Na 11ª edição do Prémio Empreendedorismo e Inovação do Crédito Agrícola, na categoria Projeto Promovido por Associado Crédito Agrícola, o projeto ResiliBerry destacou-se como vencedor. Desenvolvido pela Frutas Classe, este programa de melhoramento genético do morangueiro visa criar variedades mais resilientes às alterações climáticas e aos fatores de stress, tanto bióticos como abióticos.
De acordo com Sónia Isaque, diretora de Investigação e Desenvolvimento da Frutas Classe, o projeto trata um dos maiores desafios da agricultura atual: a adaptação às mudanças climáticas, que já estão a ter impacto na produtividade e na saúde das culturas agrícolas. A utilização de biotecnologia, como novas técnicas genómicas e engenharia genética, diferencia o ResiliBerry ao acelerar o processo de obtenção de resultados mais direcionados e eficazes.
Promover a inovação nacional
Atualmente, a maior parte das variedades de morangueiro utilizadas pelos produtores portugueses são oriundas de programas internacionais, com destaque para os Estados Unidos e alguns países europeus. Essas variedades, desenvolvidas para outros climas e sistemas de produção, enfrentam dificuldades de adaptação às condições climáticas portuguesas. "Ter um programa de melhoramento em Portugal, adaptado às nossas condições, permite selecionar plantas mais adaptadas. Elas vão precisar de menos fatores de produção e de menos produtos fitofarmacêuticos, o que reduz resíduos no produto final e o impacto ambiental", salienta Sónia Isaque.
O ResiliBerry, iniciado em 2021, já alcançou resultados promissores. Foram realizados cruzamentos controlados para priorizar a resistência a doenças como o oídio e a antracnose, que frequentemente afetam o morangueiro. Seleções avançadas estão a ser multiplicadas para ensaios em larga escala, com o objetivo de iniciar o registo de variedades em 2026. Além disso, foi criado um Banco de Germoplasma, que preserva in vivo e in vitro diversas variedades de morangueiros, e foram estabelecidos protocolos de micropropagação in vitro.
Valorização do setor
Com um investimento total de 1,5 milhões de euros, o projeto combina recursos próprios da organização de produtores com financiamento do Programa Operacional para o setor das Frutas e Hortícolas. "Esta distinção representa o reconhecimento de que estamos no caminho certo e é um incentivo para continuarmos a acreditar que a inovação é o motor do crescimento das empresas, até mesmo das agrícolas", afirma Sónia Isaque.
O impacto da iniciativa vai além da sustentabilidade ambiental. A capacidade de desenvolver variedades adaptadas localmente fortalece a autonomia dos produtores portugueses, reduzindo a dependência de viveiristas estrangeiros e oferecendo produtos mais alinhados às exigências do mercado. Segundo a investigadora, a transferência dos resultados para a comunidade já começou.
"Estamos num projeto PRR Demo.net, em que divulgamos vídeos e artigos sobre o programa. Recebemos alunos para estágios e trabalhos de mestrado e doutoramento e partilhamos o nosso trabalho em revistas e feiras do setor".
O próximo passo será expandir os ensaios para terrenos maiores e desenvolver infraestruturas como estufas dedicadas ao projeto. O objetivo é lançar, até 2026, a primeira variedade de morango registada no Catálogo Nacional de Variedades, pronta para multiplicação e distribuição. "Queremos que esta conquista inspire outras empresas do setor a investirem na inovação como resposta aos problemas de produção", conclui Sónia Isaque.