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Transportes enfrentam maiores dificuldades na transição energética

Setor está no caminho da descarbonização, dizem associações. Nos transportes a tecnologia está mais atrasada, ao contrário das infraestruras.

08 de Outubro de 2024 às 14:05
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A necessidade de tornar os negócios mais resilientes, responsáveis e limpos é transversal a todos os setores. Mas sendo o setor da logística e transporte de mercadorias atualmente responsável por cerca de 25% de todas as emissões de CO2, é evidente que existe uma pressão acrescida, por parte dos seus diferentes stakeholders, para que o setor ganhe rapidamente uma maior sustentabilidade ambiental.

Na perspetiva da APOL - Associação Portuguesa de Operadores Logísticos, existe, por parte do setor da logística, além de uma consciência clara de que este é um caminho que necessita de ser percorrido, uma predisposição para ter um papel ativo na construção de negócios mais sustentáveis. Segundo o seu presidente, Vítor Figueiredo, "são já muitas as iniciativas em marcha e as ações previstas na transição para um setor mais sustentável". "É no setor dos transportes que se sente que a tecnologia está mais atrasada e onde a transição poderá demorar mais tempo", embora afirme "isso não tire qualquer ânimo à constante introdução e teste dos avanços que vão sendo lançados no mercado".

Infraestruturas mais sustentáveis
Uma avaliação que merece a concordância da APLOG – Associação Portuguesa de Logística, para quem, segundo o seu presidente, Afonso Almeida, "o tema da sustentabilidade é hoje visto como prioritário para as empresas em geral, e também para as empresas que estão no setor da logística". Concretamente, existe a preocupação para que tudo esteja a ser feito de modo que as empresas sejam mais sustentáveis. "Os novos armazéns têm todos painéis fotovoltaicos. E muitas das estruturas já construídas foram também recondicionadas com painéis", afirma o responsável. Ou seja: "Em termos da construção de infraestruturas de logística tem existido outro tipo de preocupações na direção da sustentabilidade."

Na sua perspetiva, também no transporte de mercadorias existe, em especial no transporte urbano, uma grande ação no sentido de as frotas serem cada vez mais elétricas. Segundo Afonso Almeida, neste momento algumas das grandes empresas a operar em Portugal "já têm cerca de 40% da sua frota em veículos elétricos". "Esta tendência vai continuar a aumentar, dependendo também da evolução no que diz respeito à autonomia das baterias, entre outras questões", afirma.

Transportes são problema complexo
No entanto, a transição energética global no setor dos transportes, considerando as suas diferentes vertentes modais, é um problema complexo. Para Fernando Nunes da Silva, presidente da ADFERSIT – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento dos Sistemas Integrados de Transportes, "a transição energética nos transportes não pode nem deve ser abordada de uma forma generalista e simplista, mais comandada por voluntarismos ideológicos do que pelos condicionamentos da situação existente e do ponto de partida em cada modo de transporte". Na sua perspetiva, a situação existente "aconselha a que sejam cuidadosamente considerados diversos fatores, sob pena de se introduzirem disrupções no sistema de que só outros grandes atores internacionais beneficiarão". Para este responsável, "o que se passa com os veículos elétricos produzidos na China é disso um bom exemplo", refere.

Deste modo, afirma Fernando Nunes da Silva, deve-se "articular a concretização desse objetivo, necessário e justo, com o tempo necessário à readaptação da indústria europeia para o cumprir". Ou seja, explica, "articulando com a capacidade de oferta – em quantidade e em distribuição geográfica – de novas fontes de energia e de novos combustíveis (o que é crítico, por exemplo, para o transporte aéreo), com a progressiva mudança modal para modos de transporte com menores impactos ambientais". Neste contexto, o responsável da ADFERSIT vê com bons olhos, "a promoção de maiores quotas modais para o transporte coletivo e os modos ativos, ou a mudança do transporte aéreo de curto e médio cursos para o ferroviário". Por outro lado, considera, "há que atender à aceitabilidade social que essa mudança exige, dado que esta implica alterações de hábitos, formas de vida e funcionamento das empresas, que nunca se processam em tempo curto num contexto democrático", alerta.

Estratégia tem de ser inclusiva
Também a Associação de Transitários de Portugal (APAT) afirma a necessidade de alguma cautela na procura de maior sustentabilidade. Para o seu presidente, António Nabo Martins, "a transição para um setor mais sustentável necessita também de investimentos que nem sempre são exequíveis num estalar de dedos, principalmente para as pequenas e médias empresas". Daí ser importante, na sua opinião, "uma estratégia inclusiva que tenha em conta a heterogeneidade do tecido empresarial". Contudo, para o responsável da APAT, não se pode "dizer que o setor logístico não tenha levado a sério o alerta de sustentabilidade: a mobilidade elétrica tem tido uma boa adesão junto dos transitários, transportadores e operadores logísticos". Também "a aposta em infraestruturas mais ecológicas (e mais ‘inteligentes’) se revelou uma tendência inegável. Os indícios são encorajadores", afirma.

Em jeito de conclusão, para Afonso Almeida, "este é um trabalho que nunca acaba, mas vejo as empresas do setor muito empenhadas, e a investir muito para que esta questão da sustentabilidade seja efetivamente um êxito". Na perspetiva de Fernando Nunes da Silva, "não se pode esquecer que o conceito de sustentabilidade convoca não apenas as questões ambientais, mas igualmente as sociais e económicas". Ou seja: "Não estando em causa o grande objetivo de descarbonização da economia e, em particular, a do setor dos transportes, a questão que se põe é a de ritmo e a da consideração das especificidades inerentes a cada modo de transporte."

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