Notícia
Economia dos ecossistemas
Num mundo em que tudo tem uma etiqueta com o preço, avaliar dólar por dólar e euro por euro o preço da água do mar, das árvores da floresta e mesmo dos sapos, tigres ou linces que arriscamos perder pode ser o caminho mais directo para a decisão de...
23 de Abril de 2010 às 11:20
Um estudo recente promete mudar as perspectivas de políticos e gestores
Num mundo em que tudo tem uma etiqueta com o preço, avaliar dólar por dólar e euro por euro o preço da água do mar, das árvores da floresta e mesmo dos sapos, tigres ou linces que arriscamos perder pode ser o caminho mais directo para a decisão de empresários, políticos e cidadãos em geral.
O estudo "The Economics of Ecosystems and Biodiversity" (TEEB) é o passo seguinte ao relatório do inglês Nicholas Stern, que há quatro anos lançou novas bases para a discussão sobre as alterações climáticas.
De onde partiu a iniciativa para o estudo de 300 páginas que marca, em 2010, a agenda do Ano Internacional da Biodiversidade? Tudo começou em Março de 2007, na reunião dos ministros do Ambiente do G8 com os congéneres das cinco maiores economias emergentes - Brasil, China, Índia, México e África do Sul. Na ocasião, o Governo alemão propôs que fosse estudado "o significado económico da perda global de diversidade biológica" como um dos pilares da chamada Iniciativa Potsdam para a biodiversidade.
O estudo decorreu ao longo de três anos, liderado pela UNEP, o programa das Nações Unidas para o ambiente, e com o apoio financeiro da União Europeia, do Ministério do Ambiente da Alemanha e do Departamento para o Ambiente, Alimentação e Agricultura da Grã-Bretanha. Os trabalhos foram coordenados por Pavan Sukhdev, um nome com créditos firmados na economia do ambiente, chairman do Global Markets Centre de Mumbai e fundador do Green Accounting for Indian States Project.
A equipa de Sukhdev traz para a discussão uma variável nova e decisiva no que respeita aos decisores políticos e económicos. Proteger a natureza e a biodiversidade não faz de nós apenas melhores seres humanos e mais conscientes, nem é tão somente um dever ambiental. É também uma questão de racionalidade económica, que os modelos vigentes negligenciam em larga medida, ao não contabilizarem o valor económico dos serviços ambientais.
No âmbito da pesquisa da equipa de Sukhdev foram analisados mais de mil ecossistemas em todo o mundo. Cruzando indicadores económicos e ambientais, concluiu-se que é lucrativo estabelecer e fiscalizar áreas protegidas.
O relatório cita, por exemplo, um estudo anterior, de 2002, que estima que o aumento das áreas protegidas para 15% da superfície global e 30% da superfície marítima custaria cerca de 30 mil milhões de euros por ano, mas teria um retorno anual de 3 mil a 3,5 mil milhões. Um investimento, portanto, e não um custo. Hoje, as áreas protegidas representam cerca de 13% da superfície terrestre, sendo que apenas 6% das águas e 0,5&% dos mares se encontram sob este estatuto de protecção ambiental.
Quais os incentivos económicos à biodiversidade ? Contas feitas, esta é a grande questão que pode mudar o rumo dos acontecimentos. E são vários os exemplos mundiais, que mostram a necessidade de inverter a nossa visão de lucro (caixa ao lado).
O objectivo traçado na reunião de Potsdam, há três anos, ganhou novos argumentos, com os dados agora divulgados no TEEB.
Na prática, trata-se de lidar pela positiva com a natureza humana. Se os homens acreditarem que terão lucro em derrubar uma floresta, ela será derrubada. Se, ao invés, souberem que o lucro advém de manterem intacta, pelos serviços económicos que lhes presta, intacta a floresta ficará. Trata-se de inverter a visão de onde reside o lucro e é por aqui que se trava a nova batalha da biodiversidade.
Num mundo em que tudo tem uma etiqueta com o preço, avaliar dólar por dólar e euro por euro o preço da água do mar, das árvores da floresta e mesmo dos sapos, tigres ou linces que arriscamos perder pode ser o caminho mais directo para a decisão de empresários, políticos e cidadãos em geral.
De onde partiu a iniciativa para o estudo de 300 páginas que marca, em 2010, a agenda do Ano Internacional da Biodiversidade? Tudo começou em Março de 2007, na reunião dos ministros do Ambiente do G8 com os congéneres das cinco maiores economias emergentes - Brasil, China, Índia, México e África do Sul. Na ocasião, o Governo alemão propôs que fosse estudado "o significado económico da perda global de diversidade biológica" como um dos pilares da chamada Iniciativa Potsdam para a biodiversidade.
