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Quase 2.200 oliveiras abandonadas foram salvas em 2023 pela Transição Justa em Portugal e Espanha
A meta da Endesa e da organização não governamental "Apadrinha uma Oliveira" é abranger 70.000 oliveiras na Península Ibérica. Em 2023 foi possível recuperar já 2.174 oliveiras (1.000 na zona de Andorra e 1.074 no Pego) e angariar cerca de 1.100 padrinhos, que contribuíram com 66 mil euros para o projeto, e em troca receberam 2.220 litros de azeite.
Em Abrantes, a Endesa investiu um milhão de euros no projeto, que conta com três ex-trabalhadores da central a carvão do Pego, tem cerca de 20 parcelas de terreno e mais de 1.000 oliveiras (um número acima de Espanha), ambicionando chegar à marca de 300 padrinhos no ano passado. Para apadrinhar uma oliveira basta pagar uma contribuição anual de 60 euros, escolher uma sua oliveira abandonada, baptizá-la (e visitá-la sempre que quiser), recebendo em troca dois litros de azeite virgem extra por ano.
Em 2023, foi possível recuperar já 2.174 oliveiras (1.000 na zona de Andorra e 1.074 no Pego), tendo aderido ao projeto cerca de 1.100 padrinhos de ambos os países, que contribuíram com 66 mil euros para o projeto, e em troca receberam 2.220 litros de azeite. O projeto conseguiu contratar um total de 28 pessoas em Portugal e Espanha Em Andorra, na província de Teruel, a Apadrinaunolivo.org já contratou 25 pessoas e tem como objetivo contratar mais de 250 pessoas até 2028. No Pego, região de Abrantes, onde o projeto arrancou no verão passado, já foram contratadas três pessoas, tendo sido estabelecida a meta de criar até 27 postos de trabalho.
"Nas imediações da central térmica a carvão de Andorra, atualmente em desmantelamento, existem grandes áreas de oliveiras com uma variedade única de azeitona, a manzanota. Em Portugal, muito perto da central térmica do Pego, também já encerrada, encontra-se a oliveira mais antiga da Península Ibérica, testemunha silenciosa de um mundo que está em evolução, mas que, ao mesmo tempo, quer regressar às raízes. Ambos os processos de encerramento das centrais a carvão estão a ser acompanhados por um plano socioeconómico liderado pela Endesa, depois de vencer os dois únicos concursos de Transição Justa realizados até agora na Península", refere a elétrica em comunicado.
"Além da recuperação das duas centrais, queremos acrescentar medidas que ajudem a fixar a população nestas duas regiões. Para tal, será desenvolvido o lagar de Oliete, para o projecto de Andorra, e o mesmo será feito no Pego. Além disso, em ambos os projetos colaboramos com uma fábrica de conservas local para expandir a sua produção e realizá-la com azeite com denominação de origem protegida", refere ainda a Endesa.
Em Abrantes, o líder do projeto "Apadrinha uma Oliveira" é João Rijo, de 53 anos, que trabalhou a vida toda na central a carvão do Pego e agora está à frente da iniciativa em Portugal. "A minha ligação à tradição olivícola vem de longa data: a família da minha mulher tem oliveiras e eu sei o que é colher azeitonas e levá-las ao lagar. Sempre morei na zona, trabalhei na central do Pego, e as oliveiras foram atores secundários na minha vida", recorda, acrecsentando: "Foram necessários 32 anos para que as oliveiras se tornassem atores principais na minha vida e deixassem de ser secundários. Depois da passagem pelo Pego, este projeto inovador permite-me aprender e reconectar-me com a terra e com o que nos rodeia, desta vez olhando para as riquezas naturais que temos à nossa frente".
Além de João Rijo, também João Amaro e Cláudio Justo, todos eles ex-trabalhadores do Pego, preferiram abdicar do valor dos salários que lhes estavam a ser pagos pelo Mecanismo de Compensação para uma Transição Justa (em troca de frequentarem cursos de formação) e arranjaram emprego no projeto "Apadrinha uma Oliveira", recebendo agora menos dinheiro neste emprego atual. Fizeram-nos por acreditar que seria mais difícil "dar o salto" para o mercado de trabalho mais tarde. O Negócios falou com eles no final de novembro (por ocasião do segundo aniversário do encerramento da central do pego), num olival em recuperação na localidade das Mouriscas (onde fica a oliveira do Mouchão, com cerca de 3.500 anos).
Também no final de novembro, a Endesa revelou novidades sobre o seu projeto de mais de 800 MW de energias limpas para o Pego. Depois de o responsável da empresa em Portugal, Guillermo Soler, ter garantido que o projeto poderia começar a produzir energia renovável em 2025, a elétrica avançou entretanto que a nova data para a entrada em operação comercial é agora um ano mais tarde, em 2026. Da mesma forma, também o valor do investimento previsto sofreu uma atualização, tendo sido revisto em alta dos 600 milhões de euros iniciais para 700 milhões.
Isto na sequência do concurso do Governo que a elétrica espanhola venceu em 2022 para construir na região um novo projeto híbrido que combina energia solar fotovoltaica, energia eólica, armazenamento em baterias e produção de hidrogénio verde, num total de 797 MW. Ao nível da reintegração de ex-trabalhadores da central do Pego, a Endesa comprometeu-se a criar 75 postos de trabalho com o novo projeto. Quanto ao plano de formação previsto para a nova Escola Rural de Energia Sustentável, este prevê abranger cerca de 1.300 pessoas. Até agora, registam-se 86 alunos formados e 600 horas de formação.
"Desde que foi adjudicado o concurso para a transição justa no Pego, a Endesa tem trabalhado para implementar todos os projetos, estamos nas fases de tramitação dos mesmos e continuamos a trabalhar para alcançar os objetivos estabelecidos pelo concurso lançado pelo Governo", disse ao Negócios fonte oficial da elétrica. Além disso, a empresa transferiu a sua sede para Abrantes, onde criou já 14 postos de trabalho, incluindo oito antigos trabalhadores da central a carvão.