Notícia
A Bairrada soma e segue
O presidente da Comissão Vitivinícola da Bairrada tem por hábito – coisa rara - prestar contas do que faz, mas da última vez que se encontrou com os jornalistas não se percebia bem se Pedro Soares era um dirigente associativo ou um cientista. A gente explica.
10 de Março de 2018 às 13:00
O Messias Clássico branco 2012 custa 20€. O tinto Quinta da Dôna 2011, 17€.
Não pretendemos ser injustos, mas, por aquilo que nos é dado a ver, o único presidente de uma comissão vitivinícola regional (CVR) que convoca os jornalistas para fazer um retrato actual e outro prospectivo da sua região é Pedro Soares, o homem que, com outros colegas de direção, gere os destinos da Bairrada.
Alguns leitores poderão achar que somos repetitivos, mas pouco importa. Pedro Soares é um oásis no universo das CVR. É certo que não nos passa despercebido o papel e a luta contra as mentalidades e interesses de outros presidentes de CVR, mas convém ter em conta que Pedro Soares gere os destinos da Bairrada. Da Bairrada, sublinhe-se.
Reparemos nisto. Da última vez que se apresentou perante jornalistas fez três coisas invulgares no seu conjunto. Uma, retratou a evolução de vendas dos vinhos da região, categoria a categoria, mercado a mercado. Duas, enunciou um programa de investigação científica diversificado nas área da viticultura, enologia e economia que, a dada altura, não se percebia bem se estávamos perante um dirigente associativo ou um cientista e, terceiro - e aqui já é uma questão pessoal/cultural - abriu o debate a quem estava à mesa, à laia de brainstorming, no sentido de recolher eventuais ideias válidas. Poderão alguns dizer que, ah e tal, isso é uma jogada estratégica para ficar bem na fotografia. Não é nada. Numa região cheia de egos e certezas, Pedro Soares gosta de ouvir, gosta de confrontar, gosta de reflectir e gosta de arriscar.
É por isso que, hoje, o inovador cluster Baga Bairrada, lançado em 2015, já conta com 23 espumantes. E é por isso que com a categoria Bairrada Clássico já podemos encontrar oito vinhos. E que vinhos. Mas, antes de lá chegarmos, atente-se no que está a decorrer na região em matéria de ciência.
Defensor de que a região deve ser um centro de competências na área do espumante, Pedro Soares acompanha neste momento trabalhos científicos em quatro grandes áreas. A saber: a caracterização dos solos a partir de três áreas geográficas já definidas (tema determinante para a instalação de vinhas); o estudo aprofundado do perfil aromático de cinco castas em função da sua localização na região (Baga, Bical, Cerceal, Arinto e Maria Gomes), a caracterização do sector vitícola em termos económicos e sociais e, por fim, a definição de uma estratégia da região para o posicionamento internacional dos vinhos Bairrada.
Tais projectos são desenvolvidos a partir de parcerias com as universidades de Aveiro e de Coimbra, com a Biocampo e a Wine Inteligence. E, como se percebe, pretende-se produzir informação rigorosa para a tomada de decisões em matéria de novos investimentos vitícolas.
Enquanto os resultados não chegam, o saber acumulado dos produtores - que não é pouco - continua a dar origem a vinhos com uma identidade muito própria. Razão pela qual a categoria Clássico da Bairrada merece algum destaque nesta página.
Ao tentar seguir as modas, parte dos produtores da Bairrada andou, nos anos 90, num desnorte com a produção de vinhos com castas de outras regiões nacionais e estrangeiras. E com isso conseguiu a proeza de produzir vinhos muito modernos mas sem alma. Sem alma e com pouca competitividade.
Com a entrada da actual equipa da CVR recuperou-se a categoria Clássico, que é, muito simplesmente, um vinho feito maioritariamente com castas de região, com estágio acima da média e que reproduz aquele perfil que até o mais caloiro dos provadores de vinho reconheça como um puro Bairrada. Para que tal aconteça, o vinho candidato a esta categoria tem de atingir uma pontuação muito alta no processo de avaliação dos provadores da região. Um Clássico Bairrada é um vinho à parte. Um vinho fora de série.
Assim, aos seis vinhos que já tinham o selo Clássico juntam-se agora o branco Messias Bairrada Clássico 2012 e o Quinta da Dona Bairrada Clássico 2011. O primeiro é um daqueles vinhos que apetece mostrar aos amigos (em particular os estrangeiros) para que percebam o que se faz nesta região nem sempre bem amada. Complexo, mineral, com volume e frescura. O tinto, talvez por ter mais do que Baga e por estar marcado pela madeira de estágio, não nos parece tão Clássico quanto isso. Ou melhor, tão Clássico quanto outros tintos com o mesmo selo. Mas veremos o que diz o tempo que, como se sabe, é bom conselheiro.
