Notícia
Não esquecer o Vinho do Porto, se faz favor
A noite pedirá espumante ou champanhe. Mas, antes das 12 badaladas, não nos fará mal abrir uma garrafa de Porto – que por acaso é um vinho inventado por nós, mas desejado por estrangeiros.
30 de Dezembro de 2017 às 13:00
Quem quiser replicar o menu do jantar do Oficina, terá de falar com Marco Gomes. Para a ceia de 31, ficaria muito satisfeito se os leitores começassem a refeição com Porto Branco Ferreira D. Antónia Reserva Branco 11€, porque liga bem com entradas fumadas ou salgados. E terminassem com o Colheita Offley 1999 21€, que tanto vai às sobremesas como acompanha um charuto.
Os leitores imaginariam que a última crónica do ano fosse dedicada a espumantes ou a champanhe. E, em rigor, não deixaremos de recomendar algumas casas especializadas no mundo glamoroso das bolhas finas. Mas tendo em conta que o jantar de 31 de Dezembro é especial e que - caramba - somos aquele povo que criou um dos mais extraordinários vinhos do mundo, apetece-me desafiar quem nos lê para servir aos amigos Vinho do Porto. Um LBV, um Tawny de 10 ou mais anos, um Colheita ou um Vintage. Tanto faz. Mas que seja Porto.
Se o vinho do Porto me dá alegrias, a cultura organizacional do sector, nem tanto. Continua a ser um mistério maior do que o da santíssima trindade compreender por que razão não existe uma estratégia - das empresas e das organizações sectoriais - para a promoção do consumo esclarecido, inteligente e regular de Porto, quer para cidadãos nacionais, quer para os turistas que invadem o país.
O Porto Wine Day é importante? É, claro, mas não deixa de ser curto face ao desconhecimento dos portugueses, que, verdade se diga, também têm culpas no cartório. Nenhum português aceitaria que um espanhol lhe ensinasse a grelhar sardinhas na plancha, assim como não aceitaria que um francês lhe dissesse que tinha descoberto a técnica correcta de cozinhar bacalhau. Mas, misteriosamente, esse mesmo português não se intriga pelo facto dos estrangeiros serem mais curiosos - e por vezes mais conhecedores - do Vinho do Porto do que os nossos concidadãos. Quando 80% dos clientes do Solar do Vinho do Porto em Lisboa são estrangeiros, isso diz tudo.
Seja como for, e num ano com algum ruído por causa da não declaração da colheita de 2015 como vintage clássico, os eventos mais importante e didácticos em que participei em 2017 foram o Porto Extravaganza e uma prova só dedicada aos Vintage de 2015 (dois momentos desenhados por aquele que é o grande educador de vinho do Porto em Portugal, Paulo Cruz), uma masterclass preparada com rigor académico por parte dos quadros do grupo Fladgate Partnership (marcas Taylor's, Fonseca, Croft e Krohn) e, por fim, um jantar promovido pela Sogrape no restaurante Oficina, de Marco Gomes, em que, do aperitivo à sobremesa, passando por dois pratos principais, só se serviu Vinho do Porto.
Como se imagina, um jantar destes exige estofo. Vejamos. Depois de um Porto tónico com Offley Rosé, avançou-se para a ligação Porto Ferreira Dona Antónia Reserva Branco com um ovo de foie gras recheado com figo confitado e areia de pistácio. O primeiro prato foi um bife à portuguesa para o Sandeman Quinta do Seixo Vintage 2015 e o segundo uma perdiz dos sete temperos para Porto Ferreira Quinta do Porto Vintage 2015. Para um tiramisu crocante com gelado de mascarpone e molho de café, o Offley Colheita 1999 e - ainda - para uma rabanada com gelado de caramelo e redução de vinho do Porto, saiu o Sandeman Tawny 30 anos.
Diria que, com excepção da primeira ligação, em que o figo confitado era demasiado doce face ao vinho, tudo o resto funcionou lindamente. Se nas sobremesas não podemos falar de surpresas propriamente ditas, nos pratos principais há que tirar o chapéu ao chefe Marco Gomes e ao enológo Luís Sottomayor, que desenharam tudo isto com arrojo. Potente e tânico, o Quinta do Seixo ligava muito bem com os sucos da carne e com o molho de um bife tenro e bem apaladado por via do alho e do louro. Mais expressivo no nariz, mas mais delicado na boca, o Quinta do Porto foi eficaz para suavizar as especiarias presentes na confecção da perdiz. Tudo perfeito.
Quer isto dizer que devemos passar a acompanhar regularmente pratos principais com Vintage? Não necessariamente. Mas que se trata de uma experiência rica e didáctica, disso não restam dúvidas. Entre os comentários de um enólogo de craveira e de um cozinheiro de mão cheia e as opiniões de quem está habituado a avaliar combinações gastronómicas, aprende-se muito. É isso que interessa. O Porto é um vinho que está sempre a desafiar-nos. Esse é o seu mistério. Pelo que merece ser dignificado e discutido na última ceia do ano.
