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Portugal está preparado para prever cheias iguais às de Valência, garante APA
"Ninguém está preparado para uma grande catástrofe. O que podemos fazer é diminuir o impacto, prever e dar o alerta a tempo", disse a ministra do Ambiente durante uma visita à Sala de Emergências da APA.
No caso de um evento climático extremo como aquele que levou às recentes cheias que devastaram a região de Valência, em Espanha, e mataram mais de 225 pessoas, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) garantiu esta quarta-feira que Portugal está preparado para antever e prevenir uma situação semelhante.
Isto graças a um sistema nacional que integra 800 estações de controlo espalhadas por todo o país, cuja gestão e manutenção custa anualmente 1,2 milhões de euros.
"Ninguém está preparado para uma grande catástrofe. O que podemos fazer é diminuir o impacto, prever e dar o alerta a tempo. É isso que acontece na sala de emergência da APA. Assim que recebem os alertas de chuva do IPMA, é feito imediatamente o controlo da situação com os dados das estações espalhadas pelo país e dos medidores de caudal. Com isso fazem uma previsão das áreas com mais problemas", disse a ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, lembrando que nas inundações mais recentes no Algarve a APA passou informação à Proteção Civil e ao Governo dos locais problemáticos, tendo sido contactadas também as autoridades locais de Tavira, Olhão, Alcácer do Sal, entre outros.
"Não houve maiores danos porque as pessoas sabiam o que ia acontecer e estavam prevenidas. Foi dado o alerta a tempo", diz a governante. Por comparação com Espanha, a ministra garante que Portugal tem "um sistema nacional bem montado para alertar as pessoas no caso de uma inundação", além de todo o trabalho que tem vindo a ser feito para que os rios deixem de estar emparedados e tenham espaço nas suas margens para abarcar subidas repentinas de caudal.
Portugal tem neste momento 63 zonas (17 são costeiras) identificadas como tendo maior risco de inundações, que abrangem 105 municípios (mais a norte e centro) e mais de 100 mil pessoas. O novo presidente da APA, José Pimenta Machado, fala num país com muitas assimetrias regionais, o que torna tudo mais difícil de gerir e prevenir.
"As zonas de Coimbra e Lisboa estão em leitos fluviais mais cheios, e por isso não podem ter construção em cima dos rios, para evitar o que aconteceu em Valência", diz o responsável.
Apesar do nível de preparação para alertar para cheias e inundações, o responsável alertou para o facto de que, todas as semanas, pelo menos duas das 800 estações do Sistema de Vigilância e Alerta de Recursos Hídricos (SVARH) serem vandalizadas (por tiros de caçadores, roubo de painéis, roubo de sondas), o que obriga a um investimento ainda maior ."Sem estas estações de controlo no terreno, ficamos cegos. São os nossos olhos no terreno.", disse.
E dá um exemplo: "Conseguimos saber, em tempo real, que na zona do castelo de Almourol estão neste momento a passar mais de 300 metros cúbicos de água por segundo".
Apesar da importância da medição, a APA não prevê para já aumentar a rede de 800 estações de controlo, com a ministra a garantir que "não foi pedido mais dinheiro ao Governo para o efeito". "É uma área prioritária, por isso estará sempre assegurado o investimento que for preciso, porque temos um programa operacional para o efeito. Não será por falta de financiamento que haverá problemas", garantiu Maria da Graça Carvalho.
O ponto de situação foi feito durante uma visita da ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, ao Centro de Controle de Inundações da APA, em Lisboa. Na sede da agência, a ministra anunciou a composição da nova administração da APA, que além de Pimenta Machado como presidente (sucedendo a Nuno Lacasta, que saiu no contexto da Operação Influencer), integrará também Rogério Silva como vice-presidente e Inês Costa Andrade como vogal.
A ministra sublinhou também os 149 novos trabalhadores que acabam que ser admitidos para os quadros da APA, que agora chegam a um total de 941 e revelou que a agência terá uma "ligeira alteração na sua estrutura interna". "A APA é uma das instituições fundamentais para o nosso ministério e para o país, com grande responsabilidade no equilíbrio entre o desenvolvimento económico e sustentável do país", disse Maria da Graça Carvalho.
Aos quase 1.000 funcionários da agência a ministra vai pedir "o mesmo rigor, mas mais rapidez" nas respostas aos promotores, no caso do licenciamento de projetos, atendimento ao público e também que a APA justifique melhor os "nãos" que dá a determinados projetos, de energias renováveis e não só, oferecendo sempre uma alternativa de local, por exemplo, para que o investimento estrangeiro não fuga do país para outras geografias.
"Quando a APA diz não, tem que ser muito bem explicado e, se possível, dar uma alternativa. Porque nós precisamos dos investimentos para o país. Vou pedir mais diálogo com os promotores", reforçou.
A visita incluiu também um ponto de situação da APA em termos de investimentos a realizar na proteção dos recursos hídricos, planeamento e resposta a emergências radiológicas e o programa de monitorização do litoral, no valor de 3,3 milhões de euros, iniciado em julho de 2018, que permite diagnosticar o estado de evolução e erosão da faixa costeira.