Soavam as badaladas quando o Hospital da Guarda recebeu Guilherme Miguel, nascido de cesariana, no dia 1 de janeiro. Foi o bebé do ano de 2025, o primeiro a nascer em Portugal Continental. Seguiu-se o Denis, em Loures; a Carminho, em Leiria; o Gonçalo, em Penafiel; a Carolina, em Guimarães. Serão eles os primeiros portugueses da Geração Beta, que abrange todas as pessoas nascidas a partir de 2025.
Não é consensual a origem da tradição de dar nomes a gerações. Os termos nascem de forma orgânica, com base em estudos sociológicos, culturais ou de marketing, e tornam-se populares através de escritores, investigadores ou meios de comunicação ao longo do tempo. Uma das primeiras referências documentada a uma geração surgiu com a escritora e poetisa Gertrude Stein. A norte-americana terá ouvido o dono de uma garagem em França falar da Geração Perdida, referindo-se a todas as pessoas que se tornaram adultas na altura da Grande Guerra. Stein relatou a situação a Ernest Hemingway, que usou depois o episódio na obra "O Sol Também se Levanta" (1926). O próprio Hemingway recordaria a conversa com Stein no seu livro de memórias "Paris é uma festa" (1964), publicado a título póstumo.
A época das guerras do século XX acentuou a necessidade de se identificarem gerações, para descodificar a forma como as pessoas interagiam com os eventos que as rodeavam. Na década de 1920 e 1930, sociólogos e historiadores começaram a explorar a ideia de que grupos nascidos em períodos específicos partilhavam experiências comuns que moldam os seus valores, comportamentos e visão de mundo.
Depois da Geração Perdida - que abrange as pessoas nascidas entre 1883 e 1900 -, veio a Geração dos Progressistas, relativa a quem nasceu entre 1901 e 1927, gente que cresceu durante períodos turbulentos, como a Primeira Guerra Mundial, a gripe espanhola e os primeiros anos da Grande Depressão.
Seguiu-se a Geração Silenciosa (entre 1928 e 1945), associada a um comportamento mais reservado, disciplinado e conformista, com as pessoas muitas vezes adaptando-se às normas sociais em vez de contestá-las. Ganhou o nome Silenciosa, porque muitos a consideram menos vocal em relação a causas sociais, comparada com as gerações posteriores. Será a geração mais antiga que ainda hoje vive, através dos idosos de 80 anos ou mais.
Desde o pós-Segunda Guerra até à Geração Beta, em 2025, o estudo das gerações popularizou-se e acentuou-se, ganhando espaço na cultura popular. Contudo, o surgimento da tecnologia acelerou várias mudanças da sociedade e tornou cada vez mais difícil catalogar gerações. "Rótulos geracionais são úteis, desde que se entenda as suas limitações", afirmou, em entrevista à NBC, Jason Dorsey, autor de "Zconomy: How Gen Z Will Change the Future of Business - and What to Do About It". O investigador defende que é sempre importante manter a perspetiva. "Os rótulos ajudam, no início, a criarmos um entendimento partilhado. Mas somos todos indivíduos."
O que se espera agora da Geração Beta? Filhos de Millennial e Gen Z já nasceram num mundo pós-pandemia. Muitos chegarão ao século XXII. A inteligência artificial dominará a sua existência e viverão as consequências realmente nefastas das alterações climáticas. Mas a Geração Beta ainda não foi formalmente definida por uma pessoa ou grupo específico. O termo é mais uma extensão natural da nomenclatura usada para a Geração Alpha. Por enquanto, tudo o que falarmos sobre os Guilhermes, Carminhos ou Gonçalos permanecerá apenas no campo da especulação.
Boomers (1946-1964)
O fim da Segunda Guerra Mundial, no século passado, trouxe o chamado "baby boom". Os soldados regressaram a casa, a economia cresceu e avanços vários na saúde fizeram disparar a taxa de natalidade. A geração nascida nessa época foi, assim, apelidada de Boomers por sociólogos e economistas na década de 1960. Cresceram num período de prosperidade económica e foram fortemente influenciados pelo crescimento da rádio e televisão. São, contudo, algo adversos a avanços tecnológicos mais recentes. Na juventude, os Boomers impulsionaram movimentos culturais como o rock dos anos 60 e protestos sociais pelos direitos civis, o feminismo ou a oposição à Guerra do Vietname. É deles a famosa expressão "Make love, not war". Hoje ocupam cargos de liderança nos países e nas empresas ou estarão já à beira da reforma, sendo o seu envelhecimento um dos maiores desafios para os sistemas de pensões e saúde.
