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Setor é capaz de mitigar efeitos da instabilidade global

Associações setoriais sublinham maturidade, nível de investimento e capacidade de competição em mercado aberto.

08 de Outubro de 2024 às 14:07
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Como é do conhecimento geral, a economia global atravessa uma situação de maior instabilidade, com o aumento da competição entre diferentes forças geopolíticas, uma situação que está a ter um enorme impacto no comércio e nas cadeias de abastecimento globais e regionais. Neste contexto, de que forma os operadores do setor podem responder às mudanças em curso nas cadeias de abastecimento, com os novos canais de distribuição, a complexidade crescente da logística urbana, as mudanças nas políticas de sourcing e a relocalização das atividades produtivas, entre outras tendências?

Na perspetiva dos operadores logísticos, há muito tempo que as cadeias de abastecimento se têm vindo a alterar. Para Vítor Figueiredo, presidente da APOL - Associação Portuguesa de Operadores Logísticos, "as recentes disrupções vividas de um ponto de vista sanitário, energético e geopolítico vieram demonstrar a forte interindependência entre as várias geografias, economias e meios de transporte". Ao mesmo tempo, a maior exigência do consumidor, especialmente no que diz respeito a disponibilidade, prazos de entrega e rastreabilidade "têm vindo também a alterar, de forma significativa, as cadeias de abastecimento e a criar novos desafios aos operadores logísticos". Neste contexto, afirma o responsável da APOL, "os operadores têm respondido com fortes investimentos em infraestruturas não só físicas, mas também digitais e humanas". De um ponto de vista mais corporativo "assiste-se também hoje a uma concentração dos operadores com vista a atingir maior massa crítica e cobertura geográfica", explica.

Capacidade de previsão
Para os transitários, "a análise preditiva das disrupções (muitas delas globais) tornou-se um imperativo para quem opera neste setor. A antecipação é crucial para se delinear alternativas logísticas e mitigar perdas". Segundo António Nabo Martins, presidente da Associação dos Transitários de Portugal (APAT), "o Transitário sente o peso desse desafio como ninguém, e parte da resposta a essa empreitada passa pelo investimento em novas tecnologias e uma adesão, já irreversível, à digitalização, à integridade da informação, mas também à forma como esta é transacionada entre entidades", afirma.

Neste contexto, as cadeias de abastecimento exigem uma abordagem flexível e maleável que permita ajustes constantes e afinações em tempo real. Além disso, salienta António Nabo Martins, "é muito importante reunir dados concretos sobre as operações, de modo a se possuir, internamente, um retrato fidedigno das situações a melhorar, mas também possibilitar uma maior visibilidade do processo aos clientes".  Logo, "com a digitalização nascem novas oportunidades de flexibilizar procedimentos, acelerar entregas e providenciar mais e melhor informação aos clientes e uma articulação mais efetiva entre agentes", conta o presidente da APAT.

Nível elevado de boas-práticas
No entanto, na perspetiva de Afonso Almeida, presidente da APLOG - Associação Portuguesa de Logística, o mercado da logística em Portugal é já um mercado bastante maduro e com um nível de boas-práticas bastante elevado. "Estamos a falar de um grande setor, que inclui empresas industriais, operadores logísticos, transportes e grande distribuição", recorda. No caso das empresas industriais, "a primeira decisão é saber se fazem a sua logística em sua casa, ou se fazem outsourcing com um operador logístico ou um mix". Para as empresas que têm fábricas próprias e espaço para ter o seu armazém, o que faz sentido é "maximizar esta situação, evitando custos extras para deslocar os seus produtos finais para outro local", defende. No caso de serem empresas que não tenham fábrica em Portugal, "a tendência crescente é fazer outsourcing com um operador logístico especializado, incluindo também a parte do transporte", informa.

Os principais operadores que atuam no país no transporte de mercadorias já deram provas de que estão aptos para responder a esses desafios."Fernando Nunes da Silva, presidente da ADFERSIT

Muito investimento em curso
Para o presidente da APLOG, "os operadores logísticos encontram-se muito bem preparados para responder às necessidades do mercado nos mais diversos setores de atividade". Estas entidades, na sua análise, têm investido muito em infraestruturas, tecnologia, automação, digitalização, planeamento, entre outros temas, para responder de forma eficaz aos seus clientes e aos desafios da sustentabilidade. Já a grande distribuição "tem na maioria dos casos logística própria, com pelo menos dois hubs centrais, um a norte e outro a sul". Segundo Afonso Almeida, "são empresas muito experientes e também no âmbito da logística estão ao melhor nível do que se faz na Europa. Por norma, o transporte é feito em outsourcing", nota.

Afonso Almeida conta que neste momento está a existir uma grande procura de novos armazéns e o mercado do imobiliário logístico está a responder com grande dinamismo à procura crescente. Pelo que "novos polos logísticos estão a aparecer quer a norte quer a sul". Uma dinâmica, segundo o presidente da APLOG, "ligada ao aumento do comércio online, que tem levado a um grande investimento das empresas do setor". Neste último mês, "abriram dois novos armazéns com grande automação, um a norte e outro a sul com grande capacidade de distribuir pequenas encomendas", afirma.

Integração ibérica
Numa perspetiva de integração no mercado global, Fernando Nunes da Silva, presidente da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento dos Sistemas Integrados de Transportes - ADFERSIT, diz que "os principais operadores que atuam no país no transporte de mercadorias já deram provas de que estão aptos para responder a esses desafios, operando, inclusivamente, no mercado internacional em situações de forte concorrência". Porém, e segundo o mesmo responsável, "há que ultrapassar alguns constrangimentos de oferta de infraestrutura – onde a intervenção do Estado é determinante – e de custos de utilização da infraestrutura impostos pelo governo, o que lhes diminui a capacidade competitiva em relação ao que se passa, por exemplo, no país vizinho". Também neste domínio, afirma, "o modo como se processará a integração ibérica será uma questão de extrema importância". Se subsistirem os atuais constrangimentos, "serão os operadores estrangeiros e com melhores ligações às plataformas logísticas em Espanha que irão beneficiar das transformações que necessariamente irão ocorrer", conclui.

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