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Vinhos: A Real Companhia, de velha só tem o nome

A empresa, fundada pelo Marquês de Pombal, celebrou 260 anos com um Porto de 1867 e com vinhos da nova marca Quinta do Síbio. A Real tem a sua idade, mas anda sempre na vanguarda dos vinhos DOC Douro.

19 de Novembro de 2016 às 16:00
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O Memories é um tawny velho com 149 anos e feito na Quinta das Carvalhas. A garrafa de cristal é feita à mão e vem numa caixa rodeada de pormenores de luxo. Custa €2.750.


A Real Companhia Velha fez 260 anos e, de rajada, lançou um Porto com 149 anos e uma nova marca de vinhos - a Quinta do Síbio. Suponho que, em Portugal, empresas com esta idade só se encontram no negócio do vinho do Porto, pelo que, em rigor, não será assim um feito por aí além soprar velas com vinhos do Porto tão velhos. Se uma firma com 260 anos não tiver nos seus stocks vinhos centenários, alguma coisa estará mal.

Ora, se o Porto Carvalhas Memories, de 1867, foi o vinho libertado para a festa, (já vamos esmiuçá-lo) convém sublinhar que a RCV tem vindo a celebrar a sua história e a região do Douro ao longo dos últimos 10 anos, com lançamentos de vinhos DOC que iniciaram e participam num processo de reformulação do perfil dos vinhos do Douro. O Porto Memories é uma marco sim, senhor, mas a festa da RCV tem passado pelos vinhos da Quinta das Carvalhas, da Quinta do Cidrô e da Quinta dos Aciprestes, bem como da vontade de experimentação do enólogo Jorge Moreira, instigada pelo administrador Pedro Silva Reis, alguém que costuma perceber as coisas antes de elas acontecerem.

Jorge Moreira não é o único enólogo à procura da frescura e da autenticidade dos vinhos do Douro, mas, produzindo em volume e em diversidade, é capaz de ser único. Isso sente-se com colheitas do universo da RCV que já levam 20 anos. Algumas delas ainda com capacidade para aguentar mais tempo em garrafa. Os novos vinhos com a chancela Síbio, por exemplo, são claramente feitos para viver bons anos em garrafa. Três brancos e um tinto biológico.

Se o novo tinto é feito no núcleo histórico da Quinta do Síbio (uma parcela de rara beleza), os três brancos levam o nome Síbio pelo facto de a RCV ter ligado a mítica quinta junto ao rio a um corpo de terra numa cota mais alta (freguesia de Cotas na região de Alijó). Quer dizer, a RCV esticou a quinta para norte, pelo que é aqui que estão plantadas diferentes castas brancas do Douro, sendo que algumas são raridades. O Samarrinho, que dá origem a um vinho de 2015 (€17) bastante invulgar pela estrutura de aromas e sabores, e o Moscatel Otonel, que nos faz lembrar vinhos alemães de Mosel, florais e algo químicos, que nos surge com a marca Quinta do Síbio Ananico (€15).

Temos depois um vibrante e vegetal Quinta do Síbio Field Blend (€15) e, por fim, o tal Quinta do Síbio Biológico de 2014, quedando prazer nesta altura, merece, pelo potencial de guarda e que revela, que se lhe dê descanso na garrafeira. Custa €50.

Posto isto, o tal Porto Carvalhas Memories, de 1867. Como se imagina, tem para aqui notas aromáticas difíceis de descrever. Eu cá senti madeiras exóticas, especiarias, com destaque para o cravinho, melaço muito ligeiro e o vinagrinho da praxe. Na boca, as tais notas de especiarias são envolventes. O vinho tem excelente equilíbrio entre volume, frescura e álcool, coisa nem sempre possível num vinho com esta idade. Pode ser que isso resulte do facto de eu estar perante um vinho com 149 anos - portanto, embasbacado -, mas fiquei com a ideia de que os sabores teimavam em ficar na boca. Ainda assim, houve certas e determinadas notas do vinhos que ficaram por apanhar, pelo que, bom, bom seria repetir a coisa. Vá, um risquinho que fosse. Mas, lá está, só se encheram 260 garrafas, cada uma custando a bagatela de €2.750. Fazendo as contas, o vinho que rendeu à empresa uns €18,50 por ano. Nada por aí além.

Quem se vai deliciar com o Porto são alguns ricos do Canadá, visto que 1867 é a data que marca o início do processo de independência da antiga colónia inglesa. Que façam bom proveito.



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