O estudo decorreu ao longo de três anos, liderado pela UNEP, o programa das Nações Unidas para o ambiente, e com o apoio financeiro da União Europeia, do Ministério do Ambiente da Alemanha e do Departamento para o Ambiente, Alimentação e Agricultura da Grã-Bretanha. Os trabalhos foram coordenados por Pavan Sukhdev, um nome com créditos firmados na economia do ambiente, chairman do Global Markets Centre de Mumbai e fundador do Green Accounting for Indian States Project.
A equipa de Sukhdev traz para a discussão uma variável nova e decisiva no que respeita aos decisores políticos e económicos. Proteger a natureza e a biodiversidade não faz de nós apenas melhores seres humanos e mais conscientes, nem é tão somente um dever ambiental. É também uma questão de racionalidade económica, que os modelos vigentes negligenciam em larga medida, ao não contabilizarem o valor económico dos serviços ambientais.
No âmbito da pesquisa da equipa de Sukhdev foram analisados mais de mil ecossistemas em todo o mundo. Cruzando indicadores económicos e ambientais, concluiu-se que é lucrativo estabelecer e fiscalizar áreas protegidas.
O relatório cita, por exemplo, um estudo anterior, de 2002, que estima que o aumento das áreas protegidas para 15% da superfície global e 30% da superfície marítima custaria cerca de 30 mil milhões de euros por ano, mas teria um retorno anual de 3 mil a 3,5 mil milhões. Um investimento, portanto, e não um custo. Hoje, as áreas protegidas representam cerca de 13% da superfície terrestre, sendo que apenas 6% das águas e 0,5&% dos mares se encontram sob este estatuto de protecção ambiental.
Quais os incentivos económicos à biodiversidade ? Contas feitas, esta é a grande questão que pode mudar o rumo dos acontecimentos. E são vários os exemplos mundiais, que mostram a necessidade de inverter a nossa visão de lucro (caixa ao lado).
O objectivo traçado na reunião de Potsdam, há três anos, ganhou novos argumentos, com os dados agora divulgados no TEEB.
Na prática, trata-se de lidar pela positiva com a natureza humana. Se os homens acreditarem que terão lucro em derrubar uma floresta, ela será derrubada. Se, ao invés, souberem que o lucro advém de manterem intacta, pelos serviços económicos que lhes presta, intacta a floresta ficará. Trata-se de inverter a visão de onde reside o lucro e é por aqui que se trava a nova batalha da biodiversidade.
7 exemplos A biodidiversidade é um excelente negócio O estudo "The Economics of Ecosystems and Biodiversity"(TEEB), endereça directamente o mundo dos negócios, tanto ao nível dos Estados como da iniciativa privada. Das minas, petróleo, gás e infra-estruturas - que surgem como os sectores óbvios quando se pensa em ambiente - a uma panóplia alargada da outras áreas, como a agricultura, as pescas e aos pilares do mercado, como a banca, as gestoras de activos, os serviços e os seguros. O estudo lista um conjunto de evidências ilustrativas dos ganhos da biodiversidade do ponto de vista económico. Veja alguns exemplos: • Um estudo realizado na Costa Rica revela que a conservação de áreas de floresta intactas é responsável pelo aumento de 20% na produtividade das plantações de café; • No Vietname, a plantação e protecção de quase 12 mil hectares de plantas aquáticas - verdadeiros diques naturais - custaria ao Governo 1,1 milhões de dólares, enquanto os gastos anuais com a manutenção de diques custaria mais de sete milhões; • A preservação dos corais contabiliza um benefício anual, que vai de 57 mil dólares por cada hectare, avaliada pelo seu potencial de produção de matéria-prima genética e biológica; até 189 mil dólares no que respeita ao controlo de desastres naturais; chegando a um milhão de dólares em potencial de turismo; • Na Nova Zelândia, uma exploração agrícola preservada fornece água gratuita à região de Otago. O transporte a partir de outro local custaria 100 milhões de dólares/ano. • Na Venezuela, o investimento numa área nacional protegida impediu a sedimentação das terras que poderia reduzir os lucros dos agricultores em 3,5 milhões de dólares por ano; • O investimento na protecção da Reserva de Bioesfera Maya, na Guatemala, criou cerca de sete mil postos de trabalho e gerou rendimento de 50 milhões de dólares/ano. |