A Comissão Europeia estima que, no âmbito da transição energética, a União Europeia necessitará de consumir 18 vezes mais lítio em 2030 do que consumiu em 2020, de forma a corresponder às necessidades de fabrico de baterias na Europa. Este é um material em que a UE é totalmente dependente de importações. Neste contexto, a Savannah Resources propõe-se reduzir esta lacuna estratégica produzindo de forma responsável a matéria-prima de lítio a partir do seu Projeto Lítio do Barroso, em Boticas, Portugal. Falámos com Emanuel Proença, CEO da empresa, sobre os compromissos ambientais e sociais de um projeto que quer ser um ator importante na nova cadeia de valor do lítio na Europa, vital para os objetivos europeus de transição energética e de combate às alterações climáticas.
Que desafios a sustentabilidade apresenta à Savannah Resources?
Para uma empresa como a Savannah Resources, a sustentabilidade não apresenta desafios, no sentido de que a sustentabilidade é central no nosso negócio e é parte dos nossos projetos e do que fazemos. Em primeiro lugar, porque o recurso que vamos produzir – a espodumena de lítio – vai permitir a substituição de milhões de toneladas de petróleo. Depois, porque a sustentabilidade é absolutamente crítica para a forma como produzimos este recurso, quer na mineração quer na purificação, no século XXI, na Europa. No contexto da Europa do século XXI, esta é uma atividade que requer uma enorme quantidade de tecnologia e de recursos para garantir que preservamos e salvaguardamos o território.
Esta é uma atividade em que a questão ambiental se tem vindo a tornar cada vez mais importante?
Sim. Como referi, tudo aquilo que fazemos é permeado por uma preocupação em construir um ambiente melhor, mais sustentável. Uma preocupação que, pela natureza do nosso produto, não é só local, mas que se estende ao país, ao continente e a todo o mundo. Ao produzirmos espodumena de lítio estamos a trabalhar para assegurar que o mundo vai precisar de muito menos petróleo. E ao produzimos este recurso de forma adequada, cumprindo os atuais requisitos europeus, conseguimos conduzir a nossa atividade respeitando a região em que nos inserimos.
Qual é a vossa perspetiva sobre a sustentabilidade social desta atividade?
A vertente social é para nós tão ou mais importante do que a vertente ambiental. O projeto que temos em desenvolvimento tem uma dimensão relevante para a região em que se insere. Estamos inseridos numa região bastante desertificada, onde a população decresceu muito nas últimas décadas. Apesar de tudo estamos na proximidade de aldeias que ainda têm alguma população. A nossa expectativa é conseguirmos trazer pessoas de volta a estas aldeias, garantir que as pessoas e as famílias da região não precisam de procurar oportunidades noutros locais, e que os que saíram voltem, porque encontraram aqui novas oportunidades.
A questão da governação está também presente na vossa empresa?
As questões da governação são uma preocupação permanente para a nossa empresa. Não só na forma como, internamente, gerimos a empresa, mas também pelo facto de estarmos cotados na Bolsa de Londres, o que nos traz um conjunto grande de obrigações, inclusive de reporte. A Savannah Resources é uma empresa que tem uma grande exposição mediática precisamente por ter grandes obrigações de reporte ao mercado de capitais e perante os seus acionistas. Praticamente todas as semanas há temas a reportar aos acionistas, por estarmos inseridos num mercado de capitais com obrigações bastante estritas. O que nos obriga a ter recursos e uma grande parte da nossa equipa dedicada exatamente ao controlo da gestão e ao reporte do negócio, assegurando a boa governação da empresa, cumprindo os requisitos para desenvolver um trabalho sério e bem estruturado, que é uma garantia de bons resultados.
Quais são os vossos principais projetos neste momento, no domínio da sustentabilidade
Neste momento, a nossa prioridade está no cumprimento de diversas condicionantes que constam da nossa Declaração de Impacto Ambiental e que nos obrigam a desenvolver bastante trabalho na vertente ambiental. Estamos a trabalhar em soluções técnicas para não recorrer às águas locais e para que a fauna e a flora locais sejam salvaguardadas. Do lado social, a nossa equipa no local está a crescer e temos uma política de ter membros da comunidade local na equipa e de criar boas oportunidades de trabalho para a população local.
Neste contexto, que importância atribuem à participação na iniciativa Negócios Sustentabilidade?
O Negócios Sustentabilidade tem o mérito de possibilitar uma discussão serena, mas também detalhada, sobre a forma como podemos transformar a nossa sociedade e economia para chegarmos a um modelo económico e social mais sustentável. Estão a ocorrer enormes mudanças no espaço de uma geração e a forma como operávamos na viragem do século terá muito pouco a ver com a forma como se vai trabalhar nas décadas de 30 a 50 deste século. Esta é uma mudança que requer trabalho de fundo e que terá lugar ao longo de muitos anos. O que torna necessário um debate sereno mas profundo, que iniciativas como esta tornam possível, o que é muito importante.