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Um leilão de netsuke históricos

O artista e ceramista Edmund De Waal vai leiloar parte da sua colecção raríssima de netsuke, esses pequenos objectos japoneses que fascinam o Ocidente há dois séculos.

03 de Novembro de 2018 às 09:00
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Não será fácil encontrar uma história tão fascinante como a da família do artista e ceramista britânico Edmund De Waal. Para os que ainda não tiveram a oportunidade de aceder a este pequeno pedaço biográfico de fascínio, a história está contada pelo próprio em "A Lebre de Olhos de Âmbar", publicada em Portugal pela Sextante. Na biografia familiar, De Waal recua até ao princípio do século XIX, em busca das raízes familiares recentes. A sua história é a de uma família de judeus de Odessa, hoje na Ucrânia, desde sempre ligada à banca e à arte, que demandou primeiro Viena, depois Paris e, finalmente, em datas mais recentes, Londres e o Japão.

O que De Wall vai partilhando é uma história incrível da Europa dos impérios e dos conflitos, e de uma família sempre acossada, apesar do seu poder financeiro e político. As páginas são uma permanente lição de História contada com o recurso ao ângulo particular, como deve ser.

Mas a biografia tem ainda um fio de ligação singular. O que une todos os antepassados do ceramista é a posse e a passagem de geração para geração de 274 netsuke japoneses. Os netsuke têm uma história curiosa de há mais de 100 anos para cá no mundo dos mercados da arte e das antiguidades. Se olharmos pelo lado da maioria, são quase desconhecidos. Se olharmos pelo lado de minorias substanciais espalhadas por todo o mundo, são objectos de culto fervoroso, e consequente valor monetário alto, até porque a quantidade é escassa.

De uma forma resumida, que não faz justiça à arte, os netsuke são pequeníssimas esculturas, geralmente com cinco a dez centímetros, em madeira, marfim ou metal, que reproduzem animais, figuras mitológicas e de folclore japonês e, por vezes, deuses. Quando surgiram no Japão, no período Edo, no século XVII ocidental, os netsuke serviam para atar e adornar as bolsas usadas por homens e mulheres para colocar os seus pertences pessoais, já que as roupas tradicionais japonesas não tinham bolsos.

A partir de uma certa data, que os especialistas anotam como o fim do século XVIII, os netsuke deixaram de ser objectos utilitários, ganhando o estatuto de formas de arte. O que valorizou estes objectos foi o extraordinário valor do trabalho dos artesãos, tanto no domínio da matéria, como na capacidade de escultura, dando expressões e formas aos netsuke que são verdadeiramente fantásticas. Hoje, o mercado dos netsuke assenta nas raridades originais, as criadas nos séculos XVII e XVIII, mas também em alguns escassos artesãos contemporâneos.

Parte da colecção da família de De Waal, uma das mais extensas e valiosas, das que se conhecem, será leiloada no próximo dia 21 pela Matthew Barton e pode ser vista www.matthewbartonltd.com. Edmund De Wall decidiu leiloar 79 da sua colecção de 274 netsuke, com um preço estimado de 40 mil euros. É uma rara ocasião para ver ao vivo e tentar a posse de alguns dos netsuke originais. 


Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.
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