Notícia
O mercado agita-se
Apesar de reservado, limitado e normalmente apático, o mercado nacional de arte tem tido recentemente algumas agitações de sinal positivo, provando a sua resistência.
14 de Janeiro de 2017 às 10:15
E, apesar de tudo, a "cena" da arte portuguesa vai tendo alguns dignos focos de agitação, entre consolidações estratégicas, criação de projectos de valor e o aparecimento de novas galerias. Um dos focos mais relevantes é a chegada da galeria 3+1 ao seu décimo aniversário, um feito na nossa paisagem.
A 3+1 tem uma história interessante porque reúne várias características pouco comuns nos nossos agentes da oferta. A mais saliente talvez seja a da recusa de limitar o portefólio de artistas às fronteiras. De facto, o que os curadores decidiram estrategicamente foi procurar artistas de valor, independentemente da sua pátria, preferencialmente com percursos recentes, e essa escolha tem dado os seus frutos, com vários dos artistas a terem crescido com a galeria nestes dez anos, e a conquistarem um lugar sempre em ascendência no mercado.
A outra característica da galeria é a sua aposta contínua e paciente nos artistas nacionais emergentes, o que tem feito também com que alguns tenham saltado para mercados internacionais. Uma terceira característica importante tem que ver com o facto de o projecto ser construído com risco, isto é, nunca recusando expressões artísticas de ponta, por vezes difíceis de serem aceites por um mercado conservador como o nosso.
A galeria saiu agora do Chiado, o que devia fazer pensar os urbanistas da edilidade, e abre no próximo dia 19 um novo espaço no Largo Hintze Ribeiro, junto à rua de São Bento. O artista escolhido é o australiano Sam Smith, que apresenta uma exposição de filme e escultura, centrada em duas vilas modernistas, construídas em 1920.
Ao mesmo tempo que a 3+1 segue o seu caminho, o ProjectoMap, acessível em projectomap.com, ganha finalmente lastro. Animado pela curadora e galerista Alda Galsterer, o projecto é uma singularidade no nosso meio, porque tem como objectivo a partilha de informação e conhecimento. Essencialmente, o projecto, assente na plataforma digital, pretende fazer o mapeamento dos produtores e criadores de arte portuguesa. Há uma secção discreta mas fundamental que é a referenciação dos artistas portugueses, com pequenas biografias, mas com um grande destaque imagético das obras principais. Parece secundário, mas é realmente fundamental, porque existe muito pouca informação deste tipo disponível. No entanto, a secção mais viva é a "Visitas de Atelier", um outro espaço aparentemente singelo, mas que, de novo, no nosso meio, tem muita importância. São pequenas entrevistas a um artista no seu espaço, mas o conhecimento partilhado é realmente muito cativante.
Finalmente, de entre os focos mais agitadores, há que assinalar a abertura da galeria Miiso, cuja presença digital é no Facebook. A Miiso aposta num segmento muito pouco valorizado no panorama nacional, o que é um dos sinais da imaturidade do nosso mercado, o das obras de valor modesto, maioritariamente de artistas emergentes, ou fora do circuito dominante. É uma aposta que exige grande cuidado na curadoria, porque a qualidade muitas vezes não é grandiosa, mas que faz todo o sentido, dada a quase ausência de oferta neste segmento. A Miiso tenta também introduzir expressões que são igualmente desvalorizadas no mercado nacional, como é o caso da cerâmica.
Enfim, vão acontecendo coisas engraçadas no muito reservado mercado nacional de arte.
*Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.
A 3+1 tem uma história interessante porque reúne várias características pouco comuns nos nossos agentes da oferta. A mais saliente talvez seja a da recusa de limitar o portefólio de artistas às fronteiras. De facto, o que os curadores decidiram estrategicamente foi procurar artistas de valor, independentemente da sua pátria, preferencialmente com percursos recentes, e essa escolha tem dado os seus frutos, com vários dos artistas a terem crescido com a galeria nestes dez anos, e a conquistarem um lugar sempre em ascendência no mercado.
A galeria saiu agora do Chiado, o que devia fazer pensar os urbanistas da edilidade, e abre no próximo dia 19 um novo espaço no Largo Hintze Ribeiro, junto à rua de São Bento. O artista escolhido é o australiano Sam Smith, que apresenta uma exposição de filme e escultura, centrada em duas vilas modernistas, construídas em 1920.
Ao mesmo tempo que a 3+1 segue o seu caminho, o ProjectoMap, acessível em projectomap.com, ganha finalmente lastro. Animado pela curadora e galerista Alda Galsterer, o projecto é uma singularidade no nosso meio, porque tem como objectivo a partilha de informação e conhecimento. Essencialmente, o projecto, assente na plataforma digital, pretende fazer o mapeamento dos produtores e criadores de arte portuguesa. Há uma secção discreta mas fundamental que é a referenciação dos artistas portugueses, com pequenas biografias, mas com um grande destaque imagético das obras principais. Parece secundário, mas é realmente fundamental, porque existe muito pouca informação deste tipo disponível. No entanto, a secção mais viva é a "Visitas de Atelier", um outro espaço aparentemente singelo, mas que, de novo, no nosso meio, tem muita importância. São pequenas entrevistas a um artista no seu espaço, mas o conhecimento partilhado é realmente muito cativante.
Finalmente, de entre os focos mais agitadores, há que assinalar a abertura da galeria Miiso, cuja presença digital é no Facebook. A Miiso aposta num segmento muito pouco valorizado no panorama nacional, o que é um dos sinais da imaturidade do nosso mercado, o das obras de valor modesto, maioritariamente de artistas emergentes, ou fora do circuito dominante. É uma aposta que exige grande cuidado na curadoria, porque a qualidade muitas vezes não é grandiosa, mas que faz todo o sentido, dada a quase ausência de oferta neste segmento. A Miiso tenta também introduzir expressões que são igualmente desvalorizadas no mercado nacional, como é o caso da cerâmica.
Enfim, vão acontecendo coisas engraçadas no muito reservado mercado nacional de arte.
*Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.