Notícia
O Chryseia está mais refinado
Tudo leva a crer que Bruno Prats e Charles Symington estão apostados em fazer tintos do Douro mais finos e frescos. Merecem aplausos.
15 de Setembro de 2018 às 19:00
A Prats & Symington quer fazer vinhos de alta qualidade e com a matriz do Douro, mas por preços nada especulativos. Se o Chryseia se compra por €65, o Post Scriptum custará uns €15 e o Prazo de Roriz €10
Comecei a desconfiar da magnanimidade da colheita de 2011 para vinhos tranquilos (o Porto Vintage não entra nestas contas) quando, se bem me lembro, em 2013, num almoço no restaurante Pedro Lemos, no Porto, os responsáveis da empresa Prats & Symington colocaram lado a lado o Chryseia 2011 e o novo Chryseia 2012.
Naquela altura, ai de quem duvidasse dos pergaminhos da colheita de 2011. Havia gente com muita experiência em prova que afiançava que nenhuma colheita se assemelhava àquela. Força, raça, fruta, muita fruta, concentração, potência e complexidade, eis os adjectivos usados.
E se de facto assim era, a verdade é que, com o passar do tempo, muita gente começou a sentir que se aqueles pergaminhos eram excepcionais aplicados ao Porto Vintage isso não quereria dizer que dariam necessariamente origem a vinhos tintos do outro mundo. Na realidade, a colheita de 2012 é fresca, elegante, cativante e desafiante. A de 2011, pesada e densa, daquelas em que a gente bebe um copo e fica a ganir por qualquer coisa do Dão ou da Bairrada.
Como pouca gente concordava com a tese, lembro-me de gastar algum dinheiro a comprar garrafas das duas colheitas de diferentes marcas do Douro. Que me lembre, só num caso a colheita de 2011 ganhou à de 2012.
De tudo isto podemos concluir três coisas singelas: primeiro, andamos todos a apreciar vinhos demasiado novos só porque o mercado assim determina e os produtores precisam de facturar (coisa que não se aceita no caso dos vinhos de uma empresa como a Prats & Symington); segundo, a boa moda dos vinhos mais frescos é coisa que nem 10 anos tem, razão pela qual um tinto 2011 era uma bomba e, terceiro, toda a gente (produtores, comerciantes, escanções e jornalistas) perdeu-se de amores pelos Porto Vintage 2011.
Ora, esta evolução dos vinhos concentrados e com madeira nova bem perceptível para vinhos frescos e nada madeirizados também se nota no percurso da curta vida da marca Chryseia, que, com o 2016, chega à 15.ª colheita da Prats & Symington.
Verdade se diga que os tintos Chryseia e Post Scriptum sempre revelaram o ano climático, assim como também nos remetiam ora para um lado mais Douro ora para um lado mais Bordéus, mas, com a colheita de 2016, estamos num registo de procura da fruta do Douro, e sem quaisquer excessos. De resto, Bruno Prats, presente no lançamento das novas colheitas no restaurante Epur, em Lisboa, fez questão de sublinhar que, "no Douro, extracções prolongadas não fazem qualquer sentido", assim como os abusos da madeira nova.
De resto, se sempre foi prática do enólogo usar barricas de 400 litros (solução que ainda não faz escola por cá), nas colheitas de 2016 nem se dá pela coisa. Há madeira, sim, senhor, mas usada com parcimónia, só para arredondar os taninos do vinho. Daqui se agradece desde já o facto de Bruno Prats e Charles Symington criarem vinhos cujas notas de carvalho só se notam com algum esforço olfactivo.
Começando pelo vinho de entrada de gama (e que entrada!), temos um Prazo de Roriz, que continua a ser o melhor exemplo na relação qualidade preço de um tinto do Douro. A fruta vem sempre acompanhada com umas infalíveis notas vegetais e minerais. À mesa, um vinho todo o terreno.
No caso do Post Scriptum 2016 podemos dizer que é um Douro da nova geração em toda a sua perfeição. Frutos de diferentes espécies e algum floral, com a boca a registar delicadeza e frescura. Não será um tinto para viver muitos anos em garrafa, mas, nunca se sabe.
Quanto ao Chryseia 2016, é o Post Scriptum com mais intensidade em todos itens. Senhorial, impressiona com a sua fruta mais madura. Na boca tem tudo na conta certa: estrutura, álcool e acidez. O leitor está a ver aquele conceito de vinho sério e grave? Pois é tipo este Chryseia 2016. Tão sério quanto o trabalho de Vincent Farges na feitura de um menu para os três vinhos (Portos aparte). Só mesmo provando tudo para se perceber a criatividade e a técnica do chefe francês.
