Notícia
Jorge Moreira: O revolucionário discreto
Vinte anos na vida de um enólogo, numa região que nasceu ontem para vinhos DOC, é nada. Mas Jorge Moreira já tem direito a um capítulo jeitoso na história da mudança de perfil dos vinhos do Douro.
10 de Setembro de 2016 às 13:00
Ao aperceber-se que faria 20 anos de carreira na vindima de 2016, Jorge Moreira preparou a festa com detalhe e imaginação. Convidou 11 personalidades marcantes na sua vida e, durante dois dias, deu a provar 57 vinhos que testemunham o seu perfil enquanto enólogo no Douro e no Dão. Tais vinhos pertencem a empresas onde trabalha: Real Companhia Velha (RCV), Quinta de La Rosa, Passagem, Quinta do Poeira (propriedade sua) e MOB, o projeto no Dão com os amigos Jorge Serôdio Borges e Francisco Olazabal. A festa foi um dois em um: juntou gente interessante para contar histórias desconhecidas e, de caminho, fez um resumo da história dos vinhos DOC Douro. Uma história que permite perceber que caminhos devem ser seguidos e que atalhos devem ser fechados.
A figura que esteve na boca de toda a gente durante a noite foi Dirk Niepoort - o homem que, incensado por alguns e olhado de soslaio por outros (isto é Portugal), mudou a história recente do Douro com irreverência e generosidade.
Quando, por volta de 2001, Jorge Moreira quis comprar a Quinta do Poeira, convidou Dirk para ver a propriedade em estado calamitoso. Este olhou, avaliou e, percebendo o potencial do terreno, incentivou a compra. Mas havia um detalhe: Jorge não tinha dinheiro para investir sustentadamente na propriedade. E Dirk, como se estivesse em casa a abrir garrafas dos melhores châteaux deste mundo (coisa que faz com toda a gente para mostrar a excelência do que se faz lá fora), disse-lhe: "compra, que eu encarrego-me de vender os teus vinhos". Na verdade, parece que até as primeiras garrafas e rolhas foram fornecidas pelo homem da Niepoort, mas isso é um detalhe. O certo é que, sem o amigo a assumir os riscos, Jorge não se teria metido numa aventura em que qualquer tostão desencantado era ouro.
Dirk, Sophia Bergqvist (La Rosa) e o espírito visionário de Pedro Silva Reis (RCV) acabaram por criar condições para que o enólogo pudesse mudar o perfil dos vinhos do Douro e cujo contra rótulo poderia registar sempre isto: "vinhos com frescura até mais não, genuinidade, longevidade, experimentação, provocação e intervenção humana na medida certa". Com vinhos de volume ou de nicho, Jorge Moreira está a fazer uma revolução silenciosa no Douro. Não é de agora. É desde 1996. E isto é a sua marca. Não numa carreira longeva, mas em apenas 20 anos. Imaginemos o que virá no futuro.
Dito isto, cá vai uma crítica. Da RCV, da La Rosa, da Quinta do Poeira ou do projeto MOB foram provados vinhos com muitos anos de vida, mas que pareciam feitos na colheita passada, revelando assim potencial e mistério na evolução em garrafa. Coisas extraordinárias, acreditem. E a questão é esta: por que razão os consumidores esclarecidos não podem ter acesso a tais vinhos? Por que razão os produtores teimam em não guardar parte do vinho para o lançar mais tarde - quando estão no auge -, cobrando mais por isso? Por que razão não percebem que Portugal só fará diferença nos mercados externos e em segmentos premium com vinhos de guarda e não com vinhos com fruta fresca aos saltos e madeiras mais ou menos integradas e iguais a tantos outros?
Sim, sim, sei bem que a resposta se encontra na miopia dos distribuidores, assim como sei que os stocks custam dinheiro e toda a gente está descapitalizada (o que se defende aqui é apenas a retenção de parte da produção), mas de que vale fazer vinhos de guarda para mostrar a riqueza de uma região se, no final, sobram meia dúzia de garrafas para meia dúzia de privilegiados? A revolução silenciosa no Douro e noutras regiões também deveria passar por aqui. Nesta matéria, são os produtores que devem mandar. Nunca os distribuidores.
A figura que esteve na boca de toda a gente durante a noite foi Dirk Niepoort - o homem que, incensado por alguns e olhado de soslaio por outros (isto é Portugal), mudou a história recente do Douro com irreverência e generosidade.
Dirk, Sophia Bergqvist (La Rosa) e o espírito visionário de Pedro Silva Reis (RCV) acabaram por criar condições para que o enólogo pudesse mudar o perfil dos vinhos do Douro e cujo contra rótulo poderia registar sempre isto: "vinhos com frescura até mais não, genuinidade, longevidade, experimentação, provocação e intervenção humana na medida certa". Com vinhos de volume ou de nicho, Jorge Moreira está a fazer uma revolução silenciosa no Douro. Não é de agora. É desde 1996. E isto é a sua marca. Não numa carreira longeva, mas em apenas 20 anos. Imaginemos o que virá no futuro.
Dito isto, cá vai uma crítica. Da RCV, da La Rosa, da Quinta do Poeira ou do projeto MOB foram provados vinhos com muitos anos de vida, mas que pareciam feitos na colheita passada, revelando assim potencial e mistério na evolução em garrafa. Coisas extraordinárias, acreditem. E a questão é esta: por que razão os consumidores esclarecidos não podem ter acesso a tais vinhos? Por que razão os produtores teimam em não guardar parte do vinho para o lançar mais tarde - quando estão no auge -, cobrando mais por isso? Por que razão não percebem que Portugal só fará diferença nos mercados externos e em segmentos premium com vinhos de guarda e não com vinhos com fruta fresca aos saltos e madeiras mais ou menos integradas e iguais a tantos outros?
Sim, sim, sei bem que a resposta se encontra na miopia dos distribuidores, assim como sei que os stocks custam dinheiro e toda a gente está descapitalizada (o que se defende aqui é apenas a retenção de parte da produção), mas de que vale fazer vinhos de guarda para mostrar a riqueza de uma região se, no final, sobram meia dúzia de garrafas para meia dúzia de privilegiados? A revolução silenciosa no Douro e noutras regiões também deveria passar por aqui. Nesta matéria, são os produtores que devem mandar. Nunca os distribuidores.
Se quiserem sentir a diferença de um vinho do Douro feito por Jorge Moreira têm aqui este Poeira Ímpar de 2009. Só se faz nas colheitas em que a caprichosa Cabernet Sauvignon colabora. A casta francesa entra com 23 % num lote de Touriga Nacional (56%) e Sousão (21%) para dar origem a um vinho desconcertante, desafiante e irreverente na região, que é bem capaz de chegar em forma à festa dos 50 anos de carreira de Jorge Moreira. Custa 60€