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Deixou de haver alterações climáticas nos Estados Unidos

Assim que tomou posse, no passado dia 20 de Janeiro, o novo presidente norte-americano começou de imediato a apagar a "pegada digital" das alterações climáticas. Donald Trump eliminou secções sobre o assunto, nos websites governamentais, e agora foi mais longe: o departamento norte-americano da Agricultura deixa de poder usar alguns termos nas suas comunicações.

Reuters
07 de Agosto de 2017 às 20:39
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Primeiro foi a eliminação, nos websites governamentais, dos assuntos relacionados com as alterações climáticas. Depois foi a nomeação de um céptico das alterações climáticas, Sam Clovis, para ser vice-presidente da unidade de investigação científica do Departamento norte-americano da Agricultura (USDA). Conforme recorda o website Modern Farmer, Clovis não partilha do consenso da comunidade científica de que as acções do Homem são as principais responsáveis pelas alterações climáticas.

 

Numa entrevista à Iowa Public Radio em 2014, Clovis disse, citado pelo The Washington Post, que era "extremamente céptico" quanto à questão das alterações climáticas, tendo acrescentado que "grande parte da ciência é lixo científico".

 

Mas Donald Trump não se ficou por aqui. Houve também o retrocesso no posicionamento dos EUA no Acordo de Paris sobre o Clima, o que levou a protestos por parte dos seus principais parceiros e também a retiradas de apoio ao presidente norte-americano – um deles foi o CEO da Tesla, Elon Musk, que anunciou ter deixado de ser conselheiro de Trump, cumprindo assim o que tinha dito que faria se o presidente dos EUA decidisse abandonar o Acordo de Paris.


Ainda sobre este recuo dos EUA no Acordo de Paris, o presidente francês, Emmanuel Macron, pegou no lema de Trump durante a campanha para as presidenciais [Tornar a América grande outra vez] para responder com um "Tornar o nosso planeta grande outra vez". E foi mais longe, dizendo que os norte-americanos empenhados em salvar o clima seriam bem vindos em França.

 

Macron garantiu que "todos os cientistas, engenheiros, empresários e cidadãos" empenhados na saúde do planeta que se sentissem decepcionados com a decisão de Trump encontrariam "uma segunda pátria em França".

 

No entanto, estas posições não fizeram Trump recuar. Recentemente, conforme se congratulou o chefe da Casa Branca num comício em West Virginia, "acabámos com a guerra contra o bonito e limpo carvão. Acabámos com a intrusão da EPA [Agência norte-americana de Protecção Ambiental]. As exportações de carvão dos EUA já estão a caminho".

E agora surge a censura, conforme relata o The Guardian. O jornal britânico conta que os vários departamentos do USDA receberam uma missiva de Bianca Moebius-Clune, directora da unidade de cuidados com o solo, pertencente ao Serviço de Conservação dos Recursos Naturais, onde se elencam os termos que devem ser evitados por parte dos colaboradores e quais devem ser usados em sua substituição.


E, naturalmente, as "alterações climáticas" estão entre os termos que deixam de poder ser usados. A partir de agora, deve escrever-se "fenómenos climáticos extremos". Mas há mais: em vez de "adaptação às alterações climáticas", deve passar a dizer-se "resiliência a fenómenos climáticos extremos/fenómenos climáticos intensos: seca, chuvadas".

 

A "redução dos gases com efeito de estufa" é uma expressão que também deixará de se ler e ouvir no Departamento norte-americano da Agricultura. Passa agora a ser "acumular matéria orgânica no solo/aumentar a eficiência do uso de nutrientes". E quanto ao "sequestro de dióxido de carbono"? Como disse? Não… nada disso – agora passa a ter também a denominação de "acumular matéria orgânica no solo".




As reacções não se fizeram esperar e na rede social Twitter, com a hastag #climatechange, abundam as críticas a esta decisão. O The Daily Edge considera que a Administração Trump, ao decidir impedir que o USDA volte a dizer "alterações climáticas", está a "envenenar as nossas mentes".

Entre os emails trocados ao longo dos últimos meses por funcionários das várias unidades do USDA, e a que o The Guardian teve acesso, pode ver-se que a decisão tem sido polémica e criou mau-estar. O membro de uma equipa do Departamento da Agricultura, por exemplo, num email enviado a 5 de Julho, disse que preferia "manter a linguagem tal como está", sublinhando a necessidade de se manter a "integridade científica do trabalho".

 

Trump, tal como recorda o jornal britânico, tem questionado repetidamente a veracidade dos estudos dedicados às alterações climáticas, tendo mesmo chegado a dizer que se trata de uma fabricação por parte da China.

Só na Europa, os desastres climáticos poderão provocar 152.000 mortes por ano, entre 2071 e 2100, em vez das 3.000 anuais que se têm registado nas últimas décadas, segundo um estudo do Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia que foi publicado no passado sábado.


(notícia actualizada às 22:40)

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