Agora - e em jeito de remate mas com ligação para a conversa inicial - sabem qual foi o Chryseia que Bruno Brats escolheu para, no Douro, celebrar por estes dias os seus 50 anos de casado? Voilà, o de 2012. Ele lá soube porquê.
Comecei a desconfiar da magnanimidade da colheita de 2011 para vinhos tranquilos (o Porto Vintage não entra nestas contas) quando, se bem me lembro, em 2013, num almoço no restaurante Pedro Lemos, no Porto, os responsáveis da empresa Prats & Symington colocaram lado a lado o Chryseia 2011 e o novo Chryseia 2012.
E se de facto assim era, a verdade é que, com o passar do tempo, muita gente começou a sentir que se aqueles pergaminhos eram excepcionais aplicados ao Porto Vintage isso não quereria dizer que dariam necessariamente origem a vinhos tintos do outro mundo. Na realidade, a colheita de 2012 é fresca, elegante, cativante e desafiante. A de 2011, pesada e densa, daquelas em que a gente bebe um copo e fica a ganir por qualquer coisa do Dão ou da Bairrada.
Como pouca gente concordava com a tese, lembro-me de gastar algum dinheiro a comprar garrafas das duas colheitas de diferentes marcas do Douro. Que me lembre, só num caso a colheita de 2011 ganhou à de 2012.
De tudo isto podemos concluir três coisas singelas: primeiro, andamos todos a apreciar vinhos demasiado novos só porque o mercado assim determina e os produtores precisam de facturar (coisa que não se aceita no caso dos vinhos de uma empresa como a Prats & Symington); segundo, a boa moda dos vinhos mais frescos é coisa que nem 10 anos tem, razão pela qual um tinto 2011 era uma bomba e, terceiro, toda a gente (produtores, comerciantes, escanções e jornalistas) perdeu-se de amores pelos Porto Vintage 2011.
Ora, esta evolução dos vinhos concentrados e com madeira nova bem perceptível para vinhos frescos e nada madeirizados também se nota no percurso da curta vida da marca Chryseia, que, com o 2016, chega à 15.ª colheita da Prats & Symington.
Verdade se diga que os tintos Chryseia e Post Scriptum sempre revelaram o ano climático, assim como também nos remetiam ora para um lado mais Douro ora para um lado mais Bordéus, mas, com a colheita de 2016, estamos num registo de procura da fruta do Douro, e sem quaisquer excessos. De resto, Bruno Prats, presente no lançamento das novas colheitas no restaurante Epur, em Lisboa, fez questão de sublinhar que, "no Douro, extracções prolongadas não fazem qualquer sentido", assim como os abusos da madeira nova.
De resto, se sempre foi prática do enólogo usar barricas de 400 litros (solução que ainda não faz escola por cá), nas colheitas de 2016 nem se dá pela coisa. Há madeira, sim, senhor, mas usada com parcimónia, só para arredondar os taninos do vinho. Daqui se agradece desde já o facto de Bruno Prats e Charles Symington criarem vinhos cujas notas de carvalho só se notam com algum esforço olfactivo.
Começando pelo vinho de entrada de gama (e que entrada!), temos um Prazo de Roriz, que continua a ser o melhor exemplo na relação qualidade preço de um tinto do Douro. A fruta vem sempre acompanhada com umas infalíveis notas vegetais e minerais. À mesa, um vinho todo o terreno.
No caso do Post Scriptum 2016 podemos dizer que é um Douro da nova geração em toda a sua perfeição. Frutos de diferentes espécies e algum floral, com a boca a registar delicadeza e frescura. Não será um tinto para viver muitos anos em garrafa, mas, nunca se sabe.
Quanto ao Chryseia 2016, é o Post Scriptum com mais intensidade em todos itens. Senhorial, impressiona com a sua fruta mais madura. Na boca tem tudo na conta certa: estrutura, álcool e acidez. O leitor está a ver aquele conceito de vinho sério e grave? Pois é tipo este Chryseia 2016. Tão sério quanto o trabalho de Vincent Farges na feitura de um menu para os três vinhos (Portos aparte). Só mesmo provando tudo para se perceber a criatividade e a técnica do chefe francês.
Agora - e em jeito de remate mas com ligação para a conversa inicial - sabem qual foi o Chryseia que Bruno Brats escolheu para, no Douro, celebrar por estes dias os seus 50 anos de casado? Voilà, o de 2012. Ele lá soube porquê.