Notícia
Um retrato de José Manuel de Mello
Depois das biografias dedicadas a Alfredo da Silva e a Manuel de Mello, o investigador Miguel Figueira de Faria publica agora um livro sobre a vida de José Manuel de Mello.
"José Manuel de Mello com dois fiéis amigos: Branca e D. Maria" (Henrique Brion, pintura de acrílico sobre tela)
A vida dos empresários não é, ainda hoje, objecto prioritário da atenção dos historiadores, considera Miguel Figueira de Faria, director do departamento de História, Artes e Humanidades da Universidade Autónoma de Lisboa, que contraria esta tendência através dos seus escritos sobre a história empresarial portuguesa. Depois das biografias dedicadas a Alfredo da Silva (1871-1942), "o primeiro capitão da indústria nacional", e a Manuel de Mello (1895-1966), o investigador publica agora um livro sobre a vida de José Manuel de Mello (1927-2009), fechando assim uma espécie de "trilogia que acompanha a sucessão de três gerações que definiram uma das raras dinastias empresariais portuguesas", escreve o autor.
No livro "José Manuel de Mello - A cultura da união", Miguel Figueira de Faria apresenta uma das faces da liderança dual da terceira geração CUF, uma gestão partilhada com o irmão mais velho, Jorge Caetano Augusto (1921-2013), cuja vida foi objecto de exercício biográfico na obra "Jorge de Mello: Um homem - percurso de um empresário", de Jorge Fernandes Alves. O primogénito ascendeu ao conselho de administração da CUF em 1948, seguindo-se José Manuel em 1953, aos 25 anos de idade. "Os Mello, agora no plural, passariam progressivamente a constituir a designação alternativa à CUF, para identificar esse universo empresarial e os seus interesses e culturas. (…) Jorge, cerca de sete anos mais velho, o presidente, o 'número um' na representação institucional e na condução dos sectores mais tradicionais, das indústrias química e dos tabacos aos têxteis; José Manuel na liderança das áreas financeiras, banca e seguros, turismo, e tornando-se, progressivamente, no 'empresário do mar', concentrando as companhias de navegação e, sobretudo, as indústrias de reparação e construção naval".
Esta terceira geração manteve-se unida até à desagregação do universo CUF, após o PREC e as nacionalizações de 1975, tendo depois seguido caminhos autónomos na reconstrução empresarial e dando origem às duas quartas gerações de actividade. "Hoje, já não existem as instalações fabris da CUF no Barreiro, tão-pouco estaleiros na Margueira e a doca Alfredo da Silva… O que resta, então, do legado de Alfredo da Silva e dos seus herdeiros da Companhia União Fabril? Ficou o património imaterial de uma cultura e de uma forma de estar no mundo dos negócios", escreve Miguel Figueira de Faria.
A marca do avô Alfredo da Silva começou a ser impressa muito cedo na vida de José Manuel através da sua mãe, Amélia da Silva de Mello. Um dia, o filho teimava e dizia que não queria ir a uma festa no Barreiro. Logo foi repreendido pela mãe: "Vais, pois tens essa obrigação. É a vontade do teu avô." E lá foi ele, de calção curto e de boné, obedecendo à cultura familiar, que era determinada pela vida empresarial. O universo CUF estava no centro de tudo. E não era raro o neto acompanhar o avô nas visitas às fábricas. No seu 10.º aniversário, numa visita ao Barreiro, Alfredo da Silva fê-lo subir a uma mesa e disse então à assembleia presente: "Apresento-vos aqui o vosso futuro patrão", conta o investigador. "Antes de fazer um ano, José Manuel já tinha uma embarcação com o seu nome, um vapor de 1.229 toneladas adquirido para a frota da Sociedade Geral, em 1928, justamente baptizada de Zé Manel, diminutivo por que sempre o trataram carinhosamente. (…) Cumpria-se assim o princípio de Alfredo da Silva em conferir ao seu universo empresarial uma inequívoca marca familiar."
Um continuador, mas também um fundador. É assim que Miguel Figueira de Faria descreve José Manuel de Mello. Um homem que não gostava de falar de si e muito menos de enaltecer as suas conquistas, traços que marcaram a sua atitude "low-profile" perante a vida. "Em tudo o que fazia permaneciam, porém, duas qualidades congénitas: a inovação e a competitividade. Procurava sempre o melhor e, se fosse possível, ganhar todos os desafios em que se posicionava", escreve o autor, que percorre a vida do neto de Alfredo da Silva, desde as suas primeiras letras, ao gosto pela caça, passando pelo período do Estado Novo, pela revolução de Abril e pelas nacionalizações até à reconstrução do grupo e a sua evolução no país. Uma biografia de vida que é também um retrato do Portugal contemporâneo.
