O setor da logística e dos transportes tem vivido uma grande transformação tecnológica nos últimos 20 anos. Já em anos mais recentes, o setor tem dado cada vez maior atenção e feito cada mais investimento nas áreas da digitalização, automação e cibersegurança. Um investimento que tem dado frutos ao nível da eficiência e da eficácia a dar resposta à evolução do mercado e das necessidades dos clientes.
Nesta evolução, a próxima vaga tecnológica no setor será provocada pela utilização crescente da inteligência artificial. Segundo Afonso Almeida, presidente da Associação Portuguesa de Logística (APLOG), "as ferramentas de inteligência artificial são cada vez mais utilizadas no setor da logística e transportes". Na sua avaliação, estas ferramentas permitem grandes aumentos de eficiência operacional e também redução significativa de custos. "Este é claramente o caminho para o futuro, também para o setor da logística", afiança. Segundo o responsável da APLOG, "estão já a ser usadas muitas aplicações neste setor, sendo sem dúvida um dos setores em que a IA pode e vai dar um grande contributo para a otimização de processos", nota.
Gestão e otimização
Também para Fernando Nunes da Silva, presidente da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento dos Sistemas Integrados de Transportes (ADFERSIT), a introdução da inteligência artificial no setor dos transportes "abre um vasto campo de aplicações". Essas aplicações serão, na sua avaliação, "quer na gestão de tráfegos e otimização da utilização da infraestrutura disponível quer na avaliação de cenários alternativos e no desenvolvimento de plataformas de comunicação com e entre os potenciais utilizadores dos sistemas de transportes", refere.
Para os operadores logísticos, a aplicação prática da tecnologia às operações logísticas tem sido "um dos maiores desafios, como uma forma de poder gerir mais volume, de uma forma mais ágil", afirma Vítor Figueiredo, presidente da Associação Portuguesa de Operadores Logísticos (APOL), notando que "grande parte das vezes, a tecnologia é a resposta mais eficaz à pouca disponibilidade dos recursos humanos". Na sua perspetiva, "a inteligência artificial é um outro patamar, muito mais exigente, mas com muito maior potencial, existindo já diversos casos de aplicação de IA na logística". No entanto, é convicção do setor que "ainda só estão a ser dados os primeiros passos na sua utilização", conta o responsável.
O outro lado da moeda
Todavia, nem tudo são vantagens na adoção de tecnologias. Para Vítor Figueiredo, os problemas relacionados com a cibersegurança são "o reverso da moeda da aplicação generalizada da tecnologia de forma cada mais ligada e interdependente". Em particular, diz, "o setor da logística é dos mais apetecíveis para os piratas informáticos pela larga escala e impacto que cada ataque pode ter". Dessa forma, essa é uma problemática para a qual "se tem dirigido uma forte fatia do investimento em tecnologia realizada pelos operadores logísticos", afirma.
Também António Nabo Martins, presidente da Associação dos Transitários de Portugal (APAT), sublinha ser preciso perceber que "quanto maior a adesão à digitalização, maior o grau de exposição das empresas a ameaças". "A história recente vem-nos mostrando que os ataques cibernéticos podem ser devastadores". Por isso, cada empresa deve adotar planos de cibersegurança adaptados à sua atividade. Porém, "este é, ainda, um investimento ignorado por muitos", nota.
No entanto, reconhece o responsável da APAT, a economia logística já não vive sem os novos preceitos digitais e, para se ser competitivo, é vital acompanhar as tendências. "A produtividade, a celeridade da troca de informação, a análise de dados tendo em conta escolhas estratégicas de negócio: tudo isto foi revolucionado", recorda. Adicionalmente, "a exigência do consumidor também foi a reboque deste progresso, logo, a fasquia subiu, bastante", alerta. Na sua opinião, "todo este fenómeno exige, é bom não esquecer, uma nova abordagem no que concerne à capacitação dos profissionais do setor". Portanto, para António Nabo Martins, é preciso investir também na evolução dos ativos humanos das empresas. "Não prevejo que haja maior desemprego, prevejo sim que tenhamos um mercado propenso a absorver trabalhadores com capacidades mais adaptadas às novas necessidades". É neste contexto que vai ter de se "saber lidar com o avanço da inteligência artificial, integrando as pessoas no processo ao invés de se encarar o fenómeno como algo negativo, divisor ou exclusivo", avisa.