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O fim da idade cronológica?

Mais do que os anos vividos, é a forma como são percecionados que pesa na qualidade de vida, defendem os especialistas. São cada vez mais as pessoas que ignoram o conceito de meia-idade e mudam de vida e criam novos desafios numa fase em que, hipoteticamente, era suposto abrandarem. Uma mudança que apesar tudo, demora a ser acompanhada pelo resto da sociedade.
Susana Torrão 01 de Abril de 2023 às 11:00

Helena Caracol Araújo tinha 56 anos quando decidiu abandonar o ensino para se dedicar ao shiatsu. Joaquim Pedro já tinha ultrapassado os 40 quando concluiu a licenciatura. Yuri Binev era o mais velho da turma quando, aos 48 anos, se inscreveu no mestrado que o ajudou a transitar para uma nova carreira na análise de dados. Hoje,  Helena com 66 anos e Yuri e Joaquim com 52 anos, admitem que não pensaram na idade quando tomaram as decisões que lhes mudaram a vida. O conceito de meia-idade – ou terceira idade, no caso de Helena – é-lhes estranho, quando há ainda tantos projetos a realizar e energia para investir. E não estão sozinhos. Cada vez mais, a idade cronológica parece pesar menos na forma como vivemos e organizamos quotidiano. Mesmo quando há preconceitos que teimem em perseguir quem já ultrapassou as quatro décadas de existência.

 

Nem sempre a idade cronológica e a idade com que nos sentimos andam a par. "Mais importante que a idade cronológica é a idade percecionada por nós", explica a psicóloga Filipa Jardim da Silva, citando investigações que puseram em evidência que, mais do que a idade biológica, o modo como nos sentimos "é determinante para o nosso bem-estar geral e para a nossa saúde física e mental".

 

Quando a idade é só um número

 

"Eu não sei o que é isso da meia-idade. Tenho 52, isso quer dizer que posso ir até aos 104? Por mim, pode ser! Ainda tenho muitas coisas para fazer, muito para aprender, muitos projetos para pôr em prática", assume, com algum humor, Joaquim Pedro.

 

Professor do primeiro ciclo e educador de infância, Joaquim recorda que foi mau aluno no secundário, altura em que o maior atrativo da escola era o pátio, onde podia tocar guitarra com os amigos. "Aquilo que sempre me interessou foi a música e, em Almada, sempre houve – nos anos 80 e 90 ainda mais – um grande movimento de bandas", recorda. Quando terminou o ensino secundário não quis ter mais nada a ver com a escola. Trabalhou na arte xávega, num armazém, numa loja de ferragens, gravou discos com as bandas que integrou e percorreu os palcos do País e festivais como o Sudoeste.

 

O ponto de viragem deu-se com a entrada para um grupo de teatro amador, onde se estreou na "Medeia", de Eurípides. Passou a trabalhar de forma cada vez mais profissional, foi durante o curso de Expressão Dramática para Crianças, no Centro Artístico Infantil da Fundação Calouste Gulbenkian que conheceu a pessoa que o convidou para a IPSS do Seixal onde trabalha há mais de 20 anos, primeiro como animador cultural de um centro comunitário e depois num colégio. "Comecei a trabalhar com crianças e adolescentes vulneráveis, um trabalho de que gosto bastante. Quando passei a trabalhar no colégio, apercebi-me de que queria ter mais conhecimento científico sobre o modo como tudo funcionava", explica.

 

O facto de já ter ultrapassado largamente os 30 anos, ser casado e pai de dois filhos, não pesou minimamente quando se inscreveu na licenciatura, que recorda como uma experiência muito positiva. "Os meus colegas mais novos tinham uma grande expectativa de ter boas notas. Para mim, era uma questão de enriquecimento pessoal e fiz o curso com grande prazer. Foi uma altura de grande atividade criativa", conta. Optou pelo mestrado integrado e quando terminou já tinha ultrapassado a fasquia dos 40. Hoje, além do trabalho com crianças, dá aulas de Pedagogia e Didática da Expressão na escola superior onde se formou.

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