Bernardo Lago Cruz já trabalhava no setor têxtil quando foi abordado pela Azgard Nine Ltd (AZG9), uma empresa paquistanesa ligada à produção de calças de ganga: "O objetivo era assumir a direção comercial da parte europeia para a Azgard Nine Ltd. Isto foi mesmo antes da covid, em novembro de 2019. Então, eu fiz-lhes uma proposta: ‘Vocês são uma empresa paquistanesa, o Paquistão é um país que tem uma perceção um bocado negativa, pouco inovadora, associada ao terrorismo, pouco seguro, e ao mesmo tempo o denim, das calças de ganga, é uma indústria muito poluente’", conta o atual business development lead da Azgard Nine Ltd. Como condição para aceitar o cargo na empresa, fez-lhes uma proposta: "Aceitarei esta função, se tiver um budget para fazer um rebranding à AZG9, para tentar mudar esta perceção. Falei com algumas agências, falei com a Pacifica, com a Stream and Tough Guy, apresentei um budget à empresa, apresentei as minhas condições e eles aceitaram."
Como ponto de partida, sabiam que queriam "algo disruptivo". Tinham como plano inicial ir ao Paquistão para "perceber a dinâmica da empresa" antes de avançarem com o rebranding, mas "a covid instala-se, as viagens são canceladas" e passa tudo a ser "feito por Zoom", continua Bernardo Lago Cruz. Chegam a duas mensagens principais que queriam associar à empresa: "Future Before Fashion (O Futuro antes da Moda) e Mainstream Sustainability (Sustentabilidade Predominante). O rebranding avançou com "o site, a identidade, o novo logo e um vídeo promocional", mas, como o mundo atravessava a pandemia, era necessário dar visibilidade à nova imagem da AZG9. "Era como se tivéssemos um fato novo, mas estamos em casa e ninguém nos está a ver", exemplifica o business development lead da empresa.
Num brainstorming com as agências, surge a ideia de fazer "uma ativação de marca com um brinde, uma peça de roupa" que pudessem oferecer aos "maiores clientes" da AZG9 e "aos media": "Vamos fazer uma peça de inovação, uma peça do futuro, para mostrar que a Azgard Nine está no caminho dessa inovação" – explica Bernardo Lago Cruz. "Estávamos na altura da covid, sair à rua era complicado, era perigoso, ir às compras era perigoso. Vamos tentar fazer uma peça que sirva de abrigo. Num mundo onde o ambiente está contaminado, teremos uma peça que nos protege."
Optaram por "um poncho" e, tendo em conta o momento que o mundo atravessava, na altura, rapidamente chegaram à conclusão de que esta "peça de roupa do futuro" tinha de ter "certos tipos de características", nomeadamente ser "à prova de água, regulador de temperatura, antibiótico e antibacteriano". No entanto, a ideia "ainda não saía fora da caixa" como pretendiam. Portanto, pediram ajuda ao departamento de Investigação & Desenvolvimento (I&D) da AZG9 para ver se conseguiam "alguma coisa mais inovadora ainda": "Um dos diretores de I&D da AZG fez uma pesquisa, mandou uma lista de seis ou sete tecnologias que estavam a ser usadas na Europa, eu contactei as seis e respondeu-me uma. A Post Carbon Lab, que tinha a tecnologia das algas, já tinha feito um projeto assim, mas muito experimental, sem escala. A partir daí começámos a integrar isto também no casaco. Começámos a tentar perceber [como íamos fazer] porque tinha de ser exequível. Fazer um coating no casaco todo era algo difícil de manter. Depois decidimos: ‘Vamos fazer um forro no capuz, vamos impregnar aqui estas algas’. E assim nasce o CO2AT."
Um ser vivo
O CO2AT comporta-se como se fosse um ser vivo, mais precisamente uma planta. Precisa de ser regado todos os dias – ou ter um humidificador que assegure a humidade necessária para sobreviver –, captura dióxido de carbono da atmosfera e emite oxigénio em quantidade equivalente à de um carvalho.
Foram produzidos 200 casacos e, segundo o business development lead da Azgard Nine Ltd, algumas das pessoas que receberam o CO2AT "usam o casaco no inverno", outras "usam recorrentemente porque gostam do design" e há ainda quem mantenha apenas como "peça de decoração". No entanto, independentemente da utilidade que lhes foi dada, "continuam a produzir oxigénio", assegura Bernardo Lago Cruz.
De acordo com informação disponibilizada no site oficial, entre 1 junho de 2021 e 1 outubro de 2024 foram capturados 708 quilos de CO2 e devolvida à atmosfera a mesma quantidade de oxigénio.
Toda a mediatização que o caso gerou trouxe "um novo posicionamento" para a AZG9, que lhe permitiu conquistar clientes e entrar em novos mercados, como o russo. "O CO2AT foi um meio de entrada no mercado russo que se tornou gigante para a Azgard Nine. Não que agora seja uma coisa que as pessoas gostam de apregoar, mas nós começámos antes da guerra e o negócio está a crescer muito. Estamos a falar de uma empresa que fatura 100 milhões de dólares… No ano a seguir começou no mercado russo e foi buscar mais 10 milhões. Continuou a crescer e já estamos em 15 milhões agora. Por isso, foi algo extremamente positivo", refere o business development lead da empresa.
Esta campanha ganhou inúmeros prémios a nível nacional e internacional, incluindo um leão de ouro em Cannes, e arrecadou também o Grande Prémio da edição de 2022 dos Prémios Eficácia, promovidos pela Associação Portuguesa de Anunciantes (APAN). "Relativamente aos Prémios Eficácia, em termos nacionais, são os mais prestigiados. Para as agências que participaram e que fizeram este projeto foi extremamente importante, por isso vejo isso também de uma forma muito positiva", conclui.
