Não é certo que os crimes de corrupção estejam a aumentar, mas as estatísticas mostram que os atos eleitorais são um incentivo à denúncia destes casos. Quem o diz é João Paulo Batalha, vice-presidente da associação Frente Cívica e antigo presidente da Transparência Internacional Portugal. Nessa lógica, 2024 é um ano propício para o tema da corrupção encher páginas de jornais. Esta semana há mais um caso, na Madeira, que envolve o autarca do Funchal, Pedro Calado, e o presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque. Recai sobre eles a suspeita de favorecimento do grupo de construção civil AFA em vários contratos de obras públicas. "É a partir dos partidos que a corrupção se infiltra nas instituições", alerta o ativista. Agora, que estamos em campanha eleitoral, relembra a "nebulosa" sobre "o financiamento dos partidos". Esse, diz,"é o último tabu da corrupção em Portugal".
A corrupção está a aumentar em Portugal ou estes crimes estão a ser mais denunciados?
É difícil dizer. A estatística do Ministério Público mostra que os crimes são mais denunciados em anos eleitorais. Sobretudo em anos de eleições autárquicas, há muitas denúncias táticas que servem para tentar embaraçar os poderes. Estamos a ver essa dinâmica tornar-se nacional.
A "Operação Influencer" pode ter sido um desses casos?
Provavelmente não, porque é um inquérito aberto há vários anos. O que está em causa é outra coisa. Quando se começa a escrutinar uma decisão a nível autárquico ou governativo, surgem muitas suspeitas por arrasto, o que cria o problema dos megaprocessos e a necessidade de se irem separando os vários inquéritos. Isso revela que a corrupção pode, eventualmente, não estar a aumentar em número de crimes, mas está entranhada no centro do poder político. É a partir dos partidos que a corrupção se infiltra nas instituições.
De onde vêm as denúncias?
Vêm taticamente de adversários, de outro partido ou do mesmo partido, pois há fações internas.