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Alta relojoaria: A era da moderação

A alta relojoaria esteve em Genebra no Salon International de la Haute Horlogerie. Depois de uma série de más noticias nos últimos anos, o sector deve estabilizar em 2017. Foi uma edição com novidades mas, sobretudo, de parcerias e de reinterpretações de valores seguros. Há inovação, mas com calma.

28 de Janeiro de 2017 às 15:45
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Vive-se uma época de transição na política e na economia. E também na alta relojoaria, como mostrou o SIHH (Salon International de la Haute Horlogerie), o prestigioso salão de alta relojoaria, que se realizou em Genebra, e que coincidiu no tempo com o encontro de Davos. Depois de uma série de más notícias nos últimos anos, dos ataques terroristas na Europa, das oscilações na economia chinesa e na depreciação do yuan chinês (com implicações importantes na quebra de vendas em Hong Kong), o sector deve estabilizar este ano, segundo os analistas. Este é um negócio onde reina a emoção. Mas também a moderação. Por isso, este é um tempo de passos seguros.

Sabe-se que não vai haver uma vigorosa recuperação da crise, como sucedeu no passado. Para isso seria necessário um aumento dos rendimentos das famílias. Algo que não se verifica. Mas há uma forte expectativa: os EUA são o segundo maior mercado para a indústria relojoeira e muitos olhos viram-se para a política expansionista de Donald Trump. Mais rendimentos poderão trazer mais consumo. A visita de Bernard Arnault, da LVMH, a Trump nos primeiros dias de Janeiro, foi sintomática.

Enquanto isso, a SIHH cresce. Estiveram presentes no salão 30 marcas (um número recorde, desde a criação do salão em 1991), onde é visível um maior número de "independentes" no Carré des Horlogers. É um sinal: a maioria das grandes marcas foi fundada nos séculos XVIII ou XIX. As representadas no Carré des Horlogers nasceram quase todas no início do século XXI. A juntar a isso, verificou-se o regresso da Girard-Perregaux, depois da sua partida em 2013 para o Salão de Basileia e a estreia da "náutica" Ulysse Nardin. O grupo Richemont continua a ser o mais representado com as marcas A. Lange & Söhne, Baume & Mercier, Cartier, IWC, Jaeger-Lecoultre, Montblanc, Panerai, Piaget, Roger Dubuis, Vacheron Constantin e Van Cleef & Arpels. Entre outras presenças.

Foi um ano de novidades mas, sobretudo, de parcerias e de reinterpretações de valores seguros. Há inovação, mas com calma.

Há, ainda assim, lugar para a aposta em relógios a preços mais acessíveis, ao mesmo tempo que surgem propostas muito exclusivas: o fascinante La Grande Sonnerie da Greubel Forsey, cujo preço será de um milhão e 150 mil francos suíços (sem IVA), de que existirão apenas cinco unidades, e o 60/03/01 da Richard Mille (75 unidades), cujo preço será de 980 mil francos suíços, sem IVA. Ou seja, propostas acima do milhão de euros por exemplar. No meio da entrada de novos competidores no mercado global, sobretudo da China, com marcas como a Ne-Tiger, Uma Wang, Masha Ma ou Shanghai Tang, da mutação de gostos dos consumidores e da apetência dos relógios conectados, há ainda lugar a muita tradição atraente e inovação tentadora. Veja-se o HM7 Aquapod da MB&F, que tanto parece uma alforreca como o "deck" da "Star Trek", um produto típico de um laboratório criativo.

Outra novidade "independente" é a da Upwek com o seu novo UR-T8, com influências de design da saga "Star Wars". A inovação é sempre uma palavra de ordem para fazer renascer a alta relojoaria, depois de anos de incerteza e baixa de vendas. Mas também de regresso aos fundamentos com dinamismo. Este ano foi visível uma ligação muito forte à indústria automóvel. Ou seja, o tempo da velocidade encontrou-se com o da tradição. A Roger Dubuis associou-se à marca de pneus Pirelli, com relógios que integram o cauchu dos pneus de Fórmula 1. A Richard Mille celebra a parceria com a McLaren. E, noutro contexto, a Ulysse Nardin apresentou os seus relógios feitos a pensar na equipa Artemis Racing que participa na célebre America's Cup. A alta relojoaria olha para o desporto com fascínio.

Mas houve mais propostas muito elegantes e tentadoras: a Cartier com o Rotonde, a adaptação extrafina do Drive para homens; a A. Lange & Söhne com o seu sólido estilo clássico, apresentando o calendário anual ou o belo Lange 1 Phases de Lune; a Parmigiani com o Tonda 1950 Galaxy; a Girard-Perregaux com o Laureato 34; a Panerai com o imponente Radiomir 3 days Acciaio e com o BMG Tech; ou a Van Cleef & Arpels com o Fée Ondine, com os seus fascinantes automatismos à volta de uma fada.

Foi evidente também a saída da letargia. A proposta mais curiosa foi a apresentado pela H. Moser & Co, com o seu relógio de queijo. Para mostrar a sua tónica "Swiss Made...". Já a Vacheron Constantin foi para o seu território firme, com os seus mecanismos ultracomplicados. É o caso da Celestia Astronomical 3600, peça única que demorou cinco anos a desenvolver. A Audemars Piguet surgiu com o seu Royal Oak Calendário Perpétuo. A Jaeger-LeCoultre apostou muito forte no segmento feminino, com o Rendez-Vous. E a IWC apresentou a linha Da Vinci. Já a Montblanc apostou no TimeWalker. A Baume & Mercier vai para um sector de mercado onde os preços são mais tentadores com a My Classima, que consolida a linha Classima que representa cerca de 40% das vendas da marca, e cujos preços andam à volta de 1.000 euros. A Piaget, num momento de redução de referências relojoeiras, e onde há menos metais preciosos, com relógios menos caros, apostou forte em novas versões do Altiplano, um valor seguro, celebrando os 60 anos da linha com oito modelos extrafinos.

No SIHH, houve muitas boas e sólidas propostas. E muita moderação. Ainda assim os olhos continuam virados para o Oriente. Não tanto para a China, mas para o Japão, um mercado menos volátil e mais maduro e com potencialidades para crescer. Já estão esquecidas as lutas por causa do quartzo. E há, claro, a incógnita Estados Unidos. Um mercado sempre apetecível para a indústria suíça que tem muitas incógnitas pela frente. Mas que agora, tem mais certezas do que há um ano.
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