por outro lado, frisou, a recuperação ambiental "abre novos horizontes" na estratégia de desenvolvimento turístico do antigo complexo mineiro, que vai ficar "mais atractivo e com melhores condições de visitação", e da aldeia de Mina de S. Domingos.
Segundo o autarca, o projecto vai fazer com que a estratégia "se torne mais eficaz e possa multiplicar o número de visitantes" da aldeia.
O objectivo é "aproveitar melhor a grande mais-valia" da aldeia pelo seu passado histórico de exploração mineira e "por tudo o que se criou na zona nos últimos anos e tem vindo a contribuir para que muita gente a visite", sublinhou.
A mina de S. Domingos, outrora a maior da Europa, era conhecida desde o período romano, mas só começou a ser explorada em termos industriais, pela empresa Mason & Barry, em 1854, quando foi redescoberta por Nicolau Biava, a soldo da La Sabina.
Segundo a EDM, entre 1855 e 1966, foram retirados cerca de 25 milhões de toneladas de minério da mina, que "empregou milhares de trabalhadores" e, até à década de 1930, foi a maior exploração mineira em Portugal.