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Investimento previsto em infraestruturas de transporte deve acelerar

Pedidas medidas para racionalizar mobilidade urbana e acelerar descarbonização.

08 de Outubro de 2024 às 14:07
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O enfraquecimento da capacidade da administração pública para planear a longo prazo, refletir sobre estratégias alternativas e avaliar prioridades de intervenção do Estado no domínio das infraestruturas que servem o setor dos transportes e da logística tem sido apontado pelos intervenientes na área como um dos pontos fracos da execução das políticas públicas apontadas ao setor.

A ideia que o Estado poderia prescindir de capacidade autónoma neste campo, em benefício da contratação de assessorias externas, levou, segundo  Fernando Nunes da Silva, presidente da ADFERSIT - Associação Portuguesa para o Desenvolvimento dos Sistemas Integrados de Transportes, "a que se perdesse memória em relação a muitos dos projetos estratégicos e estruturantes para o país, ao mesmo tempo a que se assistiu a um ziguezaguear entre opções e a um constante adiamento ou atraso na concretização desses projetos, de que a modernização da rede ferroviária nacional e a construção de uma rede ferroviária de alta velocidade são exemplos".

No atual contexto, a ADFERSIT considera prioritária, em termos de infraestruturas de transportes, "a concretização de uma rede ferroviária de alta velocidade (AVF) que assegure ligações rápidas entre as duas grandes áreas metropolitanas do país e sirva igualmente os principais centros urbanos do corredor Atlântico, com ligações diretas aos seus dois principais aeroportos (o de Sá Carneiro, no Porto, e o Novo Aeroporto, na região de Lisboa), isto é, com serviço em linha e não por ramal". Por outro lado, considera que "essa rede de AVF se deve prolongar para a Galiza, de modo a ampliar a zona de influência da Área Metropolitana do Porto e do seu aeroporto, assim como a garantir uma ligação eficiente a Madrid, potenciando a função de hub do novo aeroporto de Lisboa". Fernando Nunes da Silva afirma ainda que há que rapidamente dotar os nossos principais portos do litoral atlântico de "boas e rápidas ligações ferroviárias aos corredores transeuropeus, sob pena de vermos o seu mercado potencial ser absorvido pelos portos espanhóis do Mediterrâneo".

Portos e aeroportos
Como presidente da APLOG - Associação Portuguesa de Logística, também Afonso Almeida considera "ser importante que o transporte de passageiros possa ser mais sustentável e com mais opções, nomeadamente com a implementação da ligação do TGV entre Lisboa e Porto, mas também na ligação de Lisboa a Madrid".  No entanto, para este responsável, é no transporte de mercadorias que "a via-férrea mais pode ajudar a tornar o transporte de longa distância mais eficiente e sustentável, de um ponto de vista económico e ambiental". Neste contexto, defende, a ligação férrea entre as principais cidades e infraestruturas ibéricas "é fundamental para a competitividade dos portos portugueses, pelo que é importante concretizar com rapidez os projetos que estão em marcha". No domínio dos portos, para a APLOG é importante "executar o plano de expansão do segundo terminal de Sines, melhorando também as vias de comunicação rodoviárias e ferroviárias".

No que diz respeito às infraestruturas aeroportuárias, "depois da decisão sobre o aeroporto de Lisboa, é relevante que o processo se possa iniciar e permitir que, num prazo razoável, possa existir um projeto global do aeroporto e áreas circundantes, de forma que as empresas possam planear o futuro e tomar as decisões de investimento e crescimento", afirma Afonso Almeida.

Mobilidade urbana
Todavia, as necessidades na área das políticas públicas dirigidas ao setor da logística são mais amplas, e passam por desafios em várias áreas. Por exemplo, para este responsável torna-se necessário "implementar novas regras de mobilidade urbana, nomeadamente em Lisboa e Porto, que permitam a redução do número de viaturas a fazer entregas com a correspondente redução da poluição e do tráfego".  Na sua perspetiva, "a implementação de hubs nas cidades será um dos caminhos para o sucesso desta questão, reduzindo o número de viaturas a fazer distribuição dentro da cidade".  Adicionalmente, "a implementação de uma política de lockers pelo país deveria também ser uma prioridade, tal como já feito noutros países, como, por exemplo, na Polónia", explica.

Numa outra vertente, o setor dos transportes continua a ser um dos principais responsáveis pela emissão de gases nocivos ao meio ambiente. "Muito se fala de transição para frotas elétricas e combustíveis alternativos. A mobilidade com combustíveis alternativos é hoje um caminho em marcha, mas ainda com diversos fatores que o tornam menos competitivo que os combustíveis fósseis", refere Afonso Almeida. Na sua perspetiva, "é preciso continuar a preparar o país em termos de rede elétrica e de pontos de carregamento, para se poder ter uma resposta eficiente e que faça avançar o setor no caminho da descarbonização", afirma. Neste contexto, é urgente a atualização e a renovação de frotas com vista a uma transição carbónica em linha com os objetivos europeus e nacionais. Pelo que, "deverá ser revista a política de apoios, pois com a pandemia as frotas ficaram em geral mais envelhecidas, sendo cada vez mais urgente a sua renovação". Objetivamente, afirma, "comparando com outros países, existem diferenças significativas nos apoios às empresas nesta área, que convinha encurtar de modo que Portugal não fique para trás".

Terminais multimodais
Em termos globais, nota Afonso Almeida, "Portugal encontra-se hoje no 40.º lugar do Logistics Performance Index Ranking". Para melhorarmos a nossa resposta temos de "realizar uma análise de mercado sobre os terminais de mercadorias multimodais". Esta análise permitirá avaliar diversas questões importantes tais como: "fluxos de carga de mercadorias (atuais e futuros), identificar terminais existentes e avaliar necessidade de novos terminais ou expansão dos existentes, entre outros pontos." Um trabalho que "coordenado pelo IMT com a colaboração de diversas entidades e associações será da maior importância para preparar Portugal para uma melhor resposta logística", conclui.

 

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