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BCE escolhe Isabel Vansteenkiste para chefe de missão em Portugal
Rasmus Rüffer era o único elemento da equipa inicial da troika. Agora, será substituído por Isabel Vansteenkiste, que está no banco central desde 2002. A economista belga tirou um doutoramento sob a supervisão de Paul de Grauwe.
Há um novo representante do Banco Central Europeu (BCE) no resgate a Portugal. A instituição liderada por Mario Draghi anunciou esta sexta-feira, 21 de Fevereiro, que vai substituir o chefe de missão do banco central na equipa que está a acompanhar o programa de ajustamento económico e financeiro (PAEF) de Portugal.
Segundo um comunicado do BCE, Isabel Vansteenkiste assume o cargo de chefe de missão da autoridade monetária já a partir da 11ª avaliação, que se iniciou na quinta-feira, 20 de Fevereiro. É a penúltima avaliação do programa.
Vansteenkiste substitui o alemão Rasmus Rüffer (na foto, à direita), o único chefe de missão dos três elementos da troika que está desde o início a acompanhar o programa de Portugal. Na missão a Portugal, a economista belga estará ao lado de Subir Lall, do Fundo Monetário Internacional, e John Berrigan, da Comissão Europeia.
Isabel Vansteenkiste é belga e irá representar a única entidade, das três que participam no resgate, que não empresta dinheiro a Portugal. Os fundos vêm da Zona Euro, União Europeia e FMI. O trabalho da autoridade monetária situa-se mais no lado de apoio técnico.
Nascida a 21 de Março de 1977, ou seja, a um mês de completar 37 anos,
No curriculum presente no site da faculdade, cuja última actualização data de 2005, a economista belga escrevia que o seu principal passatempo era tocar piano, tendo tido aulas durante 10 anos numa escola de música, em Bruges, a cidade natal. Também foi professora de piano durante dois anos.
Viajar era outra das paixões de Isabel Vansteenkiste, tendo em conta este texto com nove anos. Chegou a ser guia nas montanhas suíças para uma organização não governamental.
Vansteenkiste fez parte da sua vida académica na Katholieke Universiteit Leuven, onde se licenciou em Economia Aplicada, tirou um mestrado em Economia e fez um doutoramento em Economia Internacional (em que trabalhou sob supervisão de Paul de Grauwe).
Estagiou durante noves no BCE, até Setembro de 2001, começando depois a trabalhar em várias das divisões em Frankfurt. Encontra-se num departamento de acompanhamento às políticas económicas dos países da Zona Euro, mas já esteve, por exemplo, na análise política internacional.
Dos artigos escritos para a autoridade monetária, constam temas como mercados emergentes, preços do petróleo, políticas orçamentais ou a evolução dos preços das casas na Zona Euro e seus efeitos de contágio.
Já não há nenhum representante da troika original
A composição da troika já é totalmente diferente da inicial. Depois de pedido o resgate internacional, em Abril de 2011, aterraram em Lisboa três chefes de missão. Poul Thomsen, pelo FMI, Jürgen Kröger, pela Comissão Europeia, e Rasmus Rüffer, da parte do BCE, foram os representantes iniciais. Com o anúncio de hoje, já nenhum deles se encontra com responsabilidades sobre Portugal.
Thomsen foi o primeiro a sair. O representante do FMI retirou-se em Fevereiro de 2012 para se concentrar no programa de auxílio à Grécia. Foi substituído por Abebe Selassie que, em Setembro de 2013, deu lugar ao indiano Subir Lall, o actual representante.
Na Comissão Europeia, Juergen Kroeger reformou-se no Verão de 2013, tendo sido substituído pelo irlandês John Berrigan.
Quem era Rasmus Rüffer
Rasmus Rüffer era o mais discreto entre o chefes de missão da troika e o único que acompanhava o programa de ajustamento português desde o início em Maio de 2011. Nas avaliações do início de 2013, especialmente centradas em questões orçamentais, o BCE teve pouca visibilidade e não se envolveu na polémica em torno do pacote de cortes de despesa, mas a sua influência decisiva não deve ser ignorada.
O papel de Rüffer passa por acompanhar o sistema financeiro e o processo de desalavancagem, um dos pilares fundamentais do programa de ajustamento, e uma das áreas de maior preocupação em Frankfurt. A fragmentação financeira da Zona Euro continua a pesar sobre a recuperação, e a fragilidade da banca nacional num contexto de recessão severa não passa despercebida. O BCE tornar-se-á o supervisor único da Zona Euro em 2014.
Até aqui, cabia ao alemão garantir que a sensibilidade do BCE é tida em conta nas negociações e avaliações em Lisboa, incluindo as decisões a nível orçamental. O BCE, embora discreto, assume-se como um dos credores mais conservadores, defendendo a evolução rápida para uma situação de excedente orçamental primário
Mario Draghi, presidente da instituição, tem repetido a defesa do que chama de consolidação "amiga" do crescimento, conseguida através de cortes de despesa que permitam baixar impostos.
Saindo da missão a Portugal, Rüffer irá chefiar a divisão de estratégia de política monetária no departamento de Economia. Rui Peres Jorge
(Notícia actualizada com mais informação às 12h00)