Ah, faltou-nos falar dos três novos espumantes Baga Bairrada (Casa do Canto, Ortigão e Pinho Leão), mas terá de ficar para outro dia. É o que dá haver muito dinamismo na região.
Não pretendemos ser injustos, mas, por aquilo que nos é dado a ver, o único presidente de uma comissão vitivinícola regional (CVR) que convoca os jornalistas para fazer um retrato actual e outro prospectivo da sua região é Pedro Soares, o homem que, com outros colegas de direção, gere os destinos da Bairrada.
Reparemos nisto. Da última vez que se apresentou perante jornalistas fez três coisas invulgares no seu conjunto. Uma, retratou a evolução de vendas dos vinhos da região, categoria a categoria, mercado a mercado. Duas, enunciou um programa de investigação científica diversificado nas área da viticultura, enologia e economia que, a dada altura, não se percebia bem se estávamos perante um dirigente associativo ou um cientista e, terceiro - e aqui já é uma questão pessoal/cultural - abriu o debate a quem estava à mesa, à laia de brainstorming, no sentido de recolher eventuais ideias válidas. Poderão alguns dizer que, ah e tal, isso é uma jogada estratégica para ficar bem na fotografia. Não é nada. Numa região cheia de egos e certezas, Pedro Soares gosta de ouvir, gosta de confrontar, gosta de reflectir e gosta de arriscar.
É por isso que, hoje, o inovador cluster Baga Bairrada, lançado em 2015, já conta com 23 espumantes. E é por isso que com a categoria Bairrada Clássico já podemos encontrar oito vinhos. E que vinhos. Mas, antes de lá chegarmos, atente-se no que está a decorrer na região em matéria de ciência.
Defensor de que a região deve ser um centro de competências na área do espumante, Pedro Soares acompanha neste momento trabalhos científicos em quatro grandes áreas. A saber: a caracterização dos solos a partir de três áreas geográficas já definidas (tema determinante para a instalação de vinhas); o estudo aprofundado do perfil aromático de cinco castas em função da sua localização na região (Baga, Bical, Cerceal, Arinto e Maria Gomes), a caracterização do sector vitícola em termos económicos e sociais e, por fim, a definição de uma estratégia da região para o posicionamento internacional dos vinhos Bairrada.
Tais projectos são desenvolvidos a partir de parcerias com as universidades de Aveiro e de Coimbra, com a Biocampo e a Wine Inteligence. E, como se percebe, pretende-se produzir informação rigorosa para a tomada de decisões em matéria de novos investimentos vitícolas.
Enquanto os resultados não chegam, o saber acumulado dos produtores - que não é pouco - continua a dar origem a vinhos com uma identidade muito própria. Razão pela qual a categoria Clássico da Bairrada merece algum destaque nesta página.
Ao tentar seguir as modas, parte dos produtores da Bairrada andou, nos anos 90, num desnorte com a produção de vinhos com castas de outras regiões nacionais e estrangeiras. E com isso conseguiu a proeza de produzir vinhos muito modernos mas sem alma. Sem alma e com pouca competitividade.
Com a entrada da actual equipa da CVR recuperou-se a categoria Clássico, que é, muito simplesmente, um vinho feito maioritariamente com castas de região, com estágio acima da média e que reproduz aquele perfil que até o mais caloiro dos provadores de vinho reconheça como um puro Bairrada. Para que tal aconteça, o vinho candidato a esta categoria tem de atingir uma pontuação muito alta no processo de avaliação dos provadores da região. Um Clássico Bairrada é um vinho à parte. Um vinho fora de série.
Assim, aos seis vinhos que já tinham o selo Clássico juntam-se agora o branco Messias Bairrada Clássico 2012 e o Quinta da Dona Bairrada Clássico 2011. O primeiro é um daqueles vinhos que apetece mostrar aos amigos (em particular os estrangeiros) para que percebam o que se faz nesta região nem sempre bem amada. Complexo, mineral, com volume e frescura. O tinto, talvez por ter mais do que Baga e por estar marcado pela madeira de estágio, não nos parece tão Clássico quanto isso. Ou melhor, tão Clássico quanto outros tintos com o mesmo selo. Mas veremos o que diz o tempo que, como se sabe, é bom conselheiro.
Ah, faltou-nos falar dos três novos espumantes Baga Bairrada (Casa do Canto, Ortigão e Pinho Leão), mas terá de ficar para outro dia. É o que dá haver muito dinamismo na região.