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Reunião de artistas na Real Companhia Velha

Os produtores apresentam os seus vinhos em restaurantes. A Real Companhia Velha preferiu desta vez uma galeria de arte, com comida e tudo.

09 de Julho de 2016 às 13:00
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A área de marketing da Real Companhia Velha (RCV) está afinadíssima. Em menos de meio ano, a empresa lançou um conceito didáctico de consumo de vinho do Porto (O Porto das Cinco), associou-se ao lançamento de vinhos de três funcionários seus (coisa nunca vista) e, na semana passada, juntou os jornalistas numa galeria de arte em Lisboa para apresentar novas colheitas de brancos e rosé. A maioria dos produtores escolhe restaurantes, a RCV optou por uma galeria, mas sem descurar um almoço de ligação com vinhos. Ou seja, na galeria Bessa Pereira, juntaram-se três artistas: o criador Miguel Ângelo Rocha, o enólogo Jorge Moreira e o taberneiro mais cosmopolita da nação: o André Magalhães.

Uma empresa com 260 anos tem altos e baixos. Neste momento, a maré vai de feição para a RCV porque existe um pensamento estratégico assente na exploração de um património vitícola rico. Não medido em quintas ou hectares, mas em diversidade de castas. Numa altura em que o Douro vive afunilado em meia dúzia de castas, a RCV tem lançado vinhos de castas desconhecidos.

Tudo começou com a colecção Séries. Primeiro foi um surpreendente tinto da casta Rufete, depois os brancos Samarrinho e o Arinto e, no ano passado, o Moscatel Ottonel. Há dois anos, Samarrinho tanto poderia ser uma casta de uvas como uma variedade de azeitonas. Ninguém conhecia a coisa. E, hoje, ao que se sabe, há produtores no Douro de olho na casta. Ainda bem, porque dá vinhos fantásticos e invulgares.

Desta vez não apareceram novas castas (devem estar em barricas ou a estagiar em garrafa), mas há um dado para anunciarmos com satisfação: a redução da intensidade das madeiras no processo de feitura do vinho. Cá ficam os nossos agradecimentos ao enólogo e à administração.

Não é que os vinhos da RCV fossem sequer excessivos em matéria, mas, como Jorge Moreira pretende mostrar ao máximo a expressão das castas, usa a madeira com parcimónia.

Assim, um Quinta do Cidrô Alvarinho 2015 revelou um lado vegetal e cítrico, com uma acidez de boca que faz prever boa evolução no tempo. O Sauvignon Blanc 2015 renega aquelas notas enjoativas dos frutos tropicais para exaltar notas marinhas e aromas de espargos, sendo que os sabores na boca se prolongam indefinidamente.

O Quinta de Cidrô Chardonnay 2015 é sempre um caso de sucesso pelo facto de misturar cheiros de pastelaria com fruta tropical e trabalho de madeira perfeito. A boca leva-nos para um certo perfil francês: gordo, mas fresco.

O Gewürztraminer atira-nos para as notas florais (rosas) e de frutos exóticos e uma boa estrutura de boca (algum público feminino apreciará este vinho). E o austero Quinta do Cidrô Rosé 2015 prova que é possível fazer-se vinhos desta categoria com grande potencial de guarda.

Agora, o vinho que se destacou foi o Quinta do Cidrô Boal 2014, Boal que é, no Douro, a casta Semillon. É um vinho desafiante, com aromas desconcertantes e a indicar algo que nos leva às especiarias e ao carácter mineral. Carácter esse que regressa na boca, à mistura com fruta e frescura. Fantástico.

Mas como um vinho fica melhor com comida, André Magalhães, da Taberna da Rua das Flores, apareceu na galeria com uns sacos cheios de comida e, sem se perceber bem como, apresentou um prato para cada um dos vinhos. Coisas muito bem feitas e cuja descrição mereceria uma página inteira. Tipo, para ligar com o Cidrô Boal, uma pannacotta de ervilha, muxama, tempura de ervilha chinesa e farripas de clara de ovo. Ou, para o Gewürztraminer, umas vieiras sedosas panadas com fécula de arroz, arroz tufado, caril massaman de vegetais com lima kaffir e rebentos de alho. Sempre este pingue-pongue entre nação e o resto do mundo. Sempre surpreendente.


O Quinta de Cidrô Chardonnay foi servido com ovo de codorniz, batata palhíssima, salsa, polpa de limão e bottarga de corvina. Os preços dos vinhos variam entre 9 e 13€.


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