X (1965-1980)
São muitas vezes chamados de "Geração Sandwich", presos entre Boomers e Millennials. O conceito Geração X foi popularizado pelo autor Douglas Coupland na obra "Generation X: Tales for an Accelerated Culture" (1991). Antes disso, o termo já tinha sido usado por sociólogos como Charles Hamblett e Jane Deverson nos anos 1960. Contudo, é Coupland o autor creditado por consolidar o conceito. São frequentemente descritos como independentes, resilientes e céticos. Cresceram numa época de avanços tecnológicos, como os primeiros computadores pessoais e os videojogos. Muitos experimentaram a separação dos pais, já que o divórcio se tornou mais comum. Talvez por causa disso, são uma geração descrita como autónoma e adaptável. São também a última com uma infância sem internet e redes sociais. No mercado de trabalho, valorizam autonomia, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e pragmatismo. São também os pioneiros do empreendedorismo digital. Em Portugal, foram também apelidados de "Geração Rasca", uma expressão de Vicente Jorge Silva.
millennials (1981-1996)
O termo Millennials foi criado por Neil Howe e William Strauss no final dos anos 1990. Os autores previram que esta geração, nascida em torno do início do milénio, seria marcada por mudanças tecnológicas e culturais significativas. É também conhecida por Geração Y, mas os investigadores dividem-se em relação ao período abrangido. Há quem considere que os Millennials englobam todas as pessoas nascidas até ao ano 2000. É uma geração que cresceu com o espoletar dos telemóveis, com a massificação da internet e com o nascimento das redes sociais. Viveram o 11 de Setembro e a crise financeira de 2008. Embora sejam frequentemente rotulados como ansiosos ou impacientes, os Millennials também são reconhecidos pela sua criatividade, pelo espírito empreendedor e pelo desejo de criar um impacto positivo no mundo.
Z (1997-2012)
A nomenclatura desta geração surgiu por uma questão de lógica, não sendo creditada a nenhum autor. Depois do X e do Y, vem o Z. O termo foi assumido e depois amplamente utilizado por investigadores e especialistas de marketing a partir dos anos 2010. É uma geração que cresceu no mundo digital, com "smartphones", redes sociais e acesso instantâneo à informação, tornando-os nos primeiros verdadeiros nativos digitais. Diferente dos Millennials, a Geração Z já nasceu em contexto de crise económica e instabilidade global, o que lhe conferiu uma visão mais pragmática do futuro. São mais cautelosos financeiramente e valorizam empresas alinhadas com seus princípios. Socialmente, são comprometidos com causas como a sustentabilidade ou a igualdade de género. Preferem marcas autênticas e transparentes e são mais críticos em relação ao consumo tradicional, optando por empresas com responsabilidade social. No trabalho, esperam flexibilidade, diversidade e equilíbrio entre vida pessoal e profissional. São os principais utilizadores de plataformas como o TikTok e o Instagram.
Alpha (2013-2025)
O termo Geração Alpha é atribuído a Mark McCrindle, demógrafo australiano, em 2008. O investigador escolheu a letra grega "Alpha" para simbolizar um novo começo, já que a Geração Alpha é a primeira nascida inteiramente no século XXI. São hoje crianças num mundo hiperconectado, e os seus pais - maioritariamente Millennials - são muitas vezes adeptos da educação positiva, preocupados com o excesso de ecrãs e com uma alimentação equilibrada. Diferente das gerações anteriores, os Alpha têm contacto com tecnologia desde os primeiros anos de vida. Na escola, é uma geração que aprende de forma mais interativa, mas cujo percurso escolar foi interrompido pela pandemia de covid-19. Quanto ao consumo, valorizam experiências digitais e produtos inovadores. Socializam em jogos como "Roblox" e "Fortnite". No futuro, viverão em pleno a era da inteligência artificial.