A vida dos empresários não é, ainda hoje, objecto prioritário da atenção dos historiadores, considera Miguel Figueira de Faria, director do departamento de História, Artes e Humanidades da Universidade Autónoma de Lisboa, que contraria esta tendência através dos seus escritos sobre a história empresarial portuguesa. Depois das biografias dedicadas a Alfredo da Silva (1871-1942), "o primeiro capitão da indústria nacional", e a Manuel de Mello (1895-1966), o investigador publica agora um livro sobre a vida de José Manuel de Mello (1927-2009), fechando assim uma espécie de "trilogia que acompanha a sucessão de três gerações que definiram uma das raras dinastias empresariais portuguesas", escreve o autor.
No livro "José Manuel de Mello - A cultura da união", Miguel Figueira de Faria apresenta uma das faces da liderança dual da terceira geração CUF, uma gestão partilhada com o irmão mais velho, Jorge Caetano Augusto (1921-2013), cuja vida foi objecto de exercício biográfico na obra "Jorge de Mello: Um homem - percurso de um empresário", de Jorge Fernandes Alves. O primogénito ascendeu ao conselho de administração da CUF em 1948, seguindo-se José Manuel em 1953, aos 25 anos de idade. "Os Mello, agora no plural, passariam progressivamente a constituir a designação alternativa à CUF, para identificar esse universo empresarial e os seus interesses e culturas. (…) Jorge, cerca de sete anos mais velho, o presidente, o 'número um' na representação institucional e na condução dos sectores mais tradicionais, das indústrias química e dos tabacos aos têxteis; José Manuel na liderança das áreas financeiras, banca e seguros, turismo, e tornando-se, progressivamente, no 'empresário do mar', concentrando as companhias de navegação e, sobretudo, as indústrias de reparação e construção naval".
Esta terceira geração manteve-se unida até à desagregação do universo CUF, após o PREC e as nacionalizações de 1975, tendo depois seguido caminhos autónomos na reconstrução empresarial e dando origem às duas quartas gerações de actividade. "Hoje, já não existem as instalações fabris da CUF no Barreiro, tão-pouco estaleiros na Margueira e a doca Alfredo da Silva… O que resta, então, do legado de Alfredo da Silva e dos seus herdeiros da Companhia União Fabril? Ficou o património imaterial de uma cultura e de uma forma de estar no mundo dos negócios", escreve Miguel Figueira de Faria.
A marca do avô Alfredo da Silva começou a ser impressa muito cedo na vida de José Manuel através da sua mãe, Amélia da Silva de Mello. Um dia, o filho teimava e dizia que não queria ir a uma festa no Barreiro. Logo foi repreendido pela mãe: "Vais, pois tens essa obrigação. É a vontade do teu avô." E lá foi ele, de calção curto e de boné, obedecendo à cultura familiar, que era determinada pela vida empresarial. O universo CUF estava no centro de tudo. E não era raro o neto acompanhar o avô nas visitas às fábricas. No seu 10.º aniversário, numa visita ao Barreiro, Alfredo da Silva fê-lo subir a uma mesa e disse então à assembleia presente: "Apresento-vos aqui o vosso futuro patrão", conta o investigador. "Antes de fazer um ano, José Manuel já tinha uma embarcação com o seu nome, um vapor de 1.229 toneladas adquirido para a frota da Sociedade Geral, em 1928, justamente baptizada de Zé Manel, diminutivo por que sempre o trataram carinhosamente. (…) Cumpria-se assim o princípio de Alfredo da Silva em conferir ao seu universo empresarial uma inequívoca marca familiar."
Um continuador, mas também um fundador. É assim que Miguel Figueira de Faria descreve José Manuel de Mello. Um homem que não gostava de falar de si e muito menos de enaltecer as suas conquistas, traços que marcaram a sua atitude "low-profile" perante a vida. "Em tudo o que fazia permaneciam, porém, duas qualidades congénitas: a inovação e a competitividade. Procurava sempre o melhor e, se fosse possível, ganhar todos os desafios em que se posicionava", escreve o autor, que percorre a vida do neto de Alfredo da Silva, desde as suas primeiras letras, ao gosto pela caça, passando pelo período do Estado Novo, pela revolução de Abril e pelas nacionalizações até à reconstrução do grupo e a sua evolução no país. Uma biografia de vida que é também um retrato do Portugal contemporâneo.