Ah!, os espumantes & companhia. Pois, poria a coisa nestes termos. Para bolsas mais remediadas, a categoria Baga/Bairrada (um São Domingos ou Caves São João, por exemplo); para gente exigente, o Murganheira Vintage Bruto Cuvée, de Pinot Noir, ou duriense Vértice Cuvée. Para quem pode, o Billecart-Salmon Rosé, que é coisa francesa muito séria. Boas entradas e até para o ano.
Os leitores imaginariam que a última crónica do ano fosse dedicada a espumantes ou a champanhe. E, em rigor, não deixaremos de recomendar algumas casas especializadas no mundo glamoroso das bolhas finas. Mas tendo em conta que o jantar de 31 de Dezembro é especial e que - caramba - somos aquele povo que criou um dos mais extraordinários vinhos do mundo, apetece-me desafiar quem nos lê para servir aos amigos Vinho do Porto. Um LBV, um Tawny de 10 ou mais anos, um Colheita ou um Vintage. Tanto faz. Mas que seja Porto.
O Porto Wine Day é importante? É, claro, mas não deixa de ser curto face ao desconhecimento dos portugueses, que, verdade se diga, também têm culpas no cartório. Nenhum português aceitaria que um espanhol lhe ensinasse a grelhar sardinhas na plancha, assim como não aceitaria que um francês lhe dissesse que tinha descoberto a técnica correcta de cozinhar bacalhau. Mas, misteriosamente, esse mesmo português não se intriga pelo facto dos estrangeiros serem mais curiosos - e por vezes mais conhecedores - do Vinho do Porto do que os nossos concidadãos. Quando 80% dos clientes do Solar do Vinho do Porto em Lisboa são estrangeiros, isso diz tudo.
Seja como for, e num ano com algum ruído por causa da não declaração da colheita de 2015 como vintage clássico, os eventos mais importante e didácticos em que participei em 2017 foram o Porto Extravaganza e uma prova só dedicada aos Vintage de 2015 (dois momentos desenhados por aquele que é o grande educador de vinho do Porto em Portugal, Paulo Cruz), uma masterclass preparada com rigor académico por parte dos quadros do grupo Fladgate Partnership (marcas Taylor's, Fonseca, Croft e Krohn) e, por fim, um jantar promovido pela Sogrape no restaurante Oficina, de Marco Gomes, em que, do aperitivo à sobremesa, passando por dois pratos principais, só se serviu Vinho do Porto.
Como se imagina, um jantar destes exige estofo. Vejamos. Depois de um Porto tónico com Offley Rosé, avançou-se para a ligação Porto Ferreira Dona Antónia Reserva Branco com um ovo de foie gras recheado com figo confitado e areia de pistácio. O primeiro prato foi um bife à portuguesa para o Sandeman Quinta do Seixo Vintage 2015 e o segundo uma perdiz dos sete temperos para Porto Ferreira Quinta do Porto Vintage 2015. Para um tiramisu crocante com gelado de mascarpone e molho de café, o Offley Colheita 1999 e - ainda - para uma rabanada com gelado de caramelo e redução de vinho do Porto, saiu o Sandeman Tawny 30 anos.
Diria que, com excepção da primeira ligação, em que o figo confitado era demasiado doce face ao vinho, tudo o resto funcionou lindamente. Se nas sobremesas não podemos falar de surpresas propriamente ditas, nos pratos principais há que tirar o chapéu ao chefe Marco Gomes e ao enológo Luís Sottomayor, que desenharam tudo isto com arrojo. Potente e tânico, o Quinta do Seixo ligava muito bem com os sucos da carne e com o molho de um bife tenro e bem apaladado por via do alho e do louro. Mais expressivo no nariz, mas mais delicado na boca, o Quinta do Porto foi eficaz para suavizar as especiarias presentes na confecção da perdiz. Tudo perfeito.
Quer isto dizer que devemos passar a acompanhar regularmente pratos principais com Vintage? Não necessariamente. Mas que se trata de uma experiência rica e didáctica, disso não restam dúvidas. Entre os comentários de um enólogo de craveira e de um cozinheiro de mão cheia e as opiniões de quem está habituado a avaliar combinações gastronómicas, aprende-se muito. É isso que interessa. O Porto é um vinho que está sempre a desafiar-nos. Esse é o seu mistério. Pelo que merece ser dignificado e discutido na última ceia do ano.
Ah!, os espumantes & companhia. Pois, poria a coisa nestes termos. Para bolsas mais remediadas, a categoria Baga/Bairrada (um São Domingos ou Caves São João, por exemplo); para gente exigente, o Murganheira Vintage Bruto Cuvée, de Pinot Noir, ou duriense Vértice Cuvée. Para quem pode, o Billecart-Salmon Rosé, que é coisa francesa muito séria. Boas entradas e